O movimento de transformação das habilidades profissionais que vinha ocorrendo nos últimos anos no mercado de trabalho ganhou força com a pandemia do novo coronavírus. Para além das capacidades técnicas – as chamadas hard skills -, recrutadores e gestores passaram a priorizar habilidades comportamentais – as soft skills. Segundo o relatório do Fórum Econômico Mundial de 2020, o futuro do trabalho terá maior valorização das competências subjetivas.
O aumento do desemprego no Brasil durante o período da pandemia, de 12,6 milhões para 13,1 milhões de pessoas na comparação entre os trimestres encerrados em julho de 2019 e 2020, tornou a recolocação ainda mais difícil. Um estudo de 2019 feito pelo Institute for Business Value da IBM apontou que, nos próximos três anos, 120 milhões de trabalhadores nas dez maiores economias do mundo precisarão de recapacitação profissional. E, mais uma vez, as habilidades comportamentais aparecem com as mais exigidas.
Erika Linhares, executiva especializada em comportamento e cultura nas organizações e fundadora da B-HAVE, conta que o mercado percebeu que as hard skills, quando desacompanhada das soft skills, são um desperdício. Não adianta ter conhecimento sem saber como aplicá-lo, divulgá-lo e passá-lo para frente. “As empresas sabem que uma pessoa com habilidade comportamental desenvolvida corre atrás do aprendizado técnico. Mas se uma pessoa fica restrita às hard skills, o conhecimento ficava retido”, diz.
Porém, não são apenas os brasileiros em busca de um novo emprego que enfrentam desafios. As empresas também têm seus problemas. Apesar da expectativa em encontrar habilidades comportamentais em seus colaboradores, a oferta de pessoas com essas características nem sempre é farta. A executiva aponta que, por exigir um processo intenso de autoconhecimento, desenvolver habilidades comportamentais é muito mais “demorado e dolorido”, uma vez que os profissionais precisam “parar de julgar o outro e olhar para si mesmos, identificando as necessidades de mudança”.
Justamente por terem uma abordagem mais subjetiva, as soft skills também variam mais conforme as situações de trabalho. A especialista em recrutamento e seleção da Robert Half, Erika Moraes, diz que, “em geral, situações em que os profissionais são expostos a ambientes hostis, chefias inadequadas, pressão do mercado e desequilíbrio familiar tendem a desestabilizar as habilidades comportamentais”. Para Maria Odete, especialista em gestão por competência, o tripé que complementa o profissional ideal seria formado por competências voltadas para resultados – organização, planejamento, empreendedorismo e proatividade –, habilidades voltadas para clientes – comunicação, negociação, saber ouvir e empatia – e, por fim, as competências deliberantes – liderança participativa e treinadora. “Mas sempre falta uma competência”, afirma. “E aí vem a missão da empresa para montar um plano de desenvolvimento de soft skills e complementar o perfil conforme a necessidade do cargo.”
Como uma via de mão dupla, a companhia e o funcionário devem trabalhar de maneira conjunta para desenvolver o corpo organizacional. Para Erika Linhares, “não se pode demitir alguém porque a pessoa tem um problema em alguma habilidade comportamental”. E mesmo sem desenvolver as capacidades exigidas para um determinado cargo, o caminho a ser seguido pela empresa é o de recolocação em outra função. Segundo Maria Odete, a demissão deve ser a última opção considerada. “Quando isso acontece, quase sempre é falta de investimento no profissional”, diz.
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Se o conhecimento de um tipo programação específica pode se tornar obsoleto com o tempo, habilidades como criatividade, liderança e trabalho em equipe são atemporais.
Mais do que ficar discorrendo sobre as características de cada uma das soft skills, a Forbes conversou com especialistas em recursos humanos de empresas dos mais variados portes, incluindo HR Techs, e pediu indicações de profissionais que representassem, com excelência e na prática, cada uma delas.
Veja, na galeria de fotos a seguir, 9 executivos ou empresários que são verdadeiros exemplos de soft skills de acordo com os especialistas consultados:
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Larissa Grabowski/Divulgação Carlos Eduardo Spezin, CEO da Doctoralia
“Carlos tem uma enorme capacidade de relacionamento, além de tolerância e empatia. Ele sabe ouvir e não fica focado apenas na competição dentro de uma empresa. É capaz de entender que ninguém faz nada sozinho e que todo mundo pode agregar.”
– Erika Linhares, executiva especializada em comportamento e cultura organizacional e fundadora da B-HAVE
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Divulgação Flávio Augusto, fundador da Wise Up
“Percebo que Flávio tem um sentimento de gratidão não apenas pelos bons acontecimentos da sua vida. Sua gratidão está presente a todo momento, inclusive quando se refere a situações difíceis que reverteu ou transformou em conhecimento. E ele compartilha isso com o público de forma transparente e ética.”
– Fernando Medina, CEO da Luandre
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Divulgação Flávio Silva, CEO da Bollhoff
“Flávio é um destaque em intraempreendedorismo. Ele lida diretamente com a família acionista do grupo, o que não o impede de fazer transformações importantes na empresa alemã, remodelando-a para a realidade brasileira. Também criou oportunidades importantes que mudaram a companhia de patamar, tanto na criação de condições favoráveis para exportação, quanto no desenvolvimento de uma linha nova de produtos no Brasil que não existia em nenhum outro lugar no mundo.”
– Ricardo Basaglia, diretor geral do PageGroup
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Divulgação Juliano Antunes, fundador da Uliving Brasil
“Juliano é um exemplo a ser seguido no que diz respeito a trabalho em equipe. “Ele conseguiu montar um time jovem e engajado que entrega resultados, transmite com maestria à equipe os objetivos da empresa e isso se reflete nos resultados e no clima organizacional. Ele também sempre adotou uma postura de fácil acesso a todos, e sabe dar feedbacks construtivos que motivam todos a evoluir constamente.”
– Lucedile Antunes, fundadora e consultora organizacional da L. Antunes Consultoria & Coaching e coordenadora do livro “Soft Skills”, que será lançado pela editora Literare
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Divulgação Marcos Di Francesco, diretor financeiro da Bracell
“Tanto na construção de times quanto no relacionamento com diferentes stakeholders, Marcos é uma peça essencial na criação de um forte vínculo para estabelecer metas claras e um exemplo de comprometimento. Com empatia e preocupação com a equipe, tem uma vasta visão sistêmica de negócio, a principal característica para transparência, respeito, conhecimento e autonomia, características essenciais para que os colaboradores se sintam acolhidos e possam se desenvolver.”
– Cauê Fonseca, gerente sênior da Spring Professional
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Divulgação Patricia Pugas, diretora executiva de gestão de pessoas do Magazine Luiza
“Nos quase cinco anos à frente da área de recursos humanos do Magazine Luiza, Patricia tem sido um exemplo na resolução de problemas. Ela sabe guiar a equipe para buscar as próprias respostas e para que seja capaz de se adaptar e de atuar com criatividade frente aos desafios.”
– Felipe Calbucci, diretor da Indeed no Brasil
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Divulgação Renato Freitas, cofundador da Yellow, 99 e Ebah
“Renato é um exemplo no que diz respeito à inovação. Está entre as raras pessoas que conseguem combinar não só conhecimentos técnicos sólidos e profundos de negócios com uma excelente comunicação, capaz de compreender as diferentes motivações que impulsionam profissionais das mais diversas áreas.”
– Lachlan de Crespigny, cofundador da Revelo
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Divulgação Soraya Bahde, diretora de desenvolvimento de pessoas da Alelo
“Soraya é uma inspiração no quesito comunicação. Ela é capaz de levar a mensagem de forma muito clara sobre os objetivos da empresa aos colaboradores da Alelo [são mais de 800] e está sempre atualizada sobre a melhor forma de gerir pessoas. Isso passa muita segurança aos funcionários e facilita a disseminação das mensagens. Além disso, Soraya tem credibilidade para falar de novidades, inovações e novos projetos.”
– Marcel Lotufo, CEO e cofundador da Kenoby
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Divulgação Teresa Faleiro, diretora da Hidrovias do Brasil S.A.
“Teresa é responsável pelo jurídico, regulatório, riscos, compliance e auditoria interna da Hidrovias do Brasil. Habilidosa na interlocução com os mais distintos stakeholders e diligente na condução das mais desafiadoras negociações, ela é sinônimo de resiliência. Na empresa desde 2011, formou e desenvolveu uma equipe forte aos longo dos anos. No processo de abertura de capital, atuou fortemente para viabilizar o processo. Sempre resiliente, por mais desafiadoras que sejam as situações, ela reage rapidamente sem transmitir tensão.”
– Patricia Suzuki, diretora de gente e gestão da Catho
Carlos Eduardo Spezin, CEO da Doctoralia
“Carlos tem uma enorme capacidade de relacionamento, além de tolerância e empatia. Ele sabe ouvir e não fica focado apenas na competição dentro de uma empresa. É capaz de entender que ninguém faz nada sozinho e que todo mundo pode agregar.”
– Erika Linhares, executiva especializada em comportamento e cultura organizacional e fundadora da B-HAVE
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