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Um deles passa pelas redes sociais, que disseminam, amplificam e viralizam as notícias, sejam elas verdadeiras ou falsas, em proporções e velocidades avassaladoras, criando um rastro incontrolável e impossível de ser apagado. Não há qualquer controle do que é divulgado, como é divulgado e de como a informação será recebida em razão da pluralidade dos meios de comunicação.
Se juntarmos, então, tudo isso em uma mesma pessoa, Neymar, considerada o 5º atleta mais bem pago do mundo no ano passado, com ganhos totais de US$ 90 milhões segundo a Forbes, e seguido por mais de 223 milhões de pessoas nas três principais redes sociais, as consequências podem ser explosivas. Prova disso é a montanha russa de acontecimentos negativos que invadiram a vida do atacante brasileiro nos últimos tempos, que vão de desempenho abaixo da média e contusões à briga com torcedores, passando pela recente acusação de agressão e estupro.
Não é possível fazer gestão de reputação
Mas, claro, é possível atenuar a maneira como as pessoas encaram determinados acontecimentos, uma vez que a expectativa delas também é formada pelo histórico de situações e do comportamento adotado nas mesmas.
“Neymar faz parte de uma geração de atletas de alto desempenho, que inclui também pilotos de Fórmula 1, que viraram produtos do entretenimento. Eles não se posicionam sobre assuntos complexos. Qualquer questão que exija uma reflexão mais profunda ou uma ação que escape ao papel de ‘ídolo’ é evitada. Eles não assumem responsabilidades. Possuem narrativas muito prontas, construídas, falta espontaneidade, naturalidade. Parece que tudo é feito para agradar a alguém”, continua Peres-Neto, sem conseguir evitar a comparação com Romário, que se aposentou do futebol brasileiro em 2008. “Ele resolvia seus próprios problemas e, quando era preciso, assumia o erro.”
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Por outro lado, Roberto Aylmer destaca outros comportamentos típicos e recorrentes de Neymar que atrapalham a percepção que as pessoas têm da sua moral. “Neymar é polêmico, faz questão de aparecer sempre com um cabelo ou uma tatuagem diferente, revida agressões, não consegue gerenciar muito bem seu temperamento. Ele é socialmente imaturo. Tem uma visibilidade gigantesca, mas uma habilidade social que compromete tanto seus patrocínios quanto seu desempenho no time”, diz, referindo-se à perda da posição de capitão da seleção brasileira e à recente declaração da Nike, que disse estar preocupada com as acusações contra o jogador e prometeu “continuar a monitorar de perto a situação”. “O sucesso dele depende da imagem”, resume.
Edson x Pelé
“O Edson se coloca sempre do ponto de vista humano, enquanto o Pelé responde como atleta. Assim, ele conseguiu ser uma pessoa normal e um rei ao mesmo tempo”, diz Peres-Neto.
Para Aylmer, as atitudes de Pelé construíram uma aura em torno dele de “cidadão do bem”, que fez com que as pessoas se colocassem em seu lugar cada vez que uma situação difícil o envolvia e gerava certa benevolência. Ele afirma, porém, que é preciso lembrar que os tempos eram outros, quando as mídias sociais ainda eram um sonho muito distante.
Invencibilidade
Um ponto no qual todos concordam é que, ao atingir determinado nível de sucesso, as pessoas perdem a noção do perigo. O sucesso traz uma sensação de que tudo é possível. “Isso não é verdade. Ao assumir uma posição pública, você assume compromissos com o mundo ao qual você serve”, diz Aylmer.
Como psiquiatra de formação, ele explica que a experiência é uma ótima professora, mas cobra um preço exorbitante. “Aprender com os erros dos outros, com profissionais especializados, ouvindo os demais seria muito mais produtivo. Mas o sucesso não deixa. E isso é neurológico. O nosso cérebro é baseado no custo-benefício. Então, quando ganhamos, achamos que vale a pena continuar daquele jeito.”
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José Gomes Colhado Neto, advogado do escritório Vinhas e Redenschi Advogados, analisa a situação do ponto de vista jurídico. “Acho que ter se exposto nas redes sociais não foi um problema. A transparência, na minha opinião, é fundamental, até para demonstrar que ele se preocupa com a opinião pública. Mas ele não deveria ter divulgado as imagens e a conversa com a outra parte. Poderia ter dito apenas que tinha provas que corroborariam sua inocência e que, por uma questão de sigilo imposto pela lei e respeito à pessoa, não daria mais informações. Teria sido até mais elegante.” Segundo ele, esse tipo de material deveria ter sido reservado apenas para o processo.
E agora?
A grande questão, na opinião do especialista, é: será que o atleta quer mudar essa imagem? Ele tem vontade de gerenciar a sua vida e não ser carreado pelos tsunamis que ele mesmo cria? “Existem inúmeros profissionais competentes especializados em gestão de crise, mas não basta tê-los na sua equipe. É preciso ouvi-los.”
Em seguida, Aylmer diz que é necessário um trabalho interno, que o faça entender que outras crises virão. “Esse é só mais um conflito de um padrão que tem ocorrido na vida dele. Se acontece uma vez, é acaso, duas, é coincidência, três vezes, é padrão. Ele tem um padrão de destruir a carreira, o nome dele. Neymar tem jogado para perder.”
O especialista vai além na interpretação do comportamento do craque. Todo o sucesso e o dinheiro conquistados por Neymar têm o seu preço. “Ele deixou de ter uma vida tranquila, perdeu aquela leveza de garoto, a inocência, as amizades desinteressadas, o direito de ir e vir. Um lado dele, nostálgico, sonha em voltar pra esse lugar, que embora muitos chamem de fracasso, provavelmente era mais verdadeiro. E isso acontece com várias pessoas que chegam lá.”
Se a palavra dos últimos anos era resiliência, o termo agora é antifrágil. O conceito de Nassim Taleb, professor da Universidade de Nova York que previu o colapso financeiro de 2008, refere-se a tudo aquilo que melhora com o caos. “Esse conceito nos mostra que as crises podem ser uma oportunidade de mudança de perspectiva, de amadurecimento. Se Neymar sentir a crise, passar por um processo de reflexão profunda dos seus padrões destrutivos e, em seu interior, construir uma pessoa mais madura, é provável que ele não caia nas próximas armadilhas. Mas, se ele achar que escapou dessa sem entender que é ele mesmo quem cria essas situações, nada vai mudar. O padrão continuará até a hora em que ele perder tudo. Muita gente só melhora quando chega ao fundo do poço.”
Luis Sales, da ESPM, sugere um posicionamento menos construído do ponto de vista mercadológico e mais pautado naquilo que Neymar realmente é como pessoa. Um verdadeiro resgate da autenticidade do jogador. Tempo há. Mas só Neymar pode mudar essa história.