Resumo:
- Andrey Andreev, fundador do Badoo e detententor de aplicativos de relacionamento como Bumble, Chappy e Lumen é acusado de promover misoginia e racismo em sua empresa;
- Ex-funcionários denunciam vídeos pornográficos de colaboradores, assédio e festas regadas a drogas e prostituição;
- Badoo, o maior ativo da Magic Lab, holding dos apps de relacionamento de Andreev, contabiliza 60 milhões de usuários;
- A fortuna de Andrey Andreev foi estimada em US$ 1,5 bilhão pela Forbes;
- Após denúncias publicadas pela Forbes, empresa diz buscar investigar e solucionar casos.
Mesmo para uma reunião de negócios vespertina, Andrey Andreev, o maior magnata dos relacionamentos online do mundo, veste-se como se estivesse indo a uma boate: jeans pretos, jaqueta preta e sua marca registrada, uma camiseta Prada branca sob medida. “Tenho centenas, a maior coleção de camisetas Prada brancas do mundo”, diz o empresário de 45 anos de idade.
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Como é segunda-feira de Páscoa em Londres, um sonolento feriado bancário, nossa entrevista se transforma em uma excursão de quase cinco horas pelos restaurantes, cafés e lojas de chá preferidos dele em Covent Garden e Bond Street. Andamos por fileiras de patos de Pequim dependurados no restaurante Novikov e examinamos garrafas de Borgonha de US$ 66 mil na Hedonism Wines. No HIDE, detentor de estrelas Michelin, ele gesticula em direção a uma parede de carvalho claro. “Quero mostrar uma coisa”, diz ele, apontando para um trinco difícil de enxergar. A parede acaba se revelando uma porta. Atrás dela, há outro conjunto de portas, estas de aço. As portas dão para um elevador profundo, grande o suficiente para acomodar confortavelmente dois SUVs pretos. Andreev entra. “Então, você pode simplesmente vir da rua dirigindo e evitar ser visto, entende?”
A ironia não poderia ser mais incisiva. O maior ativo de Andreev é o Badoo, aplicativo de relacionamento com foco na Europa e na América Latina que, com 60 milhões de usuários, é um dos maiores do mundo. O mais movimentado, no entanto, é o Bumble, aplicativo de relacionamento voltado a empoderar as mulheres e oferecer a elas um ambiente mais seguro.
“Entendi e vejo que precisávamos atrair mulheres para a plataforma, mas como?”, indaga Andreev. “Precisávamos criar um lugar seguro, onde todas as mulheres do planeta se sentissem bem à vontade.”
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Isso representa um grande problema para o Bumble. Whitney Wolfe Herd lançou o Bumble em uma das grandes façanhas recentes de vingança corporativa. Ela já tinha processado o Tinder, do qual havia sido uma das primeiras executivas, por assédio sexual, alegando que seu ex-chefe e ex-namorado enviou ameaças e mensagens de texto depreciativas e que a empresa a privou do título de cofundadora. A empresa negou qualquer ilícito. (O processo foi objeto de um acordo rápido e confidencial, em um montante que a Forbes informou estar na casa de US$ 1 milhão; em retrospecto, o mais importante foi o fato de o acordo não incluir uma cláusula de não concorrência.) Em três anos, ela tinha repetido o crescimento histórico do Tinder e virado um de seus concorrentes mais fortes.
Mas o Bumble é uma cria tanto de Andreev quanto de Wolfe Herd, e ela o reconhece como seu sócio fundador. Foi Andreev quem procurou Wolfe Herd logo após o processo, sugerindo que colaborassem. Foi Andreev, destaca Wolfe Herd, quem pressionou por um aplicativo de relacionamento voltado às mulheres (no Bumble, é a mulher que toma a iniciativa), em vez da rede social que Wolfe Herd havia proposto inicialmente. Foi Andreev quem investiu o dinheiro, tornando-se o dono principal (ele ainda detém entre 59% e 79%, contra os 20% de Wolfe Herd). E foi Andreev quem tirou total proveito do Badoo para que o Bumble pudesse entrar no mercado com força. “Acho que eu não seria capaz de suportar um monte de homens me julgando naquele momento… Eu poderia ter feito uma arrecadação com amigos e parentes e conseguido o dinheiro”, Wolfe Herd disse à Forbes em 2017. “O que mais pesou foram o conhecimento e a infraestrutura dele.”
A sede do Bumble pode estar nominalmente em Austin, no Texas, mas a infraestrutura, o motor da empresa, fica no escritório de Londres, onde estão a engenharia e o desenvolvimento de produtos – e onde surgiu uma série de denúncias de arrepiar os cabelos. Wolfe Herd ditou recentemente um diário de trabalho semanal para o New York Times, que chamou o texto de “Combatendo a misoginia uma marca do Bumble por vez”. Todavia, segundo ex-funcionários do Badoo, o Bumble tem um problema de misoginia em sua própria empresa controladora, e seu sócio fundador, com quem ela diz falar de duas a cinco vezes por dia, está bem no meio disso.
Nascido e criado em Moscou, Andrey Andreev se lembra de mexer sempre nos componentes elétricos de rádio do pai, que era físico. Ele conta que, aos 12 anos, montou um rádio amador tosco que lhe permitia conversar com estranhos ao redor do mundo. Sua primeira conversa, durante a Guerra Fria, foi com alguém dos EUA. “O cara [na outra linha] disse: ‘sou de Nova York’, e eu mal pude acreditar. Pensei: ‘você está brincando’.”
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Ele cursou a Universidade de Moscou por menos de um ano antes de abandonar os estudos, aos 18 anos. A Cortina de Ferro tinha caído havia pouco tempo e ele queria conhecer o mundo. Ele acabou em Valência, na Espanha, criando e vendendo por valores baixos várias startups – como a Virus, uma loja online que vendia computadores e acessórios para usuários russos da nascente Internet, e a SpyLog, uma ferramenta de software para rastrear os visitantes do site.
Então, em 2002, ele criou a Begun, empresa que ajudava os anunciantes a direcionar os anúncios online, o que chamou a atenção da empresa de investimentos russa Finam Holdings. “Na época, Andreev não era um jovem desconhecido”, explica Leonid Delitsin, analista da Finam. “Já estava entre os pesos pesados da Internet na Rússia.” A Finam adquiriu 80% da Begun no final de 2003, transação que, segundo Andreev, tornou-o milionário. Ele teria vendido o restante à Finam em 2004.
Finalmente dono de alguma riqueza, Andreev decidiu encarar o florescente universo dos relacionamentos online. Em 2004, ele lançou o Mamba, um site de relacionamento bem despojado, voltado a usuários russos. Na época, o Match.com era o maior serviço de relacionamento online do mundo, mas não havia sido lançado na Rússia.
O Mamba era gratuito, mas os usuários tinham a opção de pagar para colocar seu perfil em destaque no site. A Finam Holdings voltou a procurá-lo e investiu US$ 20 milhões em uma participação de 90%; Andreev vendeu o restante a ela em 2006 por um valor não revelado.
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Em 2005, Andreev passou a permanecer mais tempo em Londres, instalando-se em Covent Garden. Aproveitando o sucesso do Mamba, Andreev lançou lá o Badoo em 2006 – um ano antes do lançamento do iPhone –, com a intenção de alcançar clientes na Europa e além. (Nesse ínterim, ele obteve cidadania no Reino Unido e em Malta.)
Desde o princípio, Andreev alicerçou a estrutura corporativa do Badoo em várias entidades no exterior. Em outubro de 2007, ele fundou a empresa controladora Worldwide Vision Ltd. nas Bermudas, presumivelmente para reduzir sua carga tributária (Andreev nega isso e afirma que a empresa não comenta sobre suas subsidiárias). A Worldwide Vision e Andreev criaram, então, uma dúzia de subsidiárias nos EUA, Reino Unido e Chipre, a maioria das quais controla os quatro aplicativos de relacionamento dele: Badoo, Bumble, Chappy (aplicativo de relacionamento gay lançado em 2017) e Lumen (lançado no ano passado para o público maior de 50 anos). Em junho, ele criou a Magic Lab como uma holding dos aplicativos de relacionamento.
De início, Andreev diz que as reuniões do conselho da Worldwide Vision são realizadas em Malta, onde o imposto corporativo pode ser de meros 5%, depois diz que eram realizadas nas Bermudas. A explicação dele: Malta é onde a empresa desenvolve a propriedade intelectual.
“É uma estrutura de evasão fiscal bastante comum”, diz Tommaso Faccio, especialista em impostos da Comissão Independente para a Reforma da Tributação Internacional das Empresas, um think tank. “A menos que haja um aspecto tributário nisso, por que você criaria uma estratégia para sua empresa através de Malta?”
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Os documentos em que o Badoo deu entrada junto ao governo britânico também mostram outra entidade, a Rimberg International Corp., sediada nas Ilhas Virgens Britânicas (onde não há imposto corporativo), com Andreev como dono principal. Andreev insiste que essa entidade não tem nada a ver com seus aplicativos de relacionamento.
“Parece uma bagunça, mas é de propósito”, diz um ex-executivo de alto escalão. “A empresa faz isso para escapar dos impostos.” Andreev nega.
“Quando as funcionárias se manifestaram, as preocupações delas foram ignoradas ou minimizadas”, acrescenta ela, censurando o “clima misógino”.
Em 2010, o Badoo lançou seu aplicativo móvel para iPhone, e a ideia de Andreev finalmente encontrou a ferramenta certa. No ano seguinte, de acordo com um ex-executivo, a empresa passou de 20 milhões de usuários a 100 milhões em quatro meses, principalmente na Europa e na América Latina, e faturou US$ 200 milhões. (Pelas estimativas da Forbes, o Badoo obteve pouco mais de US$ 300 milhões de faturamento no ano passado.)
Enquanto o Match.com exigia que os membros pagassem uma assinatura mensal (a partir de US$ 34,99 em 2010), a inscrição no Badoo sempre foi gratuita para ver e enviar mensagens a outros usuários; ele foi pioneiro em compras dentro do aplicativo, cobrando recursos especiais dos usuários – por exemplo, um dólar, um euro ou uma libra para colocar um perfil no topo das listas de pesquisa ou para enviar mensagens a mais de dez usuários. “Naquela época, realmente não era necessário ter dinheiro”, conta Andreev. “Bastava você criar um produto, e ele bombava.”
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Simultaneamente a esse crescimento, o Badoo começou a ficar conhecido pelas festas de arromba. Um ex-funcionário se lembra de ter visto fotos de um encontro com “metade da empresa” na casa de uma pessoa. “Estava todo mundo pelado, cheirando carreiras de cocaína, e estavam mandando essas fotos pelo sistema interno de e-mail.” Os bacanais, registrados em fotos e vídeos que eram compartilhados por meio de uma lista interna de e-mails dedicada a “festas, coisas não de trabalho”, tornaram-se frequentes, segundo o ex-funcionário. Um grupo fechado no Facebook que reúne cerca de 200 ex-funcionários do Badoo também contém referências aos encontros.
“Eu me pergunto se o pessoal atual do Badoo sabe das festas com prostitutas e cocaína em todos os escritórios deles”, lê-se em uma mensagem do grupo.
“Tenho saudade da época de festas embaladas por cetamina no Badoo”, escreve outro ex-funcionário.
Pelo que dizem, Andreev não ia a essas festas nem participava da lista de e-mails. Porém, segundo um ex-engenheiro que trabalhou em estreita colaboração com Andreev, este sabia de tudo e permitiu que a lista de e-mail continuasse, apesar das objeções dos executivos recém-chegados. A lista acabou sendo encerrada em setembro de 2011. Andreev nega ter conhecimento disso.
O mais preocupante: vários ex-funcionários dizem que os comportamentos no escritório eram de hostilidade e discriminação para com as mulheres.
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“Quando eu dirigia o marketing da empresa, me disseram para agir de forma atraente para os investidores e deixar os candidatos ‘com tesão’ para trabalhar no Badoo”, conta Jessica Powell, diretora de marketing do Badoo de 2011 a 2012, em um e-mail. “Uma vez, me pediram para fazer massagem em um candidato a designer.” Ela diz que se recusou, acrescentando que “eram feitos comentários sobre a aparência das funcionárias corriqueiramente”.
“Quando as funcionárias se manifestaram, as preocupações delas foram ignoradas ou minimizadas”, acrescenta ela, censurando o “clima misógino”.
“Discordou do Andrey? Você era chamada de ‘cyka’ (cadela em russo)”, escreve Powell.
A cultura grosseira do Badoo ajudou a inspirar Powell a escrever The Big Disruption, um romance satírico publicado em abril passado. Em um artigo de apresentação do livro no site Medium, ela menciona ter trabalhado para Andreev, que “me perguntou se deveríamos distribuir vibradores como material promocional da empresa ou pensar em transformar nossa plataforma de redes sociais em um clube de sexo anônimo. (Chegamos a anotar isso no quadro branco)”. Andreev reage: “Existem muitas maneiras de promover um livro de ficção para atrair a atenção, e a Jessica é uma profissional de marketing muito talentosa”.
“Para progredir naquela empresa, os funcionários (e sobretudo as funcionárias) deviam encarar seu trabalho basicamente como uma massagem no ego do fundador e dos altos executivos que tinham influência sobre ele”, acrescenta por e-mail a funcionária Alice Bonasio, diretora de comunicações e gerente de relações públicas do Badoo de 2011 a 2012. Ela diz ter sido demitida por não se encaixar bem no ambiente “patriarcal” do Badoo. “Naquela cultura, para as funcionárias progredirem, elas precisavam ‘entrar no jogo’ com tudo.”
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Em um caso, entrar no jogo significou assistir a um vídeo de um funcionário recebendo sexo oral de uma prostituta. Quatro ex-funcionários disseram ter conhecimento desse vídeo – e uma funcionária diz tê-lo visto a pedido de colegas de trabalho. Um porta-voz do Badoo descarta a ideia de que o vídeo existiu.
Embora a popularidade do Badoo tenha crescido na Europa e na América Latina no início da década de 2010, a adoção foi lenta nos EUA. Na época, a base de usuários norte-americana era formada por latinos, em grande medida. Andreev se queixava quando via muitos rostos escuros no aplicativo – ele achava que isso diminuía o valor da marca e a fazia parecer vulgar, diz um ex-funcionário que trabalhou em campanhas de marketing. “O Andrey sempre deixava claro que branco era melhor”, diz o ex-executivo de alto escalão. “Se alguém chegava um pouco atrasado ao escritório e era latino ou africano, ele fazia comentários do tipo ‘bem, o que se pode esperar?’, como se as pessoas não brancas não fossem esforçadas.” Andreev nega isso: “A diversidade está no centro de nossas marcas e valores”.
“Com o crescimento cada vez maior do Bumble, é de se perguntar por que eles não repensaram esse relacionamento de negócios”, comenta um ex-funcionário. “Há uma disputa [pelo] controle.”
Embora muitas das histórias mais chocantes sejam do período inicial de hipercrescimento da empresa, uma sequência de incidentes ocorridos no ano passado indica que os problemas permanecem. Segundo dois funcionários que saíram recentemente, Andreev queria contratar somente mulheres jovens e atraentes para funções administrativas e de marketing. “Lembro que havia uma candidata [a emprego], e o Andrey disse: ‘Não, ela é gorda. Você consegue imaginá-la falando com a imprensa e sendo a cara do Badoo?”, diz um ex-funcionário. Mais uma vez, Andreev nega.
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Em outra situação, em julho de 2018, uma funcionária acusou um funcionário de tocá-la de maneira imprópria durante uma festa de verão promovida pela empresa na Queen’s House, antiga residência real convertida em museu e espaço de eventos. O funcionário foi demitido em decorrência disso. Ele recorreu e, pouco depois, em um e-mail enviado à equipe executiva (inclusive a Andreev e Wolfe Herd), o departamento de RH reverteu sua decisão. Um porta-voz do Badoo diz que a empresa contratou uma firma externa de consultoria em recursos humanos, a qual concluiu que a demissão tinha sido rigorosa demais. Segundo um ex-funcionário, a explicação dada no e-mail do RH foi de que o comportamento do homem foi relevado em parte porque ele estava embriagado. O funcionário foi readmitido, mas foi transferido para um andar diferente quando a funcionária disse que não queria ter interações frequentes com ele.
Em março deste ano, uma funcionária acusou um funcionário de bullying e assédio. O Badoo novamente contratou a firma externa para iniciar uma investigação. O funcionário acusado foi suspenso durante a investigação, que levou três semanas e meia. Ele recebeu uma advertência por escrito, de acordo com a empresa. “As pessoas ficaram irritadas porque ele teve permissão para voltar”, diz um ex-funcionário.
Andreev, que ligou para a Forbes recentemente de Turim, na Itália – onde está filmando uma participação especial no terceiro filme da série Kingsman, franquia britânico-americana sobre uma organização de espionagem –, diz que sua empresa iniciou um processo com relação a esses casos, destinado a ser justo tanto com os acusadores quanto com os acusados. “Eu apoio a integridade dos processos e o resultado de cada um”, afirma ele. “Você está mal informado sobre as circunstâncias de ambos, e eu tenho uma documentação completa disso. Como qualquer assunto de RH é delicado e confidencial, não posso lhe dar mais detalhes.”
Não é de surpreender que o Badoo venha tendo uma grande rotatividade no nível executivo: nesta década, apenas três dos 11 executivos de alto escalão que a Forbes encontrou no LinkedIn duraram mais de 16 meses. No ano passado, entretanto, Andreev fez algumas alterações para abordar as questões levantadas aqui. Em junho de 2018, ele pôs um fim ao uso da nomenclatura baseada em estrelas pornô e, em novembro passado, enviou uma carta aos funcionários do Badoo declarando que a discriminação no local de trabalho não seria admitida. Em janeiro, em resposta às avaliações no Glassdoor que afirmavam que o sexismo, o racismo e a intolerância eram parte significativa da vida cotidiana no Badoo, a empresa enviou uma pesquisa a funcionárias do escritório de Londres perguntando se elas tinham sofrido ou presenciado discriminação no local de trabalho. Vários ex-funcionários do Badoo disseram que a cultura vem melhorando lentamente em Londres, com novos treinamentos de diversidade e inclusão, além de um aumento da licença-maternidade.
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Andreev sustenta que é colaborador e unificador, não racista ou sexista como outros alegam, e que seus aplicativos estão conectando cada vez mais pessoas ao redor do mundo. “Apoiamos as mulheres, as diferentes faixas etárias, grupos com diferentes preferências sexuais”, garante ele. “Nós reunimos tantos dados, que há um entendimento claro: já não se trata apenas de um negócio. É uma responsabilidade social.”
Ele está seguindo a linha do Bumble – conexão corporativa que torna essas alegações muito mais hipócritas e explosivas. Não apenas Andreev é dono majoritário de uma ferramenta de relacionamento que empodera as mulheres, como essa ferramenta está entrelaçada ao florescente mini-império do Bumble, centrado nas mulheres, que engloba um aplicativo de networking, um fundo de capital de risco que é financiado por Serena Williams e investe principalmente em fundadoras, uma futura linha de produtos para a pele e uma iniciativa que distribui doações a cineastas. A Forbes informou que o faturamento do Bumble subiu para quase US$ 180 milhões em 2018.
Wolfe Herd, que passou o período de formação do Bumble caminhando por Londres com Andreev durante dias e que voou do Texas para Londres cerca de 15 vezes somente nos quatro meses posteriores ao acordo no processo contra o Tinder, diz à Forbes que nunca presenciou comportamento tóxico na sede do Badoo. E ela dá um enérgico respaldo a Andreev. “Ele passou a fazer parte da minha família, virou um dos meus melhores amigos.”
Ela acrescenta: “O que vi pessoalmente no Andrey é um comportamento criativo e motivador. O Andrey nunca deixou de ser gentil e respeitoso comigo”.
Ele também ajudou a torná-la rica, com um patrimônio líquido superior a US$ 300 milhões, pela estimativa da Forbes. Com os aplicativos Chappy e Lumen, a força de engenharia de Andreev continua a tirar proveito da equipe de engenharia centralizada no escritório londrino e de todas as milhares de linhas de código e testes A/B que ela desenvolveu: se um recurso funciona bem em um aplicativo, pode ser facilmente incorporado e ativado em outro, e assim por diante. Contudo, ex-funcionários também questionam a dinâmica na qual o Bumble, segundo aplicativo de relacionamento mais usado nos Estados Unidos, não é muito mais do que um braço de marketing e estratégia.
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“Com o crescimento cada vez maior do Bumble, é de se perguntar por que eles não repensaram o relacionamento de negócios e o configuraram de modo que engenheiros e mais pessoal de produto também ficassem no escritório de Austin”, comenta um ex-funcionário. “Há uma disputa de poder por parte de quem quer controlar o produto.”
Além de exigir o apoio de Andreev, a independência seria difícil e onerosa. Wolfe Herd precisaria recrutar e treinar uma equipe de engenharia inteira, montar data centers e construir uma nova infraestrutura para o aplicativo. “Toda essa iniciativa provavelmente levaria mais de um ano, custaria mais de US$ 10 milhões e ainda teria uma alta probabilidade de fracassar”, explica Gene Sokolov, ex-diretor de engenharia do Badoo de 2011 a 2014.
A conclusão de um gerente de engenharia que deixou a empresa recentemente: “Realmente não há saída”.
Andreev anuncia investigação de denúncias
Andrey Andreev, fundador e principal dono dos aplicativos de relacionamento online Bumble e Badoo, disse, em comunicado ao site Business Insider na terça-feira, que sua empresa investigará as denúncias feitas por mais de uma dezena de seus ex-funcionários, em reportagem da Forbes, no sentido de que sua sede social em Londres é tóxica, especialmente para as mulheres.
“A empresa contratou uma organização independente, a Peninsula Group, para investigar formalmente denúncias de injustiça”, disse Andreev no comunicado. “Incentivamos qualquer pessoa que tenha informações de má conduta em nosso local de trabalho a entrar em contato com a Peninsula Group, que garantirá a proteção e a confidencialidade de todos os denunciantes. Comprometemo-nos agora a tornar públicas as descobertas da investigação e a implementar as recomendações em nossa empresa.”
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Ann Roberts, diretora de recursos humanos do Badoo, também enviou um e-mail aos funcionários na quarta-feira anunciando a investigação. “Daremos a esses ex-funcionários a oportunidade de que sua voz seja ouvida para que possamos descobrir a verdade a respeito dessas injustiças”, escreveu ela. “Cumpriremos as recomendações da investigação, cobraremos responsabilidade e mudaremos nosso modo de agir nos aspectos em que sejam necessárias mudanças.” O e-mail, visto pela Forbes, foi enviado a funcionários dos escritórios da empresa em Londres e Moscou, bem como a membros do quadro do Bumble.
Andreev é dono de pelo menos 59% (proporção que talvez chegue a 79%) do Bumble, fundado em 2014, que se promove como um aplicativo focado no empoderamento feminino e voltado a oferecer às mulheres um ambiente mais seguro para encontros. A fundadora e CEO do Bumble, Whitney Wolfe Herd, também respondeu às denúncias da Forbes, as quais se basearam em entrevistas com 13 ex-funcionários que trabalharam na sede do Badoo em Londres em diversos períodos entre 2010 e 2019. Também na terça-feira, ela disse ao site TechCrunch: “Todos nós do Bumble estamos aflitos com as denúncias sobre o Badoo (principal dono do Bumble), da época anterior ao nascimento do Bumble, conforme relatadas na matéria da Forbes. Fico triste e enojada por saber que alguém, de qualquer gênero, se sentiu marginalizado ou maltratado de qualquer forma em seu local de trabalho”.
As denúncias feitas pelos 13 ex-funcionários mencionam uma cultura de escritório sexista, inclusive atualizações internas de engenharia com o nome de estrelas da pornografia e um vídeo de grande circulação em que um funcionário recebe sexo oral de uma prostituta. Os ex-funcionários também denunciaram que Andreev fez comentários depreciativos no escritório sobre raça e aparência física. Andreev e a Magic Lab, sua empresa que controla seus quatro aplicativos de relacionamento, entre os quais o Badoo e o Bumble, negaram a maioria das denúncias da reportagem inicial da Forbes.
Depois que a Forbes publicou a investigação sobre o Badoo, uma ex-funcionária que assistiu ao vídeo revelou sua identidade no Twitter. “Sou eu a pessoa citada na matéria, que viu esse vídeo durante um evento social no escritório”, escreveu Jude Farrell, que trabalhou no escritório do Badoo em Londres de 2011 a 2012. Referindo-se à sua experiência no Badoo, ela acrescentou: “Foi a única vez, na minha vida, que me senti fisicamente ameaçada no local de trabalho. Sofro da culpa dos sobreviventes por não ter me manifestado na época. #BadooMeToo”.
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A empresa que Andreev contratou para conduzir a investigação, a Peninsula Group, é uma firma britânica de consultoria em recursos humanos e direito trabalhista. O Badoo já havia contratado a Peninsula Group anteriormente – inclusive em julho de 2018, para um caso de recursos humanos, quando uma funcionária acusou um funcionário de tocá-la de maneira imprópria durante uma festa de verão promovida pela empresa. O funcionário foi demitido, mas entrou com recurso. Um porta-voz do Badoo disse que a empresa contratou a Peninsula Group em decorrência desse recurso. A Peninsula concluiu que a demissão do funcionário havia sido rigorosa demais, e ele foi recontratado. O funcionário foi transferido para um andar diferente quando a funcionária afirmou que não queria ter interações regulares com ele.
Depois da publicação desta reportagem, um porta-voz da Magic Lab, controladora do Badoo, informou à Forbes que a empresa havia contratado a Doyle Clayton, para investigar as denúncias.
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