Atire a primeira pedra quem nunca ouviu alguém dizer que não vê a hora de se aposentar para comprar uma casa na praia e, finalmente, aproveitar o tempo livre vivendo de poupança acumulada. Talvez, você mesmo já tenha dito algo parecido. O pensamento faz parte do imaginário coletivo de que, ao atingir certa idade, a pessoa já se encaminha para o fim da vida, de forma que não há mais como contribuir com a sociedade.
A realidade atual não poderia ser mais diferente. Com o aumento da longevidade, tudo indica que, ao completar 50 anos, as pessoas chegam apenas à metade de suas vidas – pessoais e profissionais. No Brasil, a população acima dos 50 anos já ultrapassa a marca de 50 milhões e, nas próximas duas décadas, a estimativa é de que mais da metade da força de trabalho do país seja composta por pessoas com 45 anos ou mais. Em 2050, o país será o sexto mais velho do mundo, à frente de todas as outras nações em desenvolvimento.
“Antes, esse seria o terceiro ato, o último momento da vida. Mas estamos vivendo mais tempo do que imaginávamos, e chegar aos 50 não é mais a última fase vivida. Por que a sensação aparece de forma mais clara? Esta é a geração que ainda convive com os pais e percebe a extensão da vida”, afirma Layla Vallias, especialista em economia prateada (atividades econômicas associadas às necessidades de pessoas acima dos 50) e cofundadora do Hype50+, empresa de marketing especializada no consumidor maduro.
É a chamada geração sanduíche, aquela que se sente responsável pelo bem-estar e segurança dos filhos e ainda convive com os pais – muitas vezes, também sendo responsáveis por eles. Hoje, temos até cinco gerações convivendo, o que altera o referencial que tínhamos anteriormente. Por isso, para muitos profissionais que já passaram dos 50, o momento não é de sombra e água fresca, mas de reinvenção. “É preciso fazer um mergulho interno para entender o novo papel. O que quer fazer, por quantas horas. É por isso que muitas vezes se busca por uma função que preencha o propósito, que seja emocionalmente envolvente”, pontua Layla.
Para Urânio Bonoldi, consultor em gestão e planejamento estratégico e especialista em transição de carreira, este é um período extremamente rico e necessário. A vida, afinal, seria melhor vista como ciclos e não como uma linha reta e contínua. “No primeiro, temos um grande aprendizado, é um período de absorção. No segundo, temos a aplicação de tudo isso, a realização. O último é de transmissão de sabedoria”, explica ele.
Está enganado quem pensa que só é preciso tomar uma grande decisão acerca do futuro profissional quando escolhemos a profissão, ainda no fim da fase escolar. No momento de reinvenção, a decisão é tão importante quanto e pode gerar uma dor emocional impactante, pela falta de perspectiva na escolha do que fazer.
Por isso, é essencial se planejar com antecedência. Apesar de não ser uma prática muito comum aos brasileiros, pensar na transição com calma é importante para que não surjam surpresas capazes de causar vazios que levem à depressão, reclusão em seu próprio mundo e, principalmente, sensação de fracasso. “Esta é a geração que está abrindo caminho para todas as outras em termos de envelhecimento e nova maturidade. Está ressignificando o que é ser velho, renomeando aposentadoria, restabelecendo ícones do passado com planos e projetos de vida”, afirma Layla.
Infelizmente, apesar das mudanças já tangíveis e dos números sobre o envelhecimento da população, o chamado ageísmo ainda se faz muito presente. De acordo com uma pesquisa realizada pela empresa de tecnologia de recrutamento InfoJobs com cerca de 1.600 profissionais brasileiros acima de 50 anos, 80% deles estão desempregados. Dos entrevistados, 80% afirmam que já sentiram preconceito pela idade em processos seletivos e 80% acreditam que profissionais mais velhos e mais novos não têm a mesma chance no mercado de trabalho. Para 52,8% dos consultados, as empresas não reconhecem o potencial dos profissionais que já passaram dos 50 anos. Os números são reforçados por uma pesquisa do Great Place to Work Brasil, de 2018, que mostrou que, em média, o número de trabalhadores acima dos 50 não passa de 3% nas 150 melhores empresas para trabalhar eleitas naquele ano.
Para Eva Bettine, gerontóloga e presidente da Associação Brasileira de Gerontologia, é preciso se preparar durante toda a vida para ter longevidade e vitalidade. “Nessa fase da vida [a partir dos 50 anos], a criatividade ainda está em plena forma, assim como o vigor físico e a capacidade intelectual. As ações para ter longevidade com saúde e ânimo são necessárias ao longo da vida inteira, ou pelo menos ao longo da vida adulta, com atividades físicas e, na mesma proporção, atividades intelectuais. Estimular o nosso cérebro é o melhor exercício, impor-se desafios mentais, exercitar o raciocínio lógico, não se acomodar e não se entregar”, explica.
Foi pensando nestes dados e na atual realidade que selecionamos dez histórias de sucesso, de pessoas que se reinventaram depois dos 50 anos, para a primeira lista Forbes 50+. São 12 nomes de diferentes segmentos que buscaram a mudança por meio da vitalidade, conseguiram encontrar seus propósitos e seguir um novo caminho profissional.
Entre as personalidades, a atriz Gloria Pires, que descobriu o consumo sustentável e criou a plataforma BemGlô; o ex-CEO da Azul Pedro Janot, que após sofrer um acidente assumiu a missão de transmitir o seu conhecimento acumulado em anos no comando de grandes empresas; e o casal octagenário Takeo e Nobue Kimura que, há alguns anos, partiu rumo ao sertão nordestino para plantar figos.
Conheça, na galeria a seguir, as dez histórias que compõem a lista Forbes 50+ inaugural:
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Marcelo Faustini Gloria Pires, 57 anos, atriz e empresária
Pela vontade de compartilhar seu lifestyle e a conversa crescente sobre sustentabilidade no país, a atriz lançou o projeto BemGlô em 2014.
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Divulgação Deives Rezende Filho, 59 anos, consultor de diversidade
Com atuação em grandes bancos nacionais e internacionais, Deives Rezende Filho se reinventou como consultor de diversidade e coach.
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Divulgação Pedro Janot, 62 anos, consultor e palestrante
Com passagens como líder de grandes empresas como Richards, Zara e Azul, Pedro Janot assumiu um novo desafio após o acidente que o deixou tetraplégico: CEO da própria vida.
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Carlos Sales Vita Christoffel, 58 anos, modelo
Após os 50, Vita Christoffel relembrou do sonho de infância de estar nas passarelas e investiu na carreira de modelo.
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Divulgação Theo van der Loo, 66 anos, empreendedor e consultor
Com décadas de experiência na indústria farmacêutica, o executivo se reinventou após a aposentadoria e, além de consultor de diversidade, se tornou dono da startup Natuscience.
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Acervo Pessoal Takeo e Nobue Kimura, 88 e 89 anos, agricultores
Com enorme sentimento de gratidão pelo país que o recebeu de braços abertos, o imigrante japonês Takeo Kimura partiu para o Nordeste para plantar figos ao lado da esposa, Nobue.
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Divulgação Dimas Moura, 63 anos, produtor de conteúdo
Após décadas atuando no setor da tecnologia, Dimas Moura investiu na carreira de influenciador digital e cria conteúdo para o canal do YouTube “Mais 50”.
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Luisa Santosa Marta Monteiro e Veronique Forat, 67 anos e 64 anos, empreendedoras
A dupla se conheceu em um evento sobre reinvenção após os 60 e, do interesse em comum por moradia compartilhada, nasceu a startup Coliiv.
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Divulgação José Luiz Tejon, 68 anos, escritor e palestrante
Após um reencontro com um amigo de adolescência, Tejon se reconciliou com a própria história e reinventou a carreira, passando a atuar na área motivacional.
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Acervo Pessoal Leila Gravano, 55 anos, empreendedora
Ao se reinventar na carreira de professora de inglês, Leila enfrentou dificuldades para encontrar auxílio para empreender e transformou a própria dor em oportunidade, criando o projeto de mentoria Empreendendo aos 50.
Gloria Pires, 57 anos, atriz e empresária
Pela vontade de compartilhar seu lifestyle e a conversa crescente sobre sustentabilidade no país, a atriz lançou o projeto BemGlô em 2014.
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