Por que os EUA podem rumar para nova crise econômica

21 de agosto de 2019
Prasit Photo

Estados Unidos e China, protagonistas da atual guerra comercial, são os dois maiores parceiros econômicos do Brasil

Resumo:

  • Uma nova crise econômica nos Estados Unidos pode alcançar o Brasil, que mantém fortes laços diplomáticos e econômicos com o país;
  • Analistas norte-americanos começam a se preocupar com os efeitos da guerra comercial EUA-China e preveem desdobramentos;

A possibilidade de uma futura crise é cada vez mais mencionada nos Estados Unidos. Especialistas norte-americanos de algumas áreas dizem acreditar que os primeiros sinais, similares aos das crises de 2000 e 2008, já surgiram.

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Um desses sinais vem do mercado de títulos dos EUA. O corte em juros e taxas de investimentos a longo prazo, vindos principalmente do Fed, para atrair investidores são indícios de que, ao menos, o crescimento da economia irá desacelerar.

Outro ponto levantado é a crise imobiliária em Manhattan. Esse mercado fechou 2018 como o pior ano desde a grande queda que teve entre 2008 e 2009.

A guerra comercial com a China

A principal crítica feita ao presidente dos EUA, Donald Trump, quando o assunto é a guerra comercial com a China é a instabilidade que ela traz à economia norte-americana. Na última quarta-feira (14), por exemplo, os Estados Unidos declararam seu pior dia do ano na Bolsa de Valores, quando a média da Dow Jones caiu 800 pontos, aproximadamente 3%. Enquanto isso, Trump segue com afirmação de que a economia estadunidense segue forte.

Esse é um dos indícios apontados por especialistas, que preveem uma futura crise econômica, e um dos fatores que dificulta o planejamento financeiro de diversas companhias internacionais, que em vista dos acontecimentos, escolhe não arriscar e não fazer grandes investimentos.

Outro fator é a crise pela qual vários países passam, ou pela qual passarão em um futuro próximo. O mercado de ações argentino, por exemplo, experienciou uma queda de quase 50% na semana passada. Já a economia na Alemanha diminuiu 0,1% entre abril e junho, e se fechar o próximo quarto do ano no negativo, estará oficialmente em recessão. Ambos os países são exemplos de Estados que começam a viver uma crise (ou já estão em uma) por conta principalmente de políticas comerciais externas instáveis, algo que os Estados Unidos apenas começa a experienciar.

“Eu vejo fogo em todo lugar, mas não vejo muitos bombeiros,” disse o professor de economia da universidade Loyola Marymount, Sung Won Sohn, ao jornal “Washington Post”.

Mesmo que a crise não chegue, existem indicadores de que a vitória dessa guerra será chinesa. Na lista “Fortune Global 500”, com as 500 maiores empresas do mundo, 121 são norte-americanas enquanto 129 são chinesas.

É preciso reconhecer, no entanto, que enquanto 28,8% da renda conjunta dessas 500 empresas globais vêm dos Estados Unidos, a China é responsável por apenas 25,6%. No entanto, as empresas chinesas têm crescido com o país e representam uma ameaça real à soberania norte-americana.

Não é fácil decifrar todos os números. No último dia 14, a China declarou sua pior produção industrial desde 2002 e, em julho, o “New York Times” publicou que, desde que Trump assumiu seu cargo, os investimentos norte-americanos na China caíram em quase 90%.

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Tudo isso, no entanto, ocorre em uma economia norte-americana consideravelmente saudável e em crescimento. Exportações são apenas 13% da economia dos Estados Unidos, enquanto o consumo interno toma 70%. Basta agora saber se, caso esses 13% sejam comprometidos, o que não é impossível, o país conseguirá manter seu crescimento atual.

“Isso potencialmente é uma ferida autoinfligida”, disse a economista Tara Sinclair, que estuda ciclos econômicos na George Washington University, ao “New York Times”. “Mas quão fundo esse ferimento chegará dependerá de várias características da economia e das políticas em resposta.”

Por que o Brasil deveria se preocupar?

Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial brasileiro, perdendo apenas para a China. Os principais produtos comercializados são petróleo, aeronaves, ferro e aço, segundo a página online oficial do governo norte-americano. Além disso, em 2017, o país investiu mas de US$ 60 bilhões no Brasil.

Já em relação à China, nossos negócios com o país em 2018 ultrapassaram o valor de US$ 100 bilhões, e o Brasil já mantém relações estáveis com o país há mais de 40 anos.

Isso tudo mostra que mesmo que os Estados Unidos não entrem em crise, e independentemente do vencedor dessa guerra comercial, o Brasil pode ser afetado, e precisa se planejar para se proteger desse tipo de intempérie.

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