Hoje, em Londres, os casacos azul-turquesa dos trabalhadores da Deliveroo passam pelas ruas tranquilas a qualquer hora. Eles parecem ocupados, entregando café da manhã, almoços, jantares –curry, pizza, frango frito e sushi– para os londrinos auto-isolados sentados no interior de casa e sofrendo por um estranho estado de tédio e ansiedade criado pela crise do novo coronavírus.
Mal remunerados e subvalorizados desde que apareceram em 2013, os entregadores de comida não se enquadram em um real trabalho. Eles são como freelancers, uma espécie de drone ambulante, oferecendo avaliações de bilhões de dólares às startups de tecnologia da moda. Não apenas pizza.
Apesar de seu status não essencial, eles ajudaram a economia a obter excelentes resultados. Em 2018, a Deliveroo liderou o ranking Deloitte das 50 empresas de tecnologia que mais cresceram no Reino Unido pelo segundo ano consecutivo. Dan Warne, diretor-geral da empresa, disse que “a Deliveroo se orgulha de quão longe chegamos em cinco anos e de nossa posição como um sucesso tecnológico britânico”. De forma meio confusa, Warne parabenizou sua equipe pelo trabalho “entregue aos nossos motoristas.”
LEIA MAIS: Crise do coronavírus impulsiona aplicativos de entregas no Brasil
A declaração pareceu estranha na época.
Tudo menos essencial
A pandemia de coronavírus forçou uma revisão dessa relação e o que entendemos como “essencial”. Os EUA (várias semanas atrás da Europa no avanço da pandemia) deram a lista mais clara ainda do que é definido pelo governo como essencial e não essencial.
Nas diretrizes, lojas de alimentos (incluindo delivery), postos de saúde, farmácias, bancos, correios e postos de gasolina foram, sem surpresa, citados como essenciais.
Um pouco mais surpreendente são lojas de bicicletas, de ferragens, lavanderias, garagens, aluguel de carros e pet shops.
O anúncio forçou várias setores da força de trabalho profissional do Reino Unido a considerar a alta probabilidade de que elas não sejam tão importantes quanto sugere o perfil do LinkedIn. E agora temos provas: o governo falou –você não é essencial.
Em um momento de crise sem precedentes, a entrega de alimentos é essencial, como nunca pensamos.
Com consumidores irresponsáveis se aglomerando por horas para acumular alimentos para uma crise que conhecemos tão pouco, os serviços de delivery têm sido a fonte de alimento de última instância para os funcionários exaustos do hospital, que terminaram seu turno apenas para caminhar por corredores vazios em um supermercado local.
Ganhando mais notoriedade ainda no momento, a Deliveroo anunciou uma nova parceria com os postos de gasolina BP e a Marks & Spencer para fornecer itens essenciais para a casa, incluindo leite, pão e uma gama de aproximadamente 60 itens diretamente para as casas das pessoas em cerca de 30 minutos.
Atualmente, nenhum dos grandes supermercados tem horários de entrega disponíveis no país. E é provável que continue assim por semanas, nos disseram. Parece que ter uma rede 24 horas e mensageiros rápidos de coleta e entrega se tornou repentinamente parte da infraestrutura urbana.
Então, quem está entregando para quem agora?
Pós-corona
Nos dias e semanas após o término da crise, não haverá escassez de exemplos pelos quais as pequenas empresas e empreendedores trabalharam duro enquanto os grandes negócios falharam.
A equipe de entrega e os que são negligenciados nos EUA e no Reino Unido como pouco qualificados e bastante indesejados por nossa elite política terão nossa atenção e boa vontade.
Mas nós vamos lembrar?
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.