Como o FBI se reinventou após o 11 de Setembro

30 de abril de 2016

Getty Images

No dia 4 de setembro de 2011, Robert Mueller dava início ao sexto emprego de sua carreira, desta vez como diretor do Federal Bureau of Investigation, o FBI. Menos de uma semana depois, terroristas da Al-Qaeda sequestraram quatro aviões e derrubaram as duas torres do World Trade Center, em Nova York, matando quase 3 mil pessoas.

O ataque colocou o escritório de investigações norte-americano sob a mira de críticos do mundo inteiro, que se perguntaram onde estava o principal órgão responsável pela prevenção do terrorismo nos Estados Unidos antes dos acontecimentos fatídicos.

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Desde sua fundação, em 1908, a responsabilidade principal do FBI sempre foi investigar crimes domésticos, que aconteciam dentro do país. Isso mudou depois que o ex-presidente, George W. Bush, em resposta aos ataques terroristas, mudou o propósito da organização. O escritório não deveria ser somente um braço da Justiça norte-americana, como também prevenir ataques terroristas como o do 11 de Setembro.

Jan Rivkin, professor da Universidade de Harvard, conta que Mueller, o diretor recém-contratado da organização, se encontrava em uma posição complicada. “Ele acabou em um emprego completamente diferente daquele para o qual foi chamado no início.”

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O desafio, no entanto, foi também uma oportunidade de aprendizado para um grupo de estudantes que, incluindo Rivkin, dedicaram suas carreiras acadêmicas a pesquisar a mudança na identidade da organização.

A reorganização da estrutura da empresa se preocupou em dar propósito para os funcionários. “Uma boa combinação entre organização e identidade é pré-requisito para o bom funcionamento de uma empresa”, disse Rivkin.

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Uma pesquisa da Universidade de Harvard entrevistou 138 colaboradores do FBI e analisou 45 casos investigados pelo escritório, de 2001 a 2013. O estudo mostrou a mudança na identidade da organização, uma transformação que deu certo.

“O FBI deu uma lição em qualquer gestor”, disse Ryan Raffaeli, professor-assistente da universidade. “É muito difícil ver um caso de sucesso em que a empresa, depois de uma crise, conseguiu se reinventar completamente.”

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A opinião de alguns pesquisadores é de que a organização poderia ter resolvido o problema de três maneiras distintas. Em primeiro lugar, o diretor Mueller poderia ter criado duas unidades separadas, uma responsável pela análise dos casos na Justiça e uma dedicada à inteligência doméstica. A segunda saída possível seria colocar os funcionários mais antigos para trabalhar com a frente de casos domésticos e o grupo mais novo para o braço recém-criado da organização, que investigaria ameaças de terrorismo. Em terceiro lugar, o FBI poderia ter simplesmente rejeitado o pedido do presidente Bush.

Nenhuma dessas três ações foi a escolhida pelo escritório. A princípio, a organização passou por um breve período de confusão, até se reestruturar com nova identidade.

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Antes do 11 de Setembro, o FBI operava em 56 escritórios nas maiores cidades dos Estados Unidos, cada um focado em resolver crimes locais, com relativa autonomia. Depois dos ataques, a organização se identificou como uma agência responsável por reforçar a lei. Hoje, a descrição é a de garantir a segurança social.

Em 2009, Mueller explicou que a transformação aconteceu em três etapas: a triagem, logo após os ataques, a pesquisa e, finalmente, a consolidação.

Em maio de 2002, ele listou as 10 prioridades do FBI e, em primeiro lugar, colocou a proteção dos Estados Unidos de ataques terroristas.

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Muitos países mantêm separados o reforço da lei e a segurança nacional. O Reino Unido, por exemplo, tem a Scotland Yard para investigação e a MI5 para justiça nacional.

A junção das duas funções, no entanto, ajuda o escritório norte-americano a barganhar por informações. Se um terrorista for preso, por exemplo, o próprio FBI pode oferecer reduções na pena em troca de uma delação.

Depois da fase de triagem, a agência percebeu que seus funcionários precisavam de treinamento para identificar ameaças terroristas. Para isso, Mueller criou novos cargos, nos quais ficaram os responsáveis por analisar várias fontes de informação que tivessem a ver com ameaças terroristas. “Antes, os analistas eram profissionais de segunda classe dentro da organização. Com a mudança, passaram a ser o coração do FBI”, disse o professor Rivkin.

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Em 2005, já no final da transformação, o FBI, sob pressão do escritório presidencial, estabeleceu dois braços principais para as investigações: segurança nacional e casos criminais. A missão da organização foi estabelecida como “garantir a segurança nacional”.

Depois da reestruturação, não há dúvidas de que a agência conseguiu evitar inúmeros ataques desde o 11 de Setembro, além de ter prestado serviço a outras organizações norte-americanas em missões internacionais, como a que matou Osama bin Laden, o líder da Al-Qaeda.