Apesar de ter feito de Paris a sua morada pela maior parte de sua vida, Modigliani nasceu em 1884 na província de Livorno, na região toscana da Itália. O brilhantismo do artista italiano não pertenceu a nenhum movimento, entretanto, Olívio Guedes, Doutor em Modigliani pela USP, sugere que ele possuía um movimento próprio que poderia se chamar “reducionismo”, fruto de alguém capaz de “produzir o simples após ter compreendido o complexo” – na visão dele.
Seus traços são inconfundíveis e sua forma de retratar olhos humanos –vagos, pequenos, desfoques– era, sem dúvida, sua singular assinatura. Guedes esclarece este fenômeno ao explicar a relação do artista com a tradição judaica. “Modigliani pintava ou não pintava os olhos de acordo com o nefesh da pessoa”, afirma. “Nefesh” é uma palavra em hebraico que pode ser compreendida como “alma”. Ou seja, os famosos olhos pintados por Modigliani refletem a alma daqueles que eram retratados. “Quando não havia nefesh, Modigliani não pintava os olhos”, completa Olívio.
Apenas em 1906, Modigliani se mudou para Paris, o mais efervescente centro cultural da época, onde a heresia dos modernistas e a rigidez da Academia viviam um eterno combate. Aos 21 anos, na cidade luz, Modigliani se instalou no bairro de Montmartre, unido-se de uma vez por todas àquela que seria sua companheira inseparável: a boemia. Em Montmartre e, mais tarde em Montparnasse, ele conheceu uma série de artistas que em muito influenciaram a sua arte, como Pablo Picasso, André Derain, Max Jacob e Léonard Foujita. É possível que Modigliani tenha visto uma das telas mais famosas de Picasso, Les Demoiselles D’Avignon, ainda no atelier do artista.
“Modigliani era um rebelde como todos os outros artistas do mesmo período, mas um rebelde com causa e a sua causa era o conhecimento”, define Guedes. O artista, que, como os outros, conquistou a alcunha de “rebelde” ao cair na vida boêmia, desafiava a arte acadêmica e declamava de cima de mesas de bares parisienses os versos do poeta conhecido como Conde Lautréamont, irreverentes, heréticos e “malditos”. Inclusive vem daí vem o jogo de palavras em torno do apelido de Modigliani “Modi”, que na língua francesa soa como a palavra “maudit” (maldito).
Mais tarde, no período entre 1909 e 1913, influenciado pelos estudos pluridimensionais do cubismo de Picasso e de Braque e pela produção do escultor romeno Constantin Brancusi, Modigliani passou a se arriscar também na escultura, estudando e desenhando muito. “Neste período, ele não produziu mais do que seis telas, tamanho era o seu empenho em se tornar escultor”, comenta Guedes, afirmando que Modigliani teria, mais tarde, abandonado o projeto de ser escultor. Ainda que a carreira neste ofício tenha sido breve, algumas dessas esculturas chegam a valer US$ 50 milhões.
Menos de 24 horas depois de sua morte, sua esposa, grávida de nove meses do segundo filho, se atirou do quinto andar de um prédio. Jeanne Modigliani, a filha do casal, foi criada pelos avós paternos e se tornou historiadora da arte, escrevendo, mais tarde, uma biografia sobre seu célebre pai.
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Tenha também a Forbes no Google Notícias.