SÃO PAULO (Reuters) – A seca já reduziu em torno de 10% o potencial do algodão na Bahia neste ano e trará perdas que estão sendo mensuradas em Mato Grosso, os dois maiores produtores no Brasil, mas o setor ainda espera por uma safra “muito boa” no país e com exportações firmes, à medida que o concorrente EUA é ainda mais castigado pela estiagem.
Na avaliação de exportadores, a safra brasileira ainda deve ter um crescimento de cerca de 10% na comparação com a temporada anterior, para cerca de 2,6 milhões de toneladas da pluma, mas, com a estiagem, o percentual de aumento não será proporcional aos 17% do avanço da área plantada apontados pelo governo.
“É um número bom, houve uma recuperação de área, a queda que está acontecendo é em função dos problemas climáticos. O algodão estava com preços bons, agricultor viu produtividade e isso incentivou o aumento da área”, afirmou.
Com uma safra deste tamanho, disse Faus, a exportação deve alcançar 1,9 milhão de toneladas no ano comercial de 2022/23 para o setor, que começa em julho, versus 1,742 milhão de toneladas estimados até junho, referente ao ano comercial de 21/22.
Segundo o superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), Cleiton Gauer, os técnicos do instituto estão no campo para avaliar as condições das lavouras, que passaram por alguns episódios de seca em abril, e desde o início de maio a chuva não chegou principalmente para o sudeste, centro-sul e uma parte do oeste do Estado.
Ainda assim, Gauer ressaltou que o produtor de Mato Grosso conseguiu semear bem o algodão nesta temporada, o que contribui para a produtividade.
“Teve uma redução de chuvas, mas está melhor que ano passado, está muito parecido com nosso patamar recorde”, disse. A máxima histórica do Estado foi de 2,16 milhões de toneladas em 2019/20, conforme dados do instituto.
No início deste mês, o Imea estimou a safra da pluma em 2,02 milhões de toneladas, alta de 20,8% no comparativo anual.
“Acreditamos que isso não vai interferir na qualidade, mas a perda da produtividade já está estimada em 10%”, disse o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Júlio Cézar Busato.
“Aqui (na Bahia), algumas microrregiões conseguiram essa chuva no mês de março, porém a grande maioria não, não vai ser tão bom quanto imaginávamos… A última expectativa era de 311 arrobas e hoje já estávamos falando em 280 arrobas por hectare.”
Ele também destacou que a entidade vê problemas para o algodão de cidades como Sorriso e Primavera do Leste, em Mato Grosso.
Apesar das adversidades, o analista de inteligência de mercado da StoneX Marcelo Di Bonifácio Filho acredita que o Brasil deve sair de uma situação de produção “excelente” para ainda “muito boa”, o que dá espaço para avançar na exportação.
“Os preços continuam altos no mercado internacional e potenciais perdas em países como a Índia e Estados Unidos favorecem os exportadores”, disse ele.
Segundo o especialista, os indianos tiveram sérios problemas com pragas na safra 2021/22, que foi colhida no segundo semestre do ano passado, o que causou um cenário de escassez para a indústria têxtil local. Nos EUA, maior exportador global, a questão é a seca no Texas, um dos principais Estados produtores, que está com gargalos no plantio.
Faus, presidente da Anea, disse que o Brasil, de fato, deve enfrentar menor concorrência dos norte-americanos, mas terá que disputar com os exportadores da Austrália, que ocupam o quarto lugar no ranking global e estão com safra crescente.
Na ponta da demanda, os lockdowns na China têm prejudicado aos embarques ao país, que têm diminuído nos últimos três meses, além dos problemas logísticos que o setor já enfrenta desde o início da pandemia, como falta de contêineres.