Conheça Rothschild, o barão dos bons vinhos

24 de novembro de 2018
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O primeiro foco é “ganhar dinheiro ”; o segundo é “oferecer bom vinho com custo-benefício certo

Quando o barão Philippe de Nicolay-Rothschild decidiu trocar Paris por São Paulo, em 2010, sua ideia era fundar um banco privado em solo brasileiro. Apesar do aval de seu sobrenome (a dinastia Rothschild é, em essência, formada por banqueiros), ele logo percebeu – acertadamente, segundo o próprio – que o cenário econômico do Brasil não compensaria o alto investimento necessário à empreitada. Ao mesmo tempo, teve um “estalo” ao lidar com a transferência de sua adega particular para o Brasil. Philippe ligou para importadoras para saber o valor de seus vinhos. Quando recebeu a lista de preços, quase caiu da cadeira. Procurou então entender por que os vinhos eram tão mais caros aqui. Não encontrou nenhuma razão. Concluiu que era possível cobrar preços mais justos por produtos de alta qualidade.

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Assim, em 2015 criou sua própria importadora, a PNR (suas iniciais), e o Magnum Club, um braço da PNR voltado ao consumidor final. Tarefa nada difícil para quem cresceu provando alguns dos melhores vinhos do mundo, também de propriedade da família Rothschild – seus domínios, só na França, compreendem os legendários châteaux Lafite Rothschild, Duhart-Milon, Rieussec e L’Evangile. Em um café da tarde com Philippe, FORBES conversou com o nobre que tem se dedicado a proporcionar aos brasileiros acesso a ótimos vinhos – por preços “justos”, como gosta de frisar – por meio de seu clube de assinaturas, o Magnum Club.

“Em primeiro lugar, meu foco é, como em qualquer negócio, ganhar dinheiro. Em segundo, é oferecer um bom vinho com o custo-benefício certo”, diz ele. Isso não é exatamente sinônimo de “barato”. Philippe justifica: “No fim da garrafa, você fica com as memórias, que é diferente de um bem material. Além disso, eu escolho pessoalmente qualquer garrafa que entra no portfólio, o que garante a qualidade dos rótulos”.

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Vinícola do Châteaux Rieussec

O clube de assinaturas tem como meta uma base máxima de 2 mil assinantes – hoje são pouco mais de 300 inscritos. Para se associar ao Magnum é preciso escolher entre três opções: Blason, Château e Impérial. A categoria de entrada, a Blason, custa R$ 240 ao mês; a Château, R$ 480 e a Impérial, R$ 1.920. Em todas elas, o valor total investido na mensalidade pode ser convertido em vinhos com descontos exclusivos aos associados. Na média, segundo o barão, os membros gastam por mês o dobro do valor de suas respectivas assinaturas em vinhos. A principal diferença das três categorias é o acesso ao portfólio – apenas os clientes Impérial têm 100% de acesso a todos os vinhos e podem adquirir rótulos mais exclusivos, como Lafite e Duhart-Milon, além de serviços especiais como sommelier à disposição.

Por que esse número relativamente baixo de 2 mil assinantes? “Prefiro cuidar bem de todos os clientes do que cuidar mal de 5 mil. Quero oferecer os melhores vinhos para cada um deles. É uma coisa familiar. Quando, em 1792, criamos o primeiro banco fora da Alemanha – na Inglaterra –, o foco já era esse: nunca miramos em 1 milhão de clientes, e sim em um número certo para cuidar bem de todos”, conta.

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Além disso, a quantidade de vinhos é limitada – apesar de as bebidas da linhagem familiar dividirem espaço com as dos parceiros comercializados no Magnum Club, originários da Itália, Espanha, Chile e Argentina.

A primeira mulher

Desde abril, a vinícola Lafite é comandada por Saskia de Rothschild, de 31 anos, filha do barão Eric Rothschild, que comandou o grupo entre 1974 e 2018. É a primeira vez que uma mulher está no comando dessa e de todas as vinícolas da família, a Domínios Barões de Rothschild (DBR) – que, além das já citadas Duhart-Milon, Rieussec e L’Evangile, inclui a Domaine d’Aussières (no Languedoc), a Viña Los Vascos (no Chile) e uma joint venture na Argentina, a Bodegas Caro. Saskia é a pessoa mais jovem a dirigir uma das cinco vinícolas Premier Cru de Bordeaux.

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Saskia de Rothschild

Até o fim da Segunda Guerra Mundial, esse era um negócio pequeno da família. Os lucros mais significativos começaram a surgir em 1947. Depois da mítica safra de 1982, tornou-se um verdadeiro business. Os Rothschild foram inteligentes em reinvestir os ganhos em outras propriedades na França e expandir internacionalmente, com investidas na Argentina e no Chile. Para 2019, está no radar o lançamento de uma vinícola DBR na China – um ousado projeto da empresa, na península montanhosa de Shandong, no leste da China, praticamente equidistante de Pequim e Xangai. O objetivo é ganhar posição em um mercado interno crescente, com milhões de clientes em potencial, aproveitando a reputação de Lafite.

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Exemplares da mítica safra de 1982

França 20 x 2 Brasil

Com a expertise de quem começou a provar vinhos em 1966 – no dia do aniversário de 11 anos, quando seu pai abriu um Lafite 1911 –, Philippe já percebe diferenças na apreciação de vinhos por parte dos brasileiros. “Nesses oito anos, a mudança de comportamento é nítida. Pouca gente bebia vinho quando eu cheguei aqui – é um país muito forte em cachaça e cerveja. Com a convivência com minha enteada, percebi que as meninas jovens já bebem vinho branco, e os vinhos rosés são bem aceitos devido às altas temperaturas”, analisa. Mas reconhece que estamos longe do padrão francês: “Um francês consome cerca de 20 litros de vinho por mês, quase uma garrafa por dia. Um americano consome 17 litros. Um brasileiro, só 2 litros”. Philippe de Rothschild está fazendo a parte dele – com elegância, qualidade e preço justo – para reverter esse placar.

Reportagem publicada na edição 61, lançada em setembro de 2018