Os 10 casos mais urgentes contra a imprensa no mundo

8 de janeiro de 2020
ReproduçãoForbes

Dos dez jornalistas da lista, pelo menos cinco deles sofreram danos legais ou físicos

Daphne Caruana Galizia estava investigando empresas de fachada ligadas às elites políticas de Malta quando seu carro explodiu em um trecho tranquilo de estrada na pequena ilha no final de 2017. À medida que a lenta investigação sobre o descarado assassinato da repórter continua – mobilizando desde os empresários mais ricos do país até o chefe de gabinete do primeiro-ministro e, agora, o próprio primeiro-ministro, que planeja renunciar em 12 de janeiro – a One Free Press Coalition classificou o caso como o movimento de liberdade de imprensa mais urgente do mundo.

A trágica história de Daphne mostra o quão perigosa pode ser a mistura de riqueza e política para os reveladores da verdade que trabalham para trazer à tona a corrupção em todo o mundo. De fato, dos dez jornalistas da lista deste mês, pelo menos cinco sofreram danos legais ou físicos depois de seguir o caminho ilegal do dinheiro e relatar negócios obscuros – expondo tudo, desde a apropriação de uma praia pública para a construção de uma piscina privada até a criação de um aeroporto nas terras dos príncipes para que eles possam colher os lucros.

No entanto, andamentos recentes no caso de Daphne, incluindo uma série de entrevistas e prisões policiais de alto nível, oferecem sinais positivos de liberdade de imprensa. A repórter turca Pelin Unker, acusada de “difamação e calúnia”, teve sua ação julgada pouco depois de aparecer na lista dos 10 casos mais urgentes de liberdade de imprensa em março de 2019. A jornalista marroquina Hajar Raissouni, que foi acusada de sexo fora do casamento e aborto ilegal, comemorou recentemente sua união depois de ser libertada da prisão. No total, pelo menos 10 das 56 pessoas que apareceram em uma das 10 listas mensais mais urgentes do ano passado não estão mais na prisão.

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Ainda assim, a liberdade de imprensa é ameaçada constantemente. A Coalizão One Free Press – um grupo de três dúzias de organizações globais de mídia, incluindo a Forbes, comprometidas com a defesa de jornalistas sob ataque – continua chamando a atenção para essas ameaças.

Veja, a seguir, as dez ameaças mais urgentes à imprensa livre deste mês, publicadas em conjunto com o Comitê para a Proteção dos Jornalistas e a Fundação Internacional para a Mídia da Mulher:

1- Daphne Caruana Galizia (Malta)

Malta reconhece o assassinato da jornalista.

O primeiro-ministro de Malta, Joseph Muscat, anunciou que renunciará em 12 de janeiro por causa da atuação do governo na investigação sobre a morte de Daphne Caruana Galizia. A repórter investigativa do “Panama Papers” foi morta em uma explosão de um carro bomba em outubro de 2017. Dois anos depois, uma investigação pública foi iniciada e três membros da alta administração renunciaram sob acusações de envolvimento no assassinato, enquanto três homens estão atualmente detidos.

2- Esraa Abdel Fattah (Egito)

Jornalista egípcia em greve de fome torturada e hospitalizada.

Em 16 de novembro, surgiram notícias de que Esraa Abdel Fattah, do site proibido “Tahrir News”, havia sido hospitalizada em decorrência de uma greve de fome. A repórter e o coordenador de mídias sociais da publicação haviam sido detidos há dois meses, acusados ​​de pertencer a um grupo proibido de divulgação de notícias falsas e uso das plataformas sociais com o objetivo de atrapalhar a segurança nacional. Ela iniciou uma greve de fome em outubro para exigir uma investigação sobre as alegações de maus-tratos e tortura.

3- Ilham Tohti (China)

Sexto ano de reclusão do escritor chinês que cumpre pena de prisão perpétua.

Este mês, o erudito, escritor e blogueiro uigur (povo de origem turcomena que habita principalmente a Ásia Central) Ilham Tohti está cumpre seu sexto ano de uma pena de prisão perpétua. “Uighurbiz”, o site que ele fundou em 2006 com foco em questões sociais, foi fechado por suas ideias “separatistas” (acusação que Tohti negou) após sua prisão em 2014. A China é o principal carcereiro de jornalistas e permite que a esposa e os membros da família de Tohti o visitem por apenas 30 minutos a cada três meses.

4- Agnès Ndirubusa e a equipe de Burundi

Quatro repórteres do Burundi e seu motorista enfrentam 15 anos de prisão.

Quatro jornalistas e seu motorista foram presos no Burundi em outubro, enquanto cobriam confrontos na província de Bubanza. A repórter política sênior Agnès Ndirubusa, a repórter Christine Kamikazi, o repórter inglês Egide Harerimana e o fotojornalista Térence Mpozenzi continuam detidos, apesar de seu motorista, Adolphe Masabarikiza, ter sido libertado em novembro. Todos os cinco podem pegar até 15 anos de prisão se forem condenados pelas acusações de minar a segurança do Estado.

5- Aleksandr Valov (Rússia)

O paradeiro do jornalista russo preso é desconhecido.

O advogado de Aleksandr Valov não conseguiu contatá-lo ou localizá-lo. O editor-chefe e fundador do site de notícias local “BlogSochi” foi preso em 19 de janeiro de 2018 e, atualmente, cumpre uma sentença de seis anos por acusações de extorsão. Valov fez um vídeo ao vivo mostrando agressões da polícia durante sua prisão.

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6- Jesús Medina (Venezuela)

O julgamento do fotógrafo venezuelano detido é repetidamente adiado.

O julgamento do fotógrafo freelancer Jesús Medina foi repetidamente adiado, com a data atualmente marcada para 30 de janeiro. O único jornalista venezuelano preso, segundo o censo penitenciário de 2019 do CPJ, está em prisão preventiva em Ramo Verde desde agosto de 2018. Ele é acusado de associação criminosa e de incitação ao ódio.

7- Jamal Khashoggi (Arábia Saudita)

As demandas por respostas no assassinato de Khashoggi continuam.

A nova década chega sem uma investigação criminal independente sobre a morte do colunista do “Washington Post” Jamal Khashoggi no interior do consulado saudita de Istambul. O caso aconteceu em 2018 e os pedidos para investigar o papel do príncipe herdeiro saudita no “assassinato extrajudicial” foram ignorados pelos EUA e pela ONU – embora em dezembro um tribunal tenha proferido sentenças a oito indivíduos no que o CPJ chamou de “julgamento falso” e “zombaria da justiça”. O ano passado terminou com 26 jornalistas na prisão do país.

8- Masoud Kazemi (Irã)

Repórter cumpre pena enquanto o governo proíbe a internet.

Quando o Irã implementou uma proibição da internet em novembro, em resposta a protestos contra o aumento dos preços do gás, Masoud Kazemi ficou preso por acusações decorrentes de postagens no Twitter em 2018 sobre corrupção no governo. Editor-chefe da revista mensal “Sedaye Parsi”, Kazemi foi condenado em junho a mais de quatro anos e considerado culpado de espalhar informações erradas e de insultar o líder supremo e outras autoridades iranianas. Por mais dois anos, ele será proibido de trabalhar como jornalista.

9- Qazi Shibli (Índia)

O blecaute das comunicações atrasa o caso de um editor preso e com a saúde debilitada.

As prisões na Caxemira constituem os dois únicos casos de jornalistas presos na Índia, de acordo com o rastreamento do CPJ. E o desligamento contínuo das comunicações na região, iniciado em 5 de agosto, o mais longo já imposto em uma democracia, atrasou as audiências e atualizações dos membros da família. O editor de sites de notícias “Kin of Kashmiriyat”, Qazi Shibli, não conhecia seu paradeiro por mais de um mês após sua prisão em julho por supostamente reportar no Twitter sobre movimentos de tropas. Desde então, a família expressou sérias preocupações com sua saúde e contratou a ajuda de um advogado para pedir fiança.

10- Nariman Memedeminov (Rússia)

Jornalista freelancer cumprindo dois  anos e meio de prisão na Rússia.

Em outubro, um tribunal militar na cidade de Rostov do Don, no sul da Rússia, condenou Nariman Memedeminov a dois anos e seis meses de prisão por fazer chamadas públicas de terrorismo online. O caso levou à invasão da casa do jornalista freelancer em 2018 e sua consequente prisão. Sua cobertura condenatória incluiu julgamentos ao vivo de ativistas minoritários muçulmanos tártaros da Crimeia e entrevistas com familiares e advogados, desde que a Rússia anexou a Crimeia em 2014.

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