A pandemia de Covid-19 transformou a forma como trabalhamos. Em janeiro de 2020, apenas 5,7% dos empregados trabalhavam exclusivamente em casa. Já em abril, esse número aumentou oito vezes, para 43,1%. Antes da crise sanitária, poucas organizações relataram que, pelo menos, metade de seus funcionários tinha horários “flexíveis” ou escolhia seus horários de trabalho. Agora esse número saltou para 85%.
Um cronograma flexível pode permitir que os trabalhadores equilibrem seus empregos com suas responsabilidades pessoais e requisitos de saúde pública. Nove em cada dez funcionários que se adaptaram ao home office durante o isolamento social agora relatam que desejam continuar trabalhando em casa em alguma função depois que o retorno aos escritórios for permitido.
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Embora a maioria dos empregadores planeje que alguns funcionários continuem flexibilizando suas horas quando o coronavírus estiver sob controle, muitos relutam nessa decisão. Alguns gerentes que gostam de “ver” seus funcionários trabalhando podem duvidar que eles estejam realmente produzindo quando não estão no escritório. Minha pesquisa, no entanto, identificou uma vantagem potencial do trabalho flexível: práticas de negócios mais éticas.
Energia e ética
A tendência é supor que pessoas ruins fazem coisas ruins e pessoas boas fazem coisas boas – e que nós próprios somos as pessoas boas que não ultrapassam os limites éticos. Mas os funcionários navegam constantemente por dilemas éticos no trabalho, e pesquisas revelaram que nosso comportamento oscila ao longo do dia. Qualquer um pode ser antiético em um determinado momento, dependendo das circunstâncias.
Em particular, os estudos apontam que o comportamento ético requer disposição, autocontrole e esforço. Como todos sabemos, nossos níveis de energia diminuem e fluem naturalmente ao longo do dia. E quando ela está baixa, é mais provável que nos comportemos de maneira antiética.
A pesquisa sobre fadiga também mostra que os níveis de energia seguem um ciclo diário previsível que está alinhado com o processo circadiano (influenciado pela luz, temperatura, movimento das marés, ventos, dia e noite). Os indivíduos têm sua própria energia natural e ciclos de sono — algumas pessoas são “cotovias” ou “pessoas matutinas” com um ritmo circadiano que é alterado no início do dia. Outras são “corujas” ou “pessoas noturnas”, que experimentam seus níveis de energia mais elevados no final do dia.
A pesquisa que conduzi com Brian Gunia e Christopher Barnes revelou que cotovias e corujas seguem padrões diferentes de comportamento ético e antiético durante uma rotina típica. Descobrimos que as cotovias são mais antiéticas à noite, quando sua energia está baixa, enquanto as corujas são mais antiéticas no início da manhã, quando podem sentir cansaço. Isso faz sentido, pois nossa energia pessoal é fundamental para resistirmos à tentação. E sugere que os funcionários vão se comportar de maneira mais ética se tiverem flexibilidade para seguir seu ritmo circadiano ao definir seus horários de trabalho.
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Rumo a um trabalho mais flexível
Os gerentes tendem a presumir que os funcionários que começam e terminam o trabalho no final do dia são menos conscientes e competentes, mesmo que seu comportamento e desempenho sejam exatamente os mesmos de alguém que trabalha para acordar cedo.
Contrariando esses pressupostos, nossa pesquisa sugere que forçar os funcionários a trabalhar em horários do dia inadequados ao seu cronotipo (diferenças pessoais nos ritmos circadianos) aumenta o risco de comportamento antiético. Os líderes que podem incorporar horários de trabalho flexíveis podem observar um aumento nas decisões éticas em sua equipe.
Os empregadores e os funcionários enfrentaram desafios sem precedentes no último ano. Embora não esteja disponível para todos, horários de trabalho flexíveis podem ser incorporados sempre que possível. O aprimoramento da ética nos negócios é apenas uma vantagem de fazê-lo. Permitir aos funcionários a liberdade e a flexibilidade para decidir quando trabalhar também melhora as práticas de negócios e o bem-estar dos funcionários. Os empregadores devem aproveitar a oportunidade para sair da pandemia com uma estrutura melhor e mais ágil que capacite os funcionários a otimizar seus ciclos de energia para o benefício de todos.
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