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Assim, em 2015 criou sua própria importadora, a PNR (suas iniciais), e o Magnum Club, um braço da PNR voltado ao consumidor final. Tarefa nada difícil para quem cresceu provando alguns dos melhores vinhos do mundo, também de propriedade da família Rothschild – seus domínios, só na França, compreendem os legendários châteaux Lafite Rothschild, Duhart-Milon, Rieussec e L’Evangile. Em um café da tarde com Philippe, FORBES conversou com o nobre que tem se dedicado a proporcionar aos brasileiros acesso a ótimos vinhos – por preços “justos”, como gosta de frisar – por meio de seu clube de assinaturas, o Magnum Club.
O clube de assinaturas tem como meta uma base máxima de 2 mil assinantes – hoje são pouco mais de 300 inscritos. Para se associar ao Magnum é preciso escolher entre três opções: Blason, Château e Impérial. A categoria de entrada, a Blason, custa R$ 240 ao mês; a Château, R$ 480 e a Impérial, R$ 1.920. Em todas elas, o valor total investido na mensalidade pode ser convertido em vinhos com descontos exclusivos aos associados. Na média, segundo o barão, os membros gastam por mês o dobro do valor de suas respectivas assinaturas em vinhos. A principal diferença das três categorias é o acesso ao portfólio – apenas os clientes Impérial têm 100% de acesso a todos os vinhos e podem adquirir rótulos mais exclusivos, como Lafite e Duhart-Milon, além de serviços especiais como sommelier à disposição.
Por que esse número relativamente baixo de 2 mil assinantes? “Prefiro cuidar bem de todos os clientes do que cuidar mal de 5 mil. Quero oferecer os melhores vinhos para cada um deles. É uma coisa familiar. Quando, em 1792, criamos o primeiro banco fora da Alemanha – na Inglaterra –, o foco já era esse: nunca miramos em 1 milhão de clientes, e sim em um número certo para cuidar bem de todos”, conta.
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A primeira mulher
Desde abril, a vinícola Lafite é comandada por Saskia de Rothschild, de 31 anos, filha do barão Eric Rothschild, que comandou o grupo entre 1974 e 2018. É a primeira vez que uma mulher está no comando dessa e de todas as vinícolas da família, a Domínios Barões de Rothschild (DBR) – que, além das já citadas Duhart-Milon, Rieussec e L’Evangile, inclui a Domaine d’Aussières (no Languedoc), a Viña Los Vascos (no Chile) e uma joint venture na Argentina, a Bodegas Caro. Saskia é a pessoa mais jovem a dirigir uma das cinco vinícolas Premier Cru de Bordeaux.
Até o fim da Segunda Guerra Mundial, esse era um negócio pequeno da família. Os lucros mais significativos começaram a surgir em 1947. Depois da mítica safra de 1982, tornou-se um verdadeiro business. Os Rothschild foram inteligentes em reinvestir os ganhos em outras propriedades na França e expandir internacionalmente, com investidas na Argentina e no Chile. Para 2019, está no radar o lançamento de uma vinícola DBR na China – um ousado projeto da empresa, na península montanhosa de Shandong, no leste da China, praticamente equidistante de Pequim e Xangai. O objetivo é ganhar posição em um mercado interno crescente, com milhões de clientes em potencial, aproveitando a reputação de Lafite.
Com a expertise de quem começou a provar vinhos em 1966 – no dia do aniversário de 11 anos, quando seu pai abriu um Lafite 1911 –, Philippe já percebe diferenças na apreciação de vinhos por parte dos brasileiros. “Nesses oito anos, a mudança de comportamento é nítida. Pouca gente bebia vinho quando eu cheguei aqui – é um país muito forte em cachaça e cerveja. Com a convivência com minha enteada, percebi que as meninas jovens já bebem vinho branco, e os vinhos rosés são bem aceitos devido às altas temperaturas”, analisa. Mas reconhece que estamos longe do padrão francês: “Um francês consome cerca de 20 litros de vinho por mês, quase uma garrafa por dia. Um americano consome 17 litros. Um brasileiro, só 2 litros”. Philippe de Rothschild está fazendo a parte dele – com elegância, qualidade e preço justo – para reverter esse placar.