Poderia o próximo Steve Jobs ser uma mulher negra?

21 de maio de 2017
Reprodução/Forbes

Empreendedora Angie Rich (Reprodução/Forbes)

Steve Jobs revolucionou a indústria dos computadores, a maneira como escutamos música e como usamos o telefone. Angel Rich quer revolucionar a educação financeira e nivelar a realidade entre aqueles que possuem dinheiro e os que não possuem. Mas ela está jogando em um campo desigual: Jobs era um homem branco e Angel é uma mulher negra.

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A empreendedora tem um aplicativo e um incrível sucesso. O app, batizado de Credit Stacker, é divertido, atraente e fácil de usar. Como agências do governo e publicitários pagam pela tecnologia, Angel Rich está disponível gratuitamente em 40 países, quatro idiomas e já foi baixada 24.000 vezes. Qualquer um pode jogar – já foi testado por usuários de quatro a 80 anos. Especialistas em jogos acreditam, depois de algumas avaliações, que ele acabará sendo tão popular quanto o xadrez, sendo jogado por gerações.

Por meio de técnicas de gamificação, os módulos do Credit Stacker ensinam a elaborar orçamentos, economizar, investir, gerenciar créditos, fazer transações bancárias, simular e analisar financiamentos de carros e imóveis, calcular impostos, empreender, fazer o planejamento de recursos estudantis, entre outras funções. É útil para planejar o futuro financeiro – desde o berço até a aposentadoria.

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Já as credenciais de Angel mostram que ela é uma vencedora. Enquanto estava na faculdade, ganhou um desafio promovido pela gigante de investimentos Goldman Sachs pelo desenvolvimento de um algoritmo que resultou em um ganho líquido na carteira de 2% quando o mercado entrou em declínio em 2008. Ela também venceu uma competição da Prudential National Case por seu planejamento de marketing para alcançar millennials. Como resultado da vitória, ganhou a vaga que queria na companhia seguradora: analista de pesquisa de mercado global.

Angel começou a pensar no Credit Stacker em 2009, mas não deixou o seu trabalho até 2012. Ela gerou US$ 6 bilhões em receita para a Prudential e recebeu um bônus abaixo do esperado – US$ 30.000 – e uma oferta de custeio de um MBA na Wharton. Ela decidiu, então, se despedir. Em 2013, a empreendedora lançou a The Wealth Factory Inc., uma empresa sediada em Washington especializada em educação financeira e mão-de-obra para desenvolvimento de jogos tecnológicos também baseados em educação. Ela escreveu um livro sobre o porquê da existência de uma lacuna entre as Américas negra e branca – History of the Black Dollar, lançado em abril.

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A empresa e o produto desenvolvido por Angel ganharam inúmeros prêmios, entre eles, o título de melhor produto de educação financeira dos Estados Unidos, concedido por Michelle Obama na Casa Branca; o melhor jogo de aprendizado do país segundo o Departamento de Educação; US$ 10.000 do JPMorgan Chase por ser considerado a melhor solução do mundo para redução da pobreza; US$ 10.000 do Industrial Bank; e outros US$ 10.000 pela vitória na 43ª competição entre empresas do People Choice.

Ao mesmo tempo, Angel foi a vencedora da competição Black Women Talk Tech; fez parte da edição 2016 do Historically Black Colleges and Universities 30 under 30; e recebeu um convite de doutorado de Harvard em troca de suas aulas de tecnologia da educação.

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E, apesar de tudo isso, os financiamentos têm sido um enorme problema para Angel. “Meu concorrente levantou US$ 75 milhões”, afirma ela, inconformada. “Eu ganhei os prêmios de melhor produto financeiro e melhor jogo de aprendizado. E minha empresa arrecadou apenas US$ 200.000.”

De acordo com um levantamento do ano passado do Pitchbook, o capital de risco é realmente muito cruel com as mulheres. Do universo de empresas lideradas por mulheres, apenas 17% receberam financiamentos dos capitalistas de risco. Quando o critério é o total de dinheiro investido, o índice é ainda menor: 9%.

O cenário é pior ainda para mulheres negras. Mesmo que elas representem 18% do total de mulheres nos Estados Unidos, correspondem a apenas a 4% de todas as mulheres que lideram startups de tecnologia no país, de acordo com o #ProjectDiane.

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Angel poderia contratar homens brancos e vê-los montarem a empresa, mas ela quer provar que mulheres negras podem fazer isso. A empreendedora reuniu uma equipe de alto nível com suas próprias credenciais de sucesso. A COO Courtney Keen foi a cofundadora da Wealthy Life e administra US$ 1,4 bilhão em contratos com a marinha norte-americana. Dominique Broadway, premiada especialista em finanças pessoais, é a diretora-executiva de estratégia.

A partir deste momento, em que Angel está conseguindo provar que o grande volume disponível de dinheiro poderia ser utilizado para educar as pessoas financeiramente e, assim, diminuir a disparidade de riquezas, talvez as empresas de capital de risco entendam a mensagem: pessoas que fazem grandes mudanças não são apenas homens e brancos.