O repentino modelo de trabalho remoto que as empresas tiveram que implementar durante a pandemia de Covid-19 impôs uma grande transformação na maneira como atuamos. Quase que do dia para noite, as empresas foram obrigadas a confiar completamente no meio digital e a repensar um novo modo de operar. Para entender o novo cenário, a Salesforce, empresa especializada em ferramentas de CRM, realizou o estudo “Série Global Stakeholder – O Futuro do Trabalho, Agora”, para o qual ouviu mais de 20 mil pessoas na Alemanha, Austrália, Brasil, Canadá, Estados Unidos, França, Índia, Japão, Nova Zelândia, Reino Unido e Singapura. O levantamento buscou esclarecer a percepção da população em relação ao futuro do trabalho e o impacto da pandemia na relação entre trabalhadores e empresa. Apenas no Brasil, foram entrevistadas 2 mil pessoas.
Fabio Costa, general manager da Salesforce no Brasil, analisa que, durante o período de pandemia, o trabalho remoto começou a entrar na vida das pessoas de forma mais definitiva. “Os profissionais não têm mais medo de serem julgados negativamente em função de trabalhar de forma remota e o home office passa a ser uma nova alternativa”, comentou durante a apresentação dos resultados da pesquisa. Para o executivo, “as empresas entenderam que a tecnologia e os modelos de negócios evoluem tão rapidamente que não há como ser competitiva se não participar ativamente da formação da mão de obra que emprega”. Em uma intensa mudança cultural, o processo de educar os funcionários tornou-se essencial, e preparar a força de trabalho passou a ter respaldo da tecnologia.
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Apesar dessa reestruturação no mercado, o estudo mostrou que a percepção dos brasileiros em relação às mudanças nas dinâmicas de trabalho não indica, inicialmente, um cenário positivo. Cerca de 89% dos profissionais do mercado brasileiro que participaram da pesquisa não acreditam que a desigualdade de renda esteja melhorando, enquanto 81% não enxergam um melhor contexto de igualdade social no país. Na edição do ano passado, esse índice era de 69%. Para Costa, é papel da empresa prover a capacitação para a nova forma de trabalhar. “Conseguimos fazer a inclusão digital independentemente do nível de educação do funcionário. Haverá aumento da possibilidade de geração de emprego mas, principalmente, de maior aproveitamento de mão de obra nacional.”
Protagonismo das empresas
Na nova forma digitalizada de trabalho, 70% dos entrevistados acreditam que a diminuição das desigualdades globais deveria ser a grande prioridade das empresas. Segundo a pesquisa, o Brasil destacou-se como o país em que as pessoas têm a maior expectativa de que as companhias tenham um papel protagonista na transformação da vida em sociedade, principalmente as da iniciativa privada. O levantamento concluiu que 82% dos brasileiros do estudo confiam às empresas a responsabilidade para construir um futuro melhor, índice que fica apenas atrás da Índia.
“A tecnologia aplicada ao desenvolvimento de competências prepara o cidadão para o novo mercado de trabalho que está emergindo independemente de qualquer decisão econômica ou política”, aponta Costa. Segundo a pesquisa, 55% das pessoas não confiam em governos para construir um futuro melhor. Para o executivo, o protagonismo das empresas como agentes de mudanças e a descrença no setor público reformulam o papel social da inclusão e melhoria da igualdade.
A venda e divulgação de um produto já não satisfazem a sociedade, e o compromisso social ascende, com o dever de engajar o público e apoiá-lo em momentos de crise. Os negócios, atualmente, são vistos como plataformas de mudança. Costa entende que é preciso “a coparticipação das empresas para que as pessoas sejam inseridas nessa nova economia e para que haja uma diminuição das desigualdades econômicas”.
A transformação digital é uma realidade, mas, mesmo assim, o executivo diz que ainda vai levar um tempo para transformar a forma de trabalho para boa parcela da população empregada. “Esse é o nosso grande desafio”, comenta.
Trabalho remoto
A imersão no desenvolvimento de técnicas para tornar a atuação remota viável estabeleceu posturas definitivas na reorganização mundial do modelo de trabalho. Costa aponta que 57% dos profissionais que estavam atuando de maneira presencial comentaram que conseguiriam trabalhar remotamente se sua empresa oferecesse uma tecnologia melhor. Diferentemente do que parece, o executivo analisa que esse não é um índice ruim, e que, pelo contrário, reflete o esforço das empresas para fazer o trabalho remoto viável em um prazo muito curto. “Antes da pandemia, havia poucas empresas orientadas com tecnologia ou muito dependentes de tecnologia com condição de fazer essa mudança rapidamente. O que foi analisado nos últimos meses foi uma aprofundamento enorme da transformação digital”, comenta.
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Para além da transformação impulsionada pela pandemia, a aceitação social do novo modelo de trabalho surpreendeu Costa. O estudo aponta que 52% dos entrevistados dizem que trocariam de emprego se isso significasse que poderiam trabalhar remotamente. “Me chamou a atenção ver as pessoas motivadas no trabalho remoto e demandando treinamentos para se prepararem para esse novo cenário”, diz.
O home office tem uma recepção muito boa na sociedade, segundo a pesquisa, mas a instabilidade da pandemia do coronavírus causa receio. Metade dos entrevistados se diz nervoso demais para buscar o aprendizado online neste momento. “Uma situação é ter home office em condições normais, com as escolas funcionando. Outra é o cenário atual de pressão social e dinâmicas familiares”, analisa Costa. “Ainda há grandes desafios, mas acredito que o engajamento em treinamentos será mais forte no pós-pandemia.”
Capacitação
Apesar da percepção de investimento tecnológico por parte das empresas, 71% dos entrevistados acreditam que o trabalho remoto é viável apenas para uma parcela da população. A transformação do mercado de trabalho passa a exigir o desenvolvimento de novas habilidades no home office, como a capacidade de adaptabilidade e colaboração. No entanto, a forte presença da tecnologia esbarra na falta de capacitação do corpo trabalhador, e obstáculos como falta de recursos, como computador e internet, passam a impor mecanismos financeiros como base para o atual modelo de mercado.
Mesmo assim, o estudo analisou que a capacitação online gera interesse de aprendizagem. Cerca de 87% dos entrevistados gostariam de ter acesso gratuito a treinamentos técnicos e 82% desejam capacitação em negócios. Regular a oferta de cursos para essa demanda emergente, segundo Costa, exigirá um respaldo das plataformas customizadas de tecnologia. E a responsabilidade de qualificar a mão de obra e agregar valor ao serviço do trabalhador deve estar a cargo da liderança.
Costa analisa que o atual momento exige uma conscientização “de cima para baixo” da organização para desenvolver mecanismos de trabalho para todos. “Para qualquer líder, é importante ter no radar as transformações tecnológicas do momento. Já para a gestão de recursos humanos, é essencial enxergar o gap e saber qual treinamento o profissional tem que fazer e entender o ritmo de cada integrante da equipe.”
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