O setor de food service, que engloba todo alimento consumido fora de casa, vem se tornando peça fundamental para a economia brasileira – só em 2018, foram movimentados R$ 205 bilhões no país, segundo o Instituto Foodservice Brasil. E é justamente olhando para as oportunidades no setor que startups brasileiras e estrangeiras brigam para levar comida aos clientes, em casa ou no trabalho.
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Poucas décadas atrás, por volta dos anos 1980, o delivery no Brasil era praticamente dominado por pizzarias. Hoje basta pegar o celular, escolher o aplicativo de serviços e, depois de poucos cliques e não muito tempo, receber até requintados pratos elaborados por chefs.
O primeiro a olhar para essa oportunidade foi o iFood, que permaneceu sem competidores por alguns anos – até 2016, quando a americana Uber Eats, que já tinha fincado raízes sólidas no Brasil com o serviço de transporte de passageiros, importou dos EUA seu serviço de entrega de comida. Na sequência, em 2017, a atual bilionária Rappi chegou mostrando seu apetite. Teve também quem mal entrou no mercado brasileiro e já desistiu: caso da espanhola Glovo, que anunciou em março de 2019, após um ano no país, que interromperia as operações justamente por esse cenário competitivo. Talvez tenha faltado a eles jogo de cintura para pivotar e criar um serviço que não existia antes. Foi o que fez a paulista Apptite, que leva aos usuários do aplicativo comidas diferenciadas, feitas por chefs, com foco em personalização e diversidade. Todas elas querem conquistar o país – e o mundo – pelo estômago.
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Divulgação UBER EATS
No fim de 2016, o Uber Eats inaugurou sua operação brasileira, inicialmente na cidade de São Paulo. E causou furor, tanto por ser um novo player no mercado quanto por permitir que restaurantes que até então só atendiam in loco pudessem também chegar ao lar dos consumidores, no modelo delivery.
Depois de conquistar a capital paulista, o serviço passou a expandir de forma agressiva no país – hoje opera em 38 cidades. Nos últimos seis meses, pisou ainda mais fundo no acelerador e abriu uma nova área de atuação por semana, ritmo que pretende manter durante todo o ano. A meta é chegar a todos os estados do país.
“Para abrir um novo mercado, é preciso unir uma combinação de fatores”, conta Gabriela Manzini, diretora de comunicação do Uber para o Brasil. “Como nós já temos o Uber em todas as cidades em que vamos lançar o Eats, passamos a perguntar para nossa base de motoristas se eles têm interesse [de participar] – e também pedir indicações de motoqueiros. Na sequência, começamos a estudar os restaurantes da região para verificar se há demanda por delivery.”
Com a plataforma já desenvolvida e um amplo uso de inteligência artificial, o sistema oferecido pelo Uber Eats consegue proezas. Ao cruzar os dados entre padrões de pedidos de usuários, o app consegue sugerir novos estabelecimentos aos clientes que têm o mesmo gosto, os mesmos hábitos alimentares. Para os restaurantes parceiros, principalmente os de médio e pequeno porte, oferece dados que ajudam a identificar demandas e tendências, otimizando seu cardápio e seus ganhos.
O valor para manter o restaurante na plataforma depende da negociação, mas a taxa básica é de 30% sobre cada pedido. Já a taxa de entrega fica a cargo do usuário, que paga diretamente ao entregador. Cabe ao usuário também decidir se quer receber talheres e outros itens descartáveis. A meta do Uber Eats é reduzir pela metade a quantidade atual de plástico.
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Divulgação RAPPI
A startup colombiana Rappi começou a operar no Brasil há menos de dois anos, em julho de 2017. O negócio, fundado por três sócios em 2015, foi avaliado no último ano em US$ 1 bilhão, logo depois de receber um investimento de US$ 200 milhões.
Com um enorme time de entregadores, a Rappi leva ao consumidor praticamente tudo o que ele quer – basta para isso um clique na função “qualquer coisa”. Para os restaurantes cadastrados na plataforma, é um sistema full service: “É um canal de vendas, cuidamos da entrega e também acompanhamos o desempenho da loja”, explica o diretor de expansão e cofundador Ricardo Bechara. Mais do que um delivery de comidas, o app, segundo ele, “resolve toda a sua vida em uma tela”. Recentemente eles abriram a opção de o restaurante ter uma loja no aplicativo sem a necessidade de usar a base de entregadores da Rappi; nesse caso, o aplicativo funciona como um marketplace.
A empresa iniciou a operação brasileira em São Paulo e hoje está presente em mais 14 cidades: Belo Horizonte, Brasília, Campinas, Curitiba, Fortaleza, Florianópolis, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Ribeirão Preto, Rio de Janeiro, Salvador, São José dos Campos e São José do Rio Preto.
O objetivo traçado para este ano é continuar expandindo a área de atuação. Por isso, a empresa firmou parceria com o grupo de shopping centers Sonae Sierra Brasil e passou a oferecer o serviço de personal shoppers, que ficarão alocados nos centros de compra à disposição dos clientes, assim como no Eataly (em São Paulo) e em alguns outros supermercados – a taxa fixa de qualquer delivery para a primeira operação, no Parque Dom Pedro Shopping (em Campinas), é de R$ 9,90.
Preços competitivos são outro ponto importante na estratégia da Rappi. Um dos diferenciais oferecidos aos usuários é o Rappi Prime, uma assinatura de frete ilimitado pelo valor de R$ 19,90 por mês. Para manter os preços baixos, a tática é apostar no crescimento do bolo: “O número de usuários sempre cresce cerca de 30% por mês. Nosso desafio é fazer uma boa gestão para que o benefício tenha muito valor para o cliente”.
Quando pergunto se há espaço para mais, Bechara não pestaneja: “O mercado de food services tem muito potencial. A gente observa que mesmo nos mercados maduros eles estão crescendo. E o Brasil está nos holofotes”.
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Divulgação iFOOD
O iFood foi o primeiro a nadar de braçada no oceano azul dos serviços de entrega de comida no Brasil. A empresa nasceu dentro do Disk Cook, uma central telefônica que controlava a logística de delivery de diversos restaurantes em São Paulo e no Rio de Janeiro. Em 2011, quando migrou para o universo digital, foi rebatizada com o nome atual. Apesar de atualmente disputar a atenção do mercado com outros players, o CEO Carlos Eduardo Moyses é otimista: “Estamos em um momento interessante, a empresa não para de crescer até três dígitos a cada ano. Chegamos ao marco de 14,1 milhões de pedidos no mês de janeiro, o que representa algo próximo a meio milhão de pedidos por dia”.
Desde que a Movile (também dona das empresas Spoon Rocket, Rapiddo e Sympla, entre outras) tornou-se proprietária majoritária da plataforma, as rodadas de investimento vêm se tornando mais frequentes – e impressionantes. Em novembro de 2018, a empresa recebeu um aporte de US$ 500 milhões (o maior da história para uma empresa latino-americana do setor), o que deu fôlego “mais do que suficiente” para o iFood focar sua energia em inovações, tecnologia e inteligência artificial. E também para expandir exponencialmente sua equipe: 650 funcionários foram contratados nos últimos quatro meses, e eles calculam que até o fim de 2019 mais mil vagas sejam abertas. O número de usuários cadastrados já beira os 11 milhões, espalhados nos 27 estados brasileiros, México e Colômbia.
“Nossa competição é com o fogão. A gente quer que as pessoas parem de cozinhar. Isso demanda muito trabalho: ir ao mercado, lavar, preparar… Na velocidade da nossa vida, isso não cabe mais.” Para Moyses, isso tanto é verdade que muitos empreendimentos imobiliários já são construídos sem o espaço da cozinha – sem mencionar a crescente busca das pessoas por uma vida mais descomplicada e por atividades mais prazerosas. “Queremos trazer conveniência, e em alguns cliques a comida está na sua casa.”
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Divulgação APPTITE
Os sócios Guilherme Parente, Marcelo Monteiro e Roberto Kanitz perceberam a oportunidade de criar um app de food service após uma conversa com uma chef de cozinha que relatou a eles, quase num desabafo, a dificuldade de muitos profissionais da área de conciliar a fabricação dos alimentos com toda a logística necessária para vender seus produtos.
Esse foi o impulso inicial para que o trio fundasse, com investimento próprio, o Apptite em 2016. “A plataforma já nasceu como um aplicativo, um marketplace onde fazíamos a conexão do chef com o consumidor – mas não cuidávamos da entrega. A gente trabalhava também com cozinheiros mais amadores, com pessoas que não eram necessariamente profissionais de cozinha. Focamos bastante nesse perfil no começo”, conta Parente.
Nesses três anos, o negócio amadureceu e passou por três rodadas de investimento, onde foram arrecadados R$ 3 milhões. O Apptite também se tornou o responsável pelas entregas e passou a oferecer pratos – cerca de metade do total dos produtos ofertados na plataforma, que chegam à casa do cliente em até uma hora; os outros 50% devem ser encomendados com antecedência. “Temos 200 mil downloads, e os usuários ativos representam entre 20% e 25% desse número”, explica o fundador.
A demanda por cozinheiros que querem trabalhar na plataforma também cresce: são 30 a 40 solicitações novas por dia. Mas o processo de aprovação é rigoroso: primeiro o candidato preenche um formulário, depois é sabatinado pela equipe do app e na sequência a aceitação de seus produtos da plataforma é testada, momento no qual suas receitas são avaliadas por clientes ocultos (usuários fiéis do serviço), que passam um feedback sobre os pratos. Os chefs aprovados recebem 75% do valor total das vendas; os 25% restantes representam a comissão cobrada pelo Apptite.
“No momento, não tem mais ninguém ocupando esse espaço no mercado. Nós proporcionamos o acesso a uma comida diversificada e artesanal, e o chef não tem o custo fixo de um restaurante. O setor de food service é muito competitivo, mas ainda vai crescer muito”, aposta Parente.
UBER EATS
No fim de 2016, o Uber Eats inaugurou sua operação brasileira, inicialmente na cidade de São Paulo. E causou furor, tanto por ser um novo player no mercado quanto por permitir que restaurantes que até então só atendiam in loco pudessem também chegar ao lar dos consumidores, no modelo delivery.
Depois de conquistar a capital paulista, o serviço passou a expandir de forma agressiva no país – hoje opera em 38 cidades. Nos últimos seis meses, pisou ainda mais fundo no acelerador e abriu uma nova área de atuação por semana, ritmo que pretende manter durante todo o ano. A meta é chegar a todos os estados do país.
“Para abrir um novo mercado, é preciso unir uma combinação de fatores”, conta Gabriela Manzini, diretora de comunicação do Uber para o Brasil. “Como nós já temos o Uber em todas as cidades em que vamos lançar o Eats, passamos a perguntar para nossa base de motoristas se eles têm interesse [de participar] – e também pedir indicações de motoqueiros. Na sequência, começamos a estudar os restaurantes da região para verificar se há demanda por delivery.”
Com a plataforma já desenvolvida e um amplo uso de inteligência artificial, o sistema oferecido pelo Uber Eats consegue proezas. Ao cruzar os dados entre padrões de pedidos de usuários, o app consegue sugerir novos estabelecimentos aos clientes que têm o mesmo gosto, os mesmos hábitos alimentares. Para os restaurantes parceiros, principalmente os de médio e pequeno porte, oferece dados que ajudam a identificar demandas e tendências, otimizando seu cardápio e seus ganhos.
O valor para manter o restaurante na plataforma depende da negociação, mas a taxa básica é de 30% sobre cada pedido. Já a taxa de entrega fica a cargo do usuário, que paga diretamente ao entregador. Cabe ao usuário também decidir se quer receber talheres e outros itens descartáveis. A meta do Uber Eats é reduzir pela metade a quantidade atual de plástico.
Reportagem publicada na edição 66, lançada em março de 2019
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