Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) – O plantio de soja não transgênica do Brasil na nova temporada (2022/23) deverá crescer 24%, em ritmo muito superior ao da área total semeada, formada em sua grande maioria por grãos geneticamente modificados, com uma demanda maior da Europa levando à forte alta nos prêmios do grão convencional, de acordo com estudo do Instituto Soja Livre (ISL).
Outro fator citado pela ISL é recente movimento da Bunge no Brasil para operar unidades industriais da Imcopa, que processa somente grãos convencionais, uma demonstração da aquecida demanda externa.
“A soja que a Índia produz é toda convencional, mas vendida para a Europa sem prêmio, sem sustentabilidade… e agora com a pandemia, a Índia fechou suas fronteiras para exportação de alimentos e gerou essa demanda extra (para o Brasil)”, disse o diretor de Relações Internacionais do ISL, Endrigo Dalcin, à Reuters.
De outro lado, com a menor oferta de soja convencional no mundo, compradores europeus estão fechando negócios antecipados com produtores brasileiros, pagando prêmios de até 11 dólares por saca de 60 kg, com média de 6 dólares/saca em Mato Grosso para a próxima safra, enquanto uma saca no mercado tradicional está sendo cotada próxima de 40 dólares em algumas praças.
A soja não transgênica respondeu por apenas 2% da área plantada no Brasil, maior produtor e exportador da oleaginosa, que somou quase 41 milhões de hectares em 2021/22, de acordo com a ISL, associação que reúne produtores, tradings, sementeiros e a Embrapa.
Mas na nova temporada (2022/23), com plantio a partir de meados de setembro, a área de soja convencional deverá atingir quase 1 milhão de hectares, versus 793 mil hectares em 21/22, com impulso de Mato Grosso, maior produtor brasileiro da oleaginosa, que também responde por aproximadamente metade da produção não transgênica do país.
O instituto não fez projeções para a safra total brasileira, incluindo a soja transgênica. Mas algumas consultorias esperam um crescimento de cerca de 3% na área plantada.
Mas é em Mato Grosso o crescimento esperado no plantio mais expressivo em soja convencional, de 34,6% em comparação com a safra anterior, o que elevaria a representatividade da produção não transgênica de 3,3% para pouco mais de 4% do total, enquanto a maior parte ainda seguiria transgênica, segundo o ISL.
Para o coordenador-executivo do ISL, Eduardo Vaz, a soja convencional deve ganhar área pelo menos nas próximas duas safras, diante da forte demanda e da baixa oferta do produto.
O ISL citou números do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) apontando que os custos da soja convencional são 3% maiores que a transgênica, mas há um ganho médio em rentabilidade que supera o equivalente a 7,5 sacas a transgênica, considerando os prêmios pagos.