Após um pico nos downloads do serviço Zoom, o CEO Eric Yuan reservou um tempo para inscrever remotamente escolas para liberação de contas de seu software de videoconferência. Primeiro foi uma escola de prestígio no Vale do Silício, depois duas na área de Austin, no Texas.
“Eles me disseram que se conectariam à minha equipe e eu disse “não, farei isso por vocês”, disse Yuan, ao ser contatado pela empresa em sua casa de San Jose, na Califórnia, local que agora é o escritório dele por tempo indeterminado. “Eu mesmo liberei os acessos.”
À medida que a Covid-19 se espalha pelo mundo, levando cidades a quarentenas e fechamento de escolas, o Zoom emergiu como uma das principais ferramentas para manter as empresas em funcionamento e o aprendizado dos alunos. Na última quarta-feira, 343 mil pessoas baixaram globalmente o aplicativo, 60 mil somente nos EUA, segundo a empresa de inteligência móvel Apptopia. A Zoom não compartilha esses números e não comenta um relatório de terceiros.
E da noite para o dia, depois de remover o limite de tempo para conversas por vídeo usando o serviço gratuito da Zoom para regiões afetadas na China e em outros lugares, Yuan tomou outra medida para ajudar a atenuar o impacto do coronavírus: ele decidiu remover o limite para todas as escolas de ensino fundamental e médio afetadas no Japão, na Itália e nos Estados Unidos.
Alunos ou professores que preencherem um formulário online usando os endereços de e-mail da escola e foram verificados pela Zoom terão todas as contas associadas ao domínio dessa escola e também ganharão minutos de reunião temporários ilimitados. As contas básicas gratuitas também estão disponíveis mediante solicitação na Áustria, Dinamarca, França, Irlanda, Polônia, Romênia e Coreia do Sul, disse um porta-voz da Zoom. “Dado que muitas escolas de ensino fundamental e médio estão começando a fechar, decidimos oferecer acesso à Zoom a todas elas, no país, a partir de amanhã”, escreveu Yuan em um e-mail.
Essa generosidade não é novidade para Yuan, que era conhecido por conectar organizações sem fins lucrativos e outras instituições necessitadas com acesso gratuito pelas comunicações de vídeo online da Zoom desde que fundou a empresa em 2011. Mas agora sua liderança está assumindo uma importância global à medida que a plataforma se torna uma das ferramentas de software mais solicitadas para o funcionamento do home office.
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A Zoom não é a única ferramenta se beneficiar dessa tendência. Os analistas apontam para outros, como o serviço de compartilhamento de arquivos Dropbox, o negócio de assinaturas eletrônicas DocuSign e o de comunicações de emergência Everbridge, como óbvias empresas de nuvem que provavelmente terão um aumento no uso à medida que o mundo fica ainda mais online. Mas poucos têm tanto valor como a Zoom, cujas ações aumentaram 77% desde que foi aberta em abril de 2019, tornando Yuan bilionário. Na quarta-feira passada, a empresa registrou crescimento de 78% na receita ano a ano.
A Zoom também não é apenas o foco de Wall Street. No Twitter, tornou-se um tema viral. “Acabei de receber um e-mail de um professor: ‘Como lembrete, você precisa usar roupas durante as reuniões da Zoom’. As regras são feitas quando se tornam necessárias…”, disse um usuário do Twitter, que recebeu mais de 84 mil curtidas.
Com o aumento da demanda, surgiu outra pergunta: a Zoom pode acompanhar a demanda? “Sua plataforma está preparada para praticamente todas as turmas da faculdade nos Estados Unidos a usarem? Simultaneamente? Adicionando muitos amigos”, tuitou a acadêmica Adrienne Keene.
Yuan, o empresário que sabe melhor essa resposta, não fica perturbado. Ele já está trabalhando em novos recursos para a Zoom, focados no estilo de vida do trabalho em casa, de uma melhor iluminação de rosto a uma ferramenta de palestras para professores, enquanto continua liberando a ferramenta para escolas afetadas. Acima de tudo, ele argumenta que é realmente um ótimo momento para trabalhar na Zoom. “Sinto que da noite para o dia, esse é um dos catalisadores em que, em todos os países, todo mundo percebeu que precisava ter uma ferramenta como a Zoom para conectar seu pessoal”, diz Yuan. “Penso que dessa perspectiva, nos sentimos muito orgulhosos. Vimos que com o que estamos fazendo aqui, podemos contribuir um pouco para o mundo”.
Desde que a Zoom adotou política de home office, há quase duas semanas, Yuan aprendeu como se mantém uma ferramenta remota em tempo integral. Até agora, ele está muito feliz –embora um pouco desgastado pelo volume de trabalho. “Por um lado, gostamos de trabalhar em casa; estamos usando nossos próprios serviços”, diz Yuan. “Por outro, de alguma forma –talvez por causa da demanda recente, talvez por trabalhar em casa– temos mais reuniões no home office do que no escritório”.
Yuan diz que a Zoom começou a se preparar para grandes mudanças quando a Covid-19 interrompeu os negócios na China em janeiro. Naquela época, clientes como Walmart e Dell começaram a entrar em contato com preocupações, relembra, imaginando se seus funcionários locais seriam capazes de mudar em tempo integral para as comunicações através da Zoom. Antes da abertura de capital, a empresa havia treinado funcionários sobre as respostas a desastres naturais, embora não previsse que esse desastre seria uma pandemia. Os servidores da Zoom –distribuídos em 17 datacenters em todo o mundo, nos quais a plataforma opera sozinha– até agora conseguiram lidar com o aumento do volume de videoconferências e chamadas.
Nesses data centers, a companhia opera uma arquitetura em nuvem usando o dimensionamento automático, um método que monitora o uso de aplicativos e facilita a adição de mais poder computacional quando a demanda aumenta, e depois a recoloca para economizar custos quando a demanda diminui. Os data centers da Zoom foram configurados para lidar com aumentos de tráfego de 10 vezes o normal, ou 100 vezes, diz Yuan. “A parte bonita da nuvem é, você sabe, uma capacidade ilimitada em teoria”, diz ele. E empregando equipes de engenharia em todo o mundo, inclusive na China e na Malásia, a empresa tem talento técnico capaz de monitorar remotamente seus sistemas o tempo todo. Yuan diz que todas as imagens mentais da equipe técnica que deixa o sono para manter sua reunião semanal da equipe em funcionamento não são apoiadas pela realidade. “Trabalhar a noite inteira não é escalável”, diz ele.
A Zoom já está trabalhando em novos recursos a partir do feedback de usuários. Um seria uma ferramenta, inspirada em parte por aplicativos de consumo como Instagram e Snapchat, que forneceria um filtro que enquadra o rosto de um usuário com uma iluminação melhor ou com manchas desativadas. “Queremos dar um toque na sua aparência apenas a partir de um recurso”, diz Yuan.
Outro projeto que ganhou força veio do feedback de um professor que usou a Zoom para hospedar palestras para sua aula. O novo recurso focado nas aulas faria com que o vídeo de cada aluno aparecesse como se fosse filmado do mesmo ângulo, permitindo ao professor ver como os alunos estão reagindo –e quem está prestando atenção– como se estivessem fisicamente nas aulas.
Yuan não concorda com o ceticismo de repórteres como Sam Biddle, do “The Intercept”, que alertou recentemente que o software oferece “rastreamento de atenção” que marca os participantes que não têm o Zoom aberto na parte superior da tela por mais de 30 segundos. O futuro das chamadas de vídeo em casa é mais invasivo do que a vida no escritório? Para o criador, há uma distinção importante entre uma reunião on-line que você realiza em tempo real –talvez enquanto toma um café ou em trânsito– versus um ambiente de trabalho em casa. Lá, a equipe de apostas vai querer se ver. “Eu posso me sentir muito sozinho agora”, diz ele.
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Quanto a plataforma pode tirar proveito da calamidade é outro assunto delicado. Originalmente da província de Shandong, no leste da China, Yuan não tem família afetada pelo vírus, mas ele diz estar preocupado como qualquer pai que ainda deixa os filhos na escola. O empreendedor diz que a decisão de tornar o uso gratuito do Zoom ilimitado nas regiões afetadas foi unânime entre seus subordinados diretos. “Eu disse à equipe que, com qualquer crise como essa, não aproveitaremos a oportunidade para marketing ou vendas. Vamos nos concentrar em nossos clientes”, diz ele. “Se você for atrás por dinheiro, vai mergulhar em uma cultura horrível”.
A cultura é importante para Yuan, que criou a Zoom depois de executar a engenharia do produto da Cisco, o Webex. Isso deixa os analistas otimistas, mas incertos, a respeito de quanto a empresa pode se beneficiar, pois acredita-se que grande parte do novo uso está entre usuários gratuitos que podem ou não se converter em clientes pagantes ao longo do tempo. “Estamos sendo bons cidadãos corporativos”, diz Sterling Auty, analista do JPMorgan Equity Research. “Eles não querem tirar vantagem injusta. Estão procurando ajudar e achamos que a boa vontade é importante.”
Yuan se deixa empolgar com uma métrica de vaidade: seu ranking na loja de aplicativos revela que as pessoas acham o produto útil. Na última sexta-feira, a empresa ficou em terceiro lugar entre todos os aplicativos gratuitos da App Store da Apple, atrás apenas do TikTok e do Google. “É a primeira vez que você tem um aplicativo de negócios lá”, diz Yuan. “As pessoas estão entendendo.”
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