No final de março, três das principais organizações de resposta ao coronavírus do governo americano gastaram US$ 1,3 milhão na tecnologia de videoconferência da Zoom, segundo uma análise da Forbes sobre contratos governamentais. Isso ocorreu apesar das críticas generalizadas à privacidade e segurança do aplicativo.
Os pedidos –do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), da Agência Federal de Gerenciamento de Emergências (FEMA) e dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH)– foram feitos em apenas alguns dias, de 23 a 26 de março. Eles variaram em custos, sendo o mais alto US$ 750 mil, solicitado pelo CDC para hospedagem de seminários online sobre a Covid-19, além dos outros US$ 160 mil que a organização gastou na tecnologia webinar do Zoom. Já a FEMA gastou US$ 320 mil em 1.500 licenças do software, enquanto um contrato NIH de US$ 90 mil também especificou algumas licenças da plataforma. Eles não foram entregues diretamente pela empresa de tecnologia, mas pelos empreiteiros governamentais parceiros CDW Government e Carahsoft Technology.
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Até o momento da publicação, nem os departamentos governamentais nem os contratados responderam as perguntas da FORBES sobre como estão usando a tecnologia. A Zoom também não comentou.
Segurança à prova de balas
O fato de as três organizações encarregadas de gerenciar a resposta dos EUA à pandemia da Covid-19 terem pedido a tecnologia Zoom torna vital a proteção de suas comunicações, diz Patrick Wardle, pesquisador de segurança cibernética e ex-técnico da NSA, que descobriu vulnerabilidades no software Apple Mac da Zoom. Segundo ele, era possível que “bisbilhoteiros espiassem as webcams dos usuários”. “À medida que o Zoom se prolifera nas organizações e agências governamentais, é fundamental que sua segurança seja à prova de balas”, disse Wardle à Forbes. “Sem dúvida, os hackers e os adversários do Estado-nação tomarão nota e dedicarão esforços e recursos consideráveis para descobrir novas falhas na plataforma, usando isso para obter acesso a reuniões virtuais do governo ou, pior, acesso a sistemas governamentais”.
Uma análise dos contratos do governo também revelou várias outras agências federais que já compraram a tecnologia Zoom, incluindo a Marinha dos EUA e o Office of Personnel Management, organizações que trabalham em estreita colaboração com as agências de inteligência americanas.
Os EUA não estão sozinhos nessa confiança. O governo do Reino Unido se tornou um grande usuário do serviço desde que o primeiro-ministro Boris Johnson e outros membros de seu gabinete contraíram o coronavírus. Johnson foi culpado de uma pequena confusão no início desta semana, quando tuitou o número de identificação do chat do Zoom, o que significa que outras pessoas poderiam tentar invadir o site usando a senha.
Deficiências de segurança do Zoom
Na última semana, a plataforma foi atormentada por todos os tipos de mídia negativa, incluindo notícias de vazamentos de informações de clientes, brechas de segurança, alegações enganosas sobre sua criptografia de ponta a ponta, invasões de bate-papo, perguntas sobre o compartilhamento de dados do usuário com o Facebook e preocupações relacionadas à política de privacidade. Foi uma repentina reviravolta do destino para a Zoom, que se tornou o garoto-propaganda da resposta capitalista positiva ao coronavírus, depois de oferecer suas ferramentas gratuitamente a escolas. A empresa também cresceu massivamente graças ao maior número de pessoas fazendo home office à medida que a pandemia se espalhou, levando a um aumento no preço das ações.
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Mas a atenção negativa levou não apenas a uma queda no seu valor, como também a uma ação coletiva para enviar dados ao Facebook e questionamentos ao procurador-geral de Nova York. Resultado disso é que ontem (2) a SpaceX ordenou que a equipe deixasse de usar o Zoom por causa de suas deficiências de privacidade.
A crítica foi tanta que o CEO da empresa, Eric Yuan, escreveu um post de blog descrevendo como estava respondendo às acusações. Agora ele deixou de enviar dados para o Facebook, lançou correções para as deficiências de segurança em seus produtos Mac e Windows e parou de trabalhar em novos produtos para se concentrar na proteção dos usuários. Espere ver o Zoom se tornar muito mais seguro, graças a uma comunidade de usuários que está cutucando suas fraquezas.
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