Um terceiro estudo, da Universidade de Illinois, sugere que um pouco de narcisismo é necessário para ser um bom líder. O documento descobriu que pessoas com índices moderados de narcisismo alcançaram “um bom equilíbrio entre ter níveis suficientes de autoconfiança, mas não manifestam os aspectos negativos e anti-sociais do narcisismo que envolvem colocar os outros para baixo para se sentirem bem consigo mesmos”.
Encontrar o equilíbrio certo
A pesquisa nos lembra que os líderes narcisistas podem ser extremamente sedutores. Sua confiança e capacidade de se autopromover podem torná-los muito atraentes, especialmente para organizações no meio de turbulências. Os pesquisadores analisaram mais de 150 estudos anteriores sobre o tema e descobriram que os líderes narcisistas podem apresentar riscos extremos para qualquer organização.
“Existem líderes que podem ser idiotas abusivos, mas não são realmente narcisistas”, explicam. “A distinção é o que os motiva. Eles são levados a alcançar algum objetivo maior? Eles realmente querem melhorar a empresa ou o país ou realizar algum objetivo louco, como popularizar os carros elétricos e talvez colonizar Marte ao longo do caminho? Ou tudo gira em volta do seu próprio engrandecimento?”
Mudança de direção
A pesquisa constata que os líderes narcisistas podem ser bem-sucedidos em promover mudanças duradouras nas organizações e até nos países, eles lideram, mas que essas mudanças nem sempre são positivas e o impacto negativo pode durar muito mais que seu mandato pessoal.
Isso ocorre porque eles desenvolvem uma cultura em que vozes divergentes são esmagadas, mas elogios e servidão são recompensados. Um ar distinto de apatia e cinismo permeia o ambiente, com uma cultura de interesse próprio substituindo qualquer objetivo compartilhado.
Distorção das regras
O interesse pessoal pelo qual a maioria dos líderes narcisistas opera também pode levá-los a distorcer ou quebrar as regras para ter sucesso. Podem resultar em fraudes e outros crimes de colarinho branco, com líderes narcisistas também apaixonados por evasão fiscal agressiva e manipulação de ganhos.
Isso geralmente ocorre como resultado de níveis mais baixos de integridade do que os líderes não narcísicos, de modo que suas palavras e ações raramente se alinham. Quando em posição de poder, essa tendência só pode ser exacerbada.
“Ser eleito ou nomeado para o cargo valida seu senso de direito. Mesmo que a pessoa não seja narcisista, o poder desinibe. Ele encoraja as pessoas a cederem aos piores instintos, então agora você tem as duas coisa trabalhando juntas”, dizem os pesquisadores.
Um pensamento preocupante é que pouco da autoconfiança dos narcisistas se baseia em qualquer evidência real. Não vem de inteligência elevada ou por análises de desempenho de seus pares. De fato, as atitudes desses líderes estão mais intimamente associadas a uma maior tomada de risco do que a maiores retornos sobre esses investimentos.
Necessidade de ser amado
O estudo sugere que o maior perigo representado pelos líderes narcísicos, no entanto, é a influência deles sobre os outros na organização. Como qualquer líder, o narcisista ajuda a moldar a cultura de sua organização de acordo com sua própria imagem. Como tal, os comportamentos nefastos descritos acima rapidamente se normalizam.
“Quando estão no poder, os narcisistas consolidam sua posição demitindo todos que os desafiam”, dizem os pesquisadores. “Então, você se vê em uma cultura individualista, sem trabalho em equipe e baixa honestidade. Documentamos isso em várias empresas de tecnologia do Vale do Silício.”
As dificuldades enfrentadas por Dara Khosrowshahi, da Uber, refletem a cultura arraigada formada pelo ex-CEO Travis Kalanick. Os pesquisadores esperam que esse seja o corpo de trabalho que reflete os danos que os líderes narcisistas podem causar a uma organização, e que as pessoas não queiram que o mesmo ocorra em outros lugares.
“O que seria realmente mais esclarecedor seria conversar com as pessoas que trabalharam para elas e com elas no passado”, explicam os pesquisadores. “Você precisa obter dados de pessoas que viram essa pessoa operando. Mas isso normalmente não é o que acontece”.
Com o enorme impacto do coronavírus, os riscos envolvidos não poderiam ser maiores, por isso temos o dever de garantir a contratação das pessoas certas. Por mais tentador que o líder narcisista possa estar nestes tempos de crise, precisamos pensar além dessa tentação e selecionar líderes que possam deixar uma impressão duradoura da maneira certa.
Inserindo um grau de aleatoriedade
Depois de revisar a literatura existente e conduzir um grande experimento em laboratório, os pesquisadores acreditam que um processo de seleção aleatória poderia fazer um trabalho melhor para evitar arrogância nos líderes do que os processos atuais.
A pesquisa descobriu que, quando os líderes excessivamente confiantes eram selecionados aleatoriamente, eles eram menos inclinados a abusar de seu poder e mais inclinados a usá-lo para beneficiar o grupo como um todo. Quando os líderes pensam que triunfaram durante um processo de seleção competitiva, nenhuma dessas coisas ocorre.
E TAMBÉM: TikTok faz sucesso nos EUA, e executivo da Disney assume como CEO
Um processo de seleção mais aleatório parecia resultar em líderes mais humildes, o que pode levar a melhores resultados para as equipes e organizações que lideram. É improvável que os processos de seleção sejam alterados dessa maneira, mas ainda assim é um alimento interessante para o pensamento, enquanto tentamos manter nossa humanidade durante esses tempos difíceis.
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Tenha também a Forbes no Google Notícias.