Lançar uma startup? Agora?!
Em um momento em que a maior parte do mundo está confinada, os mercados prevendo uma recessão e os consumidores gastando apenas com produtos essenciais, o lançamento de um novo negócio pode parecer a pior ideia.
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“Na verdade, achamos o momento perfeito, porque em tempos de crise, em tempos de desorganização, é aí que nascem algumas grandes ideias”, diz Ophelia Brown, cuja firma de capital de risco, Blossom Capital, acaba de lançar um novo programa de investimento anjo chamado Cultivate.
Lembre-se das últimas crises, ainda que financeiras, diz Brown. Em 2007-2008, vimos o início de Uber, Airbnb e Stripe, todas empresas que alcançaram o status de unicórnio (avaliações de US$ 1 bilhão de dólares) em uma década.
O tédio imposto pela quarentena poderia inspirar esse tipo de criatividade novamente. “O objetivo do tédio é nos forçar a pensar de maneira diferente e a criar soluções criativas”, disse Sandi Mann, autor do livro “The Science of Boredom” (“A Ciência do Tédio”, em tradução livre) e pesquisador da Universidade de Lancashire, ao jornal “The Sunday Times”.
Katka Letzing, cofundadora da Kickstart, uma aceleradora de startups com sede na Suíça, diz que tem visto uma maior criatividade desde o surto de Covid-19. “Tivemos alguns exemplos no ramo de entrega e serviços de saúde que prosperaram e terão um 2020 bastante produtivo.”
“No ramo de edtech (tecnologia educacional), tivemos startups no passado, mas ainda mais agora. Se você direcionar o olhar para as soluções realmente necessárias, acho que os investimentos continuarão nessa direção.”
De fato, minutos antes da publicação deste artigo, o braço de finanças corporativas do maior escritório de família da Europa, Stonehage Fleming Advisory, anunciou um investimento de US$ 10 milhões na rodada de série A da edtech BibliU.
Duas em cada cinco PME fecharam
Mas enquanto as empresas iniciantes têm pouco a perder, as que já estavam operando estão enfrentando incertezas muito maiores. No Reino Unido, duas em cada cinco pequenas e médias empresas fecharam temporariamente ou planejam fazê-lo no próximo mês e 7% fecharam permanentemente, segundo uma pesquisa dos sites “Be the Business” e “Opinium”.
“Para qualquer novo negócio iniciado nos últimos 6 a 12 meses, é altamente improvável que a disseminação do coronavírus e seu impacto tenham sido parte da análise de riscos ou dos planos de recuperação de desastres”, diz Oly Bell, cofundador da startup de edtech Xcademy.
Quaisquer fluxos de caixa já apertados agora são agravados por questões de financiamento. Globalmente, as rodadas de mais de US$ 10 milhões caíram 11% no primeiro trimestre de 2020, de acordo com a Crunchbase. O financiamento seed diminuiu 22%, diz a plataforma CB Insights e pode cair ainda mais, devido à demora entre iniciar e anunciar acordos.
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Por exemplo, a área de fintechs sofreu um declínio acentuado já neste ano. “Até mesmo o número de negócios diminuiu na comparação entre anos”, diz um relatório da consultoria Capgemini.
As empresas que administram a Enterprise Investment Schemes (EIS: um esquema do Reino Unido que fornece isenção de impostos para investidores em empresas em estágio inicial) viram seus clientes ficarem frios. “Há evidências crescentes de investidores se retirando de compromissos devido ao fechamento deste ano fiscal”, diz Mark Brownridge, diretor geral da Associação EIS.
Isso é especialmente preocupante para as empresas deficitárias ligadas ao financiamento de capital de risco. Muitas dessas empresas iniciadas durante crises financeiras globais, entre elas Uber e Airbnb, ainda não tiveram lucro. As startups mais recentes têm ainda menos chances de ter um balanço rentável.
Isso significa que elas provavelmente não são elegíveis para pacotes de suporte do governo. No Reino Unido, existem 30 mil startups, empregando 330 mil pessoas, que não se qualificam para medidas de suporte existentes de acordo com a campanha Save Our Startups (SOS). A França e a Alemanha ofereceram pacotes de suporte para startups, mas ainda assim algumas não irão receber o auxílio.
Mas mesmo aquelas que já garantiram financiamento para empreendimentos não estão seguras. O SeedLegals, um serviço de advocacia para startups, estima que 30% das folhas de contratos (um contrato não vinculativo de termos e condições de investimento) foram revogadas no Reino Unido.
As startups de viagens estão particularmente expostas, devido a medidas de bloqueio em países ao redor do mundo. A empresa de gerenciamento de viagens corporativas TripActions alcançou o status de unicórnio em 2018, mas agora demitiu centenas de funcionários. A Traveloka, outra empresa unicórnio e de reservas fez o mesmo na Indonésia, enquanto a cadeia de hotéis econômicos baseada na Índia OYO (que levantou US$ 1,5 bilhão em outubro) demitiu 5 mil pessoas em todo o mundo.
Ofertas baratas e disponibilidade de capital
Mas, com um conjunto de contas negativo e menos pessoas na folha de pagamento, algumas startups terão avaliações prejudicadas. Isso as torna mais baratas para os investidores.
Além disso, as empresas de capital de risco ainda têm grandes quantidades de “disponíveis”, ou fundos que foram levantados, mas ainda não foram investidos, graças a um 2019 proveitoso para o setor.
“Seja grato por esse surto de vírus acontecer em um momento em que o cenário econômico era muito forte”, diz Bell. “Investidores famintos” voltarão à procura de bons negócios em breve, acrescenta.
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Enquanto isso, os empreendedores precisam colocar em prática todas as grandes ideias que estão tendo, diz Brown. “Não queremos que os empreendedores não avancem com suas grandes ideias porque se preocupam com a disponibilidade de capital.”
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