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“Conheço bem o Cocielo e sei que ele não tem absolutamente nada de racista, não é uma característica dele. O que ele faz é sátira, piada. Mas, sim, foi infeliz na colocação”, afirma Celso Forster, sócio e diretor da BR Media Group, empresa que trabalha com branded content e faz o relacionamento entre influenciadores e o mercado.
Como influenciadores e marcas podem confiar um no outro
Forster completa, com um exemplo de veto: “Quando você vai contratar para um post isolado, não existe preocupação com o histórico. Mas se é para ser embaixador de uma marca, por exemplo, usamos o chamado ‘índice de polemicidade’. A gente resgata a história do influenciador, tanto na mídia tradicional quanto nas redes online. É um levantamento completo. Já pegamos um artista que estava envolvido em polêmicas, mas os personagens dele, não… a recomendação que demos para o cliente foi a de não usar o ator, apenas os personagens. Isso ajuda muito a evitar esse tipo de problema”, explica o profissional. Heloisa também se lembra de episódios de veto, mas em ambiente corporativo: “Já vi casos desse tipo em empresas, por situações de discriminação que a pessoa tenha cometido e até questões criminais, envolvimento em operações da Polícia Federal… não é incomum. Claro que tem de tomar cuidado para não caracterizar essa atitude como discriminação, mas as empresas têm de preservar imagem e reputação”.
A publicidade brasileira tem no Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária, o CONAR, órgão que também julga os casos de excesso. Youtubers e influenciadores em geral, quando em campanhas publicitárias, seguem essas mesmas regras éticas, que receberam suas últimas atualizações ainda na década de 1980. Heloísa é a favor de uma revisão, mas não tira a responsabilidade das marcas: “Há mudanças muito grandes no ambiente da publicidade, e é sempre bom revisitar regras, elas têm de acompanhar o cenário, o mercado… até que ponto os youtubers são considerados nessas regras? Mas as empresas precisam ter mais cuidado. A gente vê mais o aspecto da reação e da penalização depois que algo acontece, mas precisa ter uma investigação, entrevistas com essas pessoas para detectar pontos de risco, comprometimentos… o que a personalidade faz tem impacto direto para a marca”.
Mudanças no Facebook fortalecem fake news e influenciadores
Mas vamos dizer que marca e agência não fizeram nenhum trabalho prévio para detectar problemas e o desastre aconteceu. O que fazer? “Primeira coisa: assumir, com um pedido de desculpas enfático… enfim, aconteceu. Se foi algo pontual, o pedido vai ter credibilidade. Se o histórico pessoal traz coisas parecidas com o que aconteceu por último, não adianta muito”, considera Heloísa, que também inclui ações na gestão da crise: “Ações contra racismo, contra discriminação. Mas precisam ser ações afirmativas e verdadeiras, porque o passado sempre volta”.
Forster diz acreditar que a continuidade do trabalho, por si, também ajuda o influenciador a seguir o seu caminho: “Ele deve continuar com as atividades regulares dele. As pessoas gradualmente vão deixar isso para trás. Ele vai perder seguidores e vai ganhar novos no futuro em questão de um humor mais bem cuidado. Com certeza, para ele [Cocielo] foi uma lição. Quem de nós já não fez bobagem na vida? A questão é que uma pessoa pública vai ter essas bobagens mais visíveis”.