Warren Buffett diz que “as correntes do hábito são leves demais para serem sentidas até que sejam pesadas demais para serem quebradas”. O sentimento descreve perfeitamente a fluência tanto na quantidade de tempo que as pessoas trabalham quanto nos locais onde o trabalho é feito. É um padrão traiçoeiro que as leva a acreditarem que mais horas trabalhadas são automaticamente traduzidas em maior produtividade.
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Aaron Edelheit se recusa a concordar com isso. Em “The Hard Break: The Case for the 24/6 Lifestyle” (“Difícil Mudança: O Caso do Estilo de Vida 24/6”, em tradução livre), o autor traz um forte argumento sobre por que ter um descanso semanal ou aproveitar um sábado. Ele não fala apenas de descansar o dia todo, mas defende que “fazer algo diferente permitirá que você teste seu cérebro e tenha algum insight potencial ou maior entendimento”.
Além de basear sua recomendação em pesquisas confiáveis e interessantes, Edelheit também é um ótimo contador de histórias, com dezenas de exemplos reais de como substituir hábitos de trabalho enganosamente letais por comportamentos que melhoram tanto sua saúde quanto sua produtividade.
Em entrevista para a FORBES, Edelheit forneceu insights que todo workaholic (confesso ou não) deveria considerar. Veja, a seguir, os principais trechos da entrevista:
FORBES: Embora pareça contra-intuitivo, a sociedade parece conferir um status especial às pessoas que trabalham demais e vivem cheias de compromissos. O que leva a essa visão descontrolada das ocupações?
Aaron Edelheit: Volte no tempo e você descobrirá que os ricos não eram os que trabalhavam como loucos, mas sim os pobres. Ser um banqueiro significava trabalhar das 9h às 15h. Todos aspiravam pela “boa vida”. Mas agora, 20% dos que ganham mais têm duas vezes mais chances do que os 20% mais pobres de trabalharem mais de 50 horas por semana.
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À medida que passamos mais tempo online, pode ser que precisemos sinalizar nosso status de outra forma e que seja por meio da ocupação. Não sei qual é a resposta, mas quando o “Wall Street Journal”, cujos leitores são ricos, escreve que 4 horas da manhã é o melhor momento para trabalhar, algo estranho está acontecendo.
F: Para muitos workaholics, é fácil roubar mais tempo de trabalho das horas familiares. Eles pensam: “Eles entenderão. Afinal de contas, estou fazendo isso por eles”. Qual é o custo dessa mentalidade para a vida familiar e a produtividade genuína?
AE: Se você é um workaholic como eu, você se satisfaz com conquistas, seja elas quais forem. Fechar um negócio, fazer uma venda, enviar um e-mail apenas já é, muitas vezes, a realização de uma tarefa. Porém, ao chegar em casa, seus filhos podem estar se comportando mal e a louça precisa ser lavada, ou seja, não há um senso real de realizações de curto prazo que são proporcionadas pelo trabalho.
O problema é que as relações pessoais são a chave para a felicidade e a satisfação na vida e exigem um compromisso a longo prazo, mesmo sem qualquer sentido de realização em um curto período.
O custo de dedicar-se em excesso ao trabalho pode ser bastante alto, pois os casamentos podem terminar em divórcio, as crianças podem não se sentir conectadas aos pais e os níveis de estresse do fracasso em casa acabarem se transformando em lutas no trabalho.
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F: Você cita um estudo que mostra que recentemente os norte-americanos deixaram 662 milhões de dias de férias pagas sem uso. A princípio, os empregadores podem até concordar com isso, mas quais impactos a privação de descanso pode causar na produtividade?
AE: Meu livro acabou com 200 notas de rodapé, apesar da remoção de dezenas de outras referências. Eu estava preocupado que ele parecesse uma publicação científica ou médica. Aqui está o resumo: o excesso de trabalho é ruim para sua saúde física e mental, produtividade, criatividade e relacionamentos pessoais. Basicamente, o excesso de trabalho prejudica a longo prazo.
Especificamente para a produtividade, o desempenho cognitivo (resolução de problemas e criatividade) diminui à medida que o cérebro se cansa. Quando estamos cansados, somos mais propensos a erros. Então, se você quer ser menos produtivo, menos criativo e mais propenso a erros, basta tirar menos férias.
F: Para as pessoas que resistem à ideia de fazer uma pausa aos sábados, que levam um estilo de vida dependente do trabalho, quais são os primeiros passos para reverter isso?
AE: Eu sou tão viciado em meu celular e computador quanto qualquer outra pessoa e, para mim, tomar pequenas atitudes ajudou a mostrar que eu poderia fazer isso. Tente desligar o telefone e o desktop por um período de três a quatro horas, um dia, durante o final de semana.
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Outra dica é marcar uma refeição com a família e/ou amigos. Durante a semana, eu normalmente faço o que chamo de “comer em pânico”. Coloco comida na boca o mais rápido possível. Já aos finais de semana, tento fazer uma refeição tranquila. A sensação de relaxamento, prazer e satisfação é algo que todos devem ter depois de uma longa semana.
Os benefícios de reunir a família e amigos se estendem aos filhos. Quer que eles tenham um desempenho acadêmico melhor, menos chances de envolvimento com drogas e álcool e se sintam mais próximos de você como pai ou mãe? O Centro Nacional da Universidade de Columbia de Dependência e Abuso de Substâncias aconselha ter uma refeição compartilhada regular com seus filhos como uma das formas de prevenção.
E a refeição conjunta é apenas parte da ideia de tornar seu sábado divertido e especial. Faça coisas que você normalmente não consegue durante a semana. Tente ler por prazer ou tirar uma soneca. Coisas simples como essa são transformadoras.
F: Você escreve sobre o poder dos “hábitos fundamentais”. O que é um hábito fundamental e que efeito ele pode ter na capacidade de uma pessoa de tirar uma folga das rotinas diárias?
AE: Hábito fundamental é aquele que afeta todos os setores da vida, não apenas o comportamento que você está tentando mudar. O conceito vem do maravilhoso livro “The Power of Habit” (“O Poder do Hábito”, em tradução livre), de Charles Duhigg.
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É possível que o segredo do sucesso da Chick-fil-A é o hábito básico da empresa de não abrir aos domingos. Ao focar no cuidado com seus funcionários e de suas famílias durante a folga estipulada no primeiro dia da semana, a companhia viu uma série de benefícios que a levaram a agir mais. A empresa passou a oferecer bolsas de estudo a funcionários temporários, preocupando-se mais com a qualidade dos alimentos, atendimento ao cliente e até mesmo cuidados com os frangos que são servidos.
Todos as lojas da rede de fast-food são fechadas aos domingos e esse hábito se transformou em uma vantagem fundamental sobre seus rivais. A empresa faturou US$ 9 bilhões no ano passado e a receita média foi quatro vezes maior que a do KFC, que abre todos os dias. A Chick-fil-A tem, regularmente, melhores posições nos rankings de atendimento ao cliente, maiores pontuações de limpeza e funcionários mais engajados. O dia do descanso transformou o Chick-fil-A em uma potência.