O nome Cielo provavelmente o remete à máquina de compra e venda por débito ou crédito. Em quase uma década, a empresa consolidou-se como uma das principais operadoras de serviço financeiro do país, com transações que atingiram 548,2 bilhões de reais no ano passado, o equivalente a quase 10% do PIB nacional no período. Agora, a companhia, eleita por FORBES a 52ª companhia mais inovadora do mundo em 2016, e a única brasileira a figurar na lista, quer que você esqueça esse rótulo, para se estabelecer como player de diversos serviços financeiros.
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“Não somos uma empresa de tecnologia que tem uma área de inovação: esta é a parte central da estratégia, está no nosso DNA”, afirma Rômulo de Mello Dias, 55 anos, CEO da empresa até janeiro de 2017, quando será substituído por Eduardo Gouveia, diretor-presidente da Alelo. A área de pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias, produtos e serviços ocupa grande parte dos cerca de 400 milhões de reais investidos pela empresa anualmente. Além disso, o executivo reúne-se semanalmente com Danilo Caffaro, vice-presidente executivo de produtos, negócios, inovação e marketing, e outros membros da diretoria, em uma espécie de fórum para debater os rumos nas áreas de inovação e tecnologia da informação. “Evitar que o sistema seja só passar cartão é o nosso objetivo”, afirma Caffaro, 34.
O maior passo da companhia neste sentido foi dado em abril, com o lançamento da Cielo Lio, uma ferramenta de pagamentos que funciona basicamente como uma máquina smart que oferece uma série de serviços, como catalogação de produtos, acesso a relatórios de vendas, comprovantes digitais e aquisição de recebíveis. “Quando o smartphone foi lançado, ninguém imaginava que precisava de uma série de funcionalidades que ele tem. O que a gente fez foi, na perspectiva do varejista, criar necessidades que ele nem sequer imaginava que tinha”, afirma o CEO.
A máquina, oferecida a 239,90 reais por mês, é uma plataforma aberta baseada em Android, na qual desenvolvedores podem criar aplicativos para se relacionarem com ela. “Se tem uma filial de restaurante, e quer uma solução bem específica, poderá tê-la homologada na Cielo Store.”
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“Não dava para fazer inovação só entre a gente. Apesar de termos feito do hardware ao software da Cielo Lio, estamos pensando na plataforma: estar no Android, que tem mais de 200 mil desenvolvedores no Brasil, é justamente para proporcionar um ambiente de inovação colaborativa”, afirma Caffaro. A empresa espera bater a meta de 50 mil máquinas em operação até dezembro. Em quatro anos, as previsões são de um milhão de terminais.
A companhia está acostumada com mudanças. Fundada em 1995 como VisaNet, a empresa era a única operadora da bandeira no Brasil. A marca Cielo surgiu em dezembro de 2009, depois que uma medida do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e do Senado Federal acabou com a exclusividade nas operações financeiras. Com a nova roupagem, a companhia começou a investir mais em e-commerce e mobile — além da maquininha, claro. “Na nossa visão, eram as verticais que seriam mais facilmente atacáveis”, diz Dias.
O executivo carioca já estava à frente da companhia havia um ano quando a mudança ocorreu. Sob seu comando, poucos meses antes, em junho de 2009, a operadora havia aberto capital na Bovespa, na maior oferta pública inicial de ações (IPO) do Brasil até então: 8,4 bilhões de reais. Hoje, a Cielo opera em 2,2 milhões de pontos de venda em mais de 5.500 municípios brasileiros, e está avaliada em 20,6 bilhões de dólares, de acordo com a lista anual de FORBES das maiores empresas do mundo, publicada em maio de 2016.
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Mas a Lio está longe de ser a única opção de futuro da empresa. “A gente acredita que qualquer device conectado pode ser um ponto de venda, e ele pode ter sua maneira de aceitar um cartão”, afirma Caffaro. Nessa linha, a Cielo lançou recentemente um botão físico de pagamento para compras on line. O projeto ainda sem nome, que funciona em piloto na varejista de produtos naturais Organomix, segue a mesma linha do Dash Button, da Amazon, em que a plataforma armazena as credenciais de compra do cliente.
“Você tem que dar um menu de opções para que o cliente escolha qual vai utilizar para fazer sua operação”, diz Rômulo. “O cartão ainda é muito simples: você insere e digita a senha. Acho que o celular vai ser cada vez mais e mais um meio de pagamento… O que interessa para nós, na realidade, é dar a opção. A gente não acredita que tem que direcionar pessoas para usarem determinada tecnologia. Deixe o cliente escolher o que quiser usar.”