Resumo:
- O sucesso da Under Armour começou em 2012 e atingiu seu ápice em 2015;
- A partir de 2017 a empresa começou a decair em lucros e a marca passou por denúncias de sexismo e falta de profissionalismo;
- Kevin Plank estava presente em toda essa jornada.
Em 2012, o futuro parecia promissor para o CEO da Under Armour, Kevin Plank. A marca de roupas esportivas que ele fundou nos anos 1990 estava enfrentando com sucesso a gigante Nike. Atletas de renome mundial como o esquiador olímpico Lindsey Vonn, o quarterback do New England Patriots Tom Brady e o astro de natação olímpico Michael Phelps assinaram contrato para serem patrocinados pela empresa de Plank em uma batalha entre titãs de roupas esportivas. “Somos a marca atlética desta geração e da próxima”, declarou Plank durante uma teleconferência em janeiro de 2012.
Pelos anos seguintes dessa época, parecia que os comentários de Plank tinham peso. A empresa assinou com estrelas como Steph Curry, do Golden State Warriors, e a dançarina de balé Misty Copeland. O preço das ações atingiu uma alta histórica em setembro de 2015, de US$ 104,10 por papel.
Porém, após anos de aumento de mais de 20% na receita anual, o crescimento diminuiu drasticamente em 2017 e continuou marcando dígitos cada vez mais baixos. A empresa relatou uma perda em abril de 2017 e tem lutado desde então. O preço das ações caiu 44% nos últimos três anos.
Portanto, as notícias da semana passada, de que o fundador Kevin Plank deixará o cargo de CEO depois de mais de duas décadas, talvez não sejam tão surpreendentes. Ele permanecerá como presidente e diretor de marca, para não se separar da empresa sediada em Baltimore. E ainda tem voz na empresa. “Como Plank possui de 65% a 70% dos direitos de voto das ações, ainda controla muito a estratégia da empresa”, disse Rick Patel, analista de varejo da empresa de banco de investimento Needham & Company. Além disso, Plank ainda possui 16% do estoque. A Forbes estima seu patrimônio líquido em US$ 1,9 bilhão.
Plank tentou mudar a empresa, trabalhando com sua equipe para reestruturar a Under Armour e gastando mais de US$ 300 milhões em várias mudanças desde 2017. Mas os esforços ainda não tiveram resultado. Em 2017, a receita cresceu apenas 3%, para US$ 5 bilhões, seguida de um ganho de 4% em 2018. Apesar dos esforços para crescer fora dos EUA, nos últimos dois anos, a Under Armour reduziu sua força de trabalho para 680 funcionários, incluindo funções abertas, de acordo com a companhia.
Plank teve sua primeira ideia de camiseta antitranspirante no campo de futebol da Universidade de Maryland nos anos 1990. Peso extra significava pior desempenho, disse Plank à Forbes em 2012, então, ele pegou o tecido encontrado nas roupas íntimas femininas e o transformou em um têxtil exclusivo que desenvolveu no porão da casa de sua falecida avó. Em 1996, ele fundou a Under Armour, tornou-a pública em 2005 e supervisionou a expansão das vendas de US$ 20 milhões em 2001 para US$ 5,2 bilhões em 2018.
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Os discursos de Plank agitavam seus funcionários. “As pessoas estavam dispostas a passar por cima dos problemas pela empresa e pelo o que ela representava, realmente acreditando em fazer e criar produtos legais e inovadores”, disse um ex-executivo que não quis ser nomeado.
Em meio aos esforços para expandir fora do vestuário esportivo básico, a Under Armour gastou pelo menos US$ 710 milhões até o final de 2015 adquirindo uma variedade de empresas, como o aplicativo de saúde MyFitnessPal. Com a negociação de ações em US$ 96,59 cada uma, em setembro de 2015, Plank valia US$ 3,9 bilhões. Mas o fardo de ser uma empresa multibilionária em um setor em constante mudança começou a custar caro. A partir de 2016, a Under Armour começou a perder participação de mercado para concorrentes como Nike e Adidas. Um motivo: não enfatizou os produtos atléticos de lazer e não competição, um fator essencial para o crescimento de seus concorrentes.
Em janeiro de 2016, o Morgan Stanley reduziu a meta de preço para a empresa de US$ 103 por ação para US$ 62, informou a Forbes na época. O banco de investimento disse que uma desaceleração do crescimento estava ocorrendo desde pelo menos a primavera de 2015. É o que mostram os documentos judiciais de um processo acionário iniciado em setembro de 2018. Em uma teleconferência de resultados em abril de 2016, Plank tentou garantir aos investidores e analistas que a empresa continuaria crescendo. “Este ano, esperamos que todos os trimestres cheguem a US$ 1 bilhão em receita, com base em nossa perspectiva atualizada de US$ 5 bilhões, um marco importante para a nossa marca”, disse ele. Isso não estava destinado a acontecer. A Under Armour registrou vendas de US$ 4,8 bilhões em 2016. Nesse mesmo ano, o diretor de merchandising e o diretor digital deixaram a empresa.
E os executivos continuaram fugindo. Em 31 de janeiro de 2017, a empresa anunciou que seu diretor financeiro, Chip Molloy, renunciaria após um período de 13 meses devido a “razões pessoais”. As ações despencaram 23% naquele dia. Alguns meses depois, a Under Armour registrou sua primeira perda líquida de uma empresa pública no primeiro trimestre de 2017. Naquele verão, a empresa anunciou um plano de reestruturação de US$ 130 milhões, e em agosto reduziu sua força de trabalho em 2% (280 funcionários) e depois em 3% (400 funcionários) em 2018.
Logo após a primeira rodada de demissões, Plank se dirigiu aos executivos seniores, de acordo com um ex-funcionário que tinha conhecimento da reunião. A moral estava baixa, não apenas devido às demissões. No início daquele ano, Plank havia anunciado seu apoio às políticas do presidente Trump durante uma entrevista na CNBC, o que incomodou alguns funcionários (depois ele emitiu uma declaração esclarecendo seus comentários). O CEO também estava se concentrando em projetos pessoais: a empresa de investimentos de sua família, a Plank Industries, estava desenvolvendo 235 acres em Baltimore como parte de um projeto de US$ 5,5 bilhões conhecido como Port Covington. Ele também abriu uma destilaria de uísque e um hotel de luxo em Baltimore no início de 2017. Durante a reunião de 2017, Plank admitiu que havia se afastado demais. Mas garantiu a todos que estava 100% focado na Under Armour. Após o encontro, um executivo foi até Plank e agradeceu sua liderança, de acordo com o ex-funcionário.
Mas os problemas continuaram. Três acionistas entraram com uma ação em 2017, alegando que Plank e outros executivos haviam enganado os acionistas sobre a situação financeira da empresa. Os casos foram consolidados em uma ação coletiva no mesmo ano. A ação foi julgada improcedente em julho de 2019, mas o recurso dos autores está pendente. Em seguida, o “Wall Street Journal” publicou, em novembro de 2018, alegações de sexismo e não profissionalismo na empresa, incluindo instâncias de executivos que teriam gasto verba de viagens a trabalho em clubes de strip-tease. Em uma declaração ao “Wall Street Journal”, Plank disse: “Nossos colegas de equipe merecem trabalhar em um ambiente respeitoso e fortalecedor. Acreditamos que há desigualdade sistêmica no ambiente de trabalho global e abraçaremos esse momento para acelerar a transformação cultural que já está em andamento na Under Armour. Nós podemos e faremos melhor”.
Durante um período de vários meses, no final de 2018 e no início de 2019, a Forbes conversou com uma dúzia de ex-funcionários, a maioria mulheres e minorias, que descreveram o ambiente de trabalho na empresa de 15 mil funcionários como um clube do bolinha. “Havia exercícios, jogos de pôquer, bebida. Os executivos esperavam que você ficasse até tarde e talvez saísse com eles”, disse uma ex-funcionária, que falou com a condição de que não fosse identificada. A Under Armour se recusou a comentar.
Talvez em resposta a alegações de comportamento sexista, em janeiro deste ano, a Under Armour anunciou que convocou a ex-chefe de recursos humanos da Harley Davidson, Tchernavia Rocker, para liderar sua estratégia humana e cultural como Chefe de Pessoas e Cultura. Atualmente, Rocker é a única executiva de nível C da empresa. Em setembro, a Under Armour contratou Stephanie Pugliese, presidente e diretora executiva da varejista de roupas de trabalho Duluth Trading Company, para ser presidente de suas operações na América do Norte. “Os vice-presidentes da Under Armour são considerados executivos, e o número de mulheres no nível na equipe é de 26%”, disse a empresa à Forbes. O número de mulheres na liderança da Under Armour sempre foi baixo, e continua sendo assim, apesar de 49% da força de trabalho da empresa ser de mulheres. Não tinha uma mulher em seu conselho de administração até 2012. Atualmente, o conselho executivo de dez pessoas tem duas mulheres.
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“Eles são todos carecas”, disse um veterano de longa data, criticando a composição de gênero do nível executivo da Under Armour. “Se a empresa tivesse uma mulher forte, agradeceríamos a Deus”, disse outro ex-funcionário. “Você participaria de uma reunião e seria uma das duas garotas de um grupo de 12.” “A empresa continua a se concentrar na diversidade nos papéis de liderança e tem mulheres líderes em funções em toda a empresa, incluindo Produto, Design, Cadeia de suprimentos, jurídico, RH, comunicações, marketing, digital e varejo”, disse um porta-voz da empresa à Forbes.
No ano passado, as receitas da Under Armour cresceram 4%, para US$ 5,2 bilhões, principalmente devido à sua presença crescente na Ásia e na América Latina. Mas a reestruturação teve um custo: a Under Armour reportou prejuízo líquido de US$ 46 milhões no ano. Sem os custos de reestruturação, a empresa teria registrado lucro de US$ 122 milhões. Até agora, em 2019, os resultados foram variados. A companhia terminou o primeiro trimestre com um lucro líquido de US$ 22 milhões, mas perdeu US$ 17 milhões no segundo trimestre. Os analistas de Wall Street prevêem que, para 2019, a Under Armour registre uma receita de US$ 5,39 bilhões. O banco de investimentos Macquarie espera que a marca registre US$ 122 milhões em lucro ajustado para o ano.
Apesar dos problemas financeiros da empresa, os investidores aplaudiram a notícia de que Plank está deixando o cargo de CEO e presidente da Under Armour, com Patrik Frisk, tomando as rédeas em 1º de janeiro de 2020. O preço das ações subiu quase 7% na última terça-feira e depois caiu pouco mais de 2% do dia seguinte.
“Estou confiante de que estamos apenas começando”, disse Plank em comunicado sobre a transição.
“Foi muito tempo de relacionamento com a organização. Dito isto, Plank é presidente executivo e será diretor de marca. Ele não vai a lugar nenhum”, disse Brian McGough, chefe do setor de varejo da Hedgeye Risk Management, uma empresa de pesquisa de mercado com sede em Connecticut. “Mas, no final, são boas notícias e um grande passo na direção certa”.
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