Quase US$ 11 trilhões. Este é o valor da contribuição anual das mães à economia do mundo caso seu principal trabalho – o cuidado – fosse remunerado. A informação é da Oxfam, organização internacional que atua para encontrar soluções para os problemas da pobreza, desigualdade e injustiça, que também descobriu que as mulheres dedicam, juntas, 12,5 bilhões de horas todos os dias para criarem seus filhos e manterem a família.
O dilema do universo femino se impõe com mais força à medida que os desafios econômicos avançam: na maioria das vezes, as mães precisam, além de cuidar das crianças, levar renda para dentro de casa. Segundo uma pesquisa feita pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 43% dos lares brasileiros são chefiados por mulheres. Assim, a dupla jornada se torna, se não necessária, inevitável. Ao mesmo tempo, são elas que sofrem a maior resistência do mercado de trabalho: 52% das mães afirmam ter sido confrontadas no emprego durante a gravidez ou ao voltar da licença-maternidade, de acordo com a pesquisa “Panorama Mulher 2019”, realizada pelo Insper.
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Na pandemia, o cenário se agravou. Com escolas fechadas e a vida pessoal e profissional convivendo entre quatro paredes, foram elas, de novo, que mais saíram perdendo. Ainda segundo dados do IBGE, até o terceiro trimestre de 2020, 8,5 milhões de mulheres tinham perdido o emprego no país. O instituto estima que a inatividade seja motivada tanto pelas empresas quanto pelas próprias profissionais, já que 50% delas passaram a cuidar diretamente de outra pessoa durante o isolamento – caso das mães solos, que já somam 11 milhões no território brasileiro. No empreendedorismo, o Sebrae aponta a maternidade como a principal responsável pelo fechamento de 1,3 milhão de negócios liderados por mulheres em 2020.
Nos últimos anos, algumas iniciativas tentaram minimizar os obstáculos enfrentados por mulheres com filhos no mercado de trabalho. Além de oferecer vagas flexíveis, que facilitem a dinâmica familiar, essas plataformas auxiliam na recolocação profissional por meio de programas de capacitação e mentoria. Neste 9 de maio, reunimos três empresas que ajudam as mães a darem conta da carreira de maneira saudável e sem abandonar o cuidado com a família:
SCOOTO
A ideia surgiu quando a empresária percebeu que muitas colegas não se identificavam mais com o modelo do mercado de trabalho depois de se tornarem mães. O problema se confirmou quando a própria Marina engravidou. “Foi quando caiu a ficha e eu percebi que tinha que fazer algo para mudar isso. Melhor ainda se fosse para usar essa mão de obra extremamente qualificada e diminuir as dores de todas essas mulheres.”
Com um processo seletivo remunerado, no qual as candidatas são pagas enquanto cumprem um período de experiência no trabalho, a SCOOTO seleciona as mães através de um formulário, onde cada uma deve escrever a história da sua vida. “A gente quase não olha currículo, eu prefiro que elas saibam escrever bem, que tenham empatia e aprendam rápido. Normalmente, um perfil muito ágil é a mãe solo, sempre pronta a se virar”, diz.
As habilidades da maternidade também fazem parte da cultura da empresa: o cuidado e a empatia, por exemplo, acabam sendo diferenciais no desempenho do grupo. “A sociedade atribui à mulher o papel de cuidar e isso está na gente hoje. Quando recebemos um pedido pelo SAC de alguém que teve o cartão roubado, perguntamos primeiro se a pessoa está bem e só depois pedimos o número do CPF. Essa é uma habilidade que não aparece no currículo de ninguém.”
Atualmente com um time de 55 scooteiras, como são chamadas as mulheres que fazem parte do time, o plano é que, até o final do ano, este número já tenha triplicado. As mães interessadas podem acessar a plataforma pelo site e se inscrever no processo seletivo. O mesmo caminho serve para que as empresas solicitem mais informações e orçamentos do serviço antes de fechar um plano de consultoria completo.
A empreendedora lembra que trabalhar num SAC não significa ficar com a carreira estagnada. E conta que, inclusive, já contratou algumas das mães do projeto para atuarem na operação da SCOOTO, até como head. “O efeito no longo prazo de trabalhos como esse é a igualdade de gênero”, finaliza.
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B2Mamy
“O que eu faço agora?”, perguntou Dani Junco em 2016, antes de criar a B2Mamy. Mãe de primeira viagem, a empresária se via em um dilema: queria viver a maternidade sem culpa ao mesmo tempo em que prosperava na carreira. Por isso, acabou criando a empresa, que já ajudou quase 30 mil mulheres a se capacitarem e ingressarem no setor de tecnologia.“Nosso grande objetivo é que as mulheres tenham liberdade econômica e financeira para tomar decisões conscientes, seja sobre si, sua família, sua casa ou sobre sair de um relacionamento abusivo. E eu acredito que grande parte das decisões passa pela liberdade. Sem dinheiro, as pessoas são incapazes de tomar algumas atitudes”, diz a CEO.
Atualmente, a plataforma se divide em segmentos: o B2Mamy Pulse, programa de aceleração de startups em fase inicial que apoia mães que ambicionam desenvolver o seu próprio negócio; o B2Mamy Start, mentoria com especialistas, aulas teóricas e ferramentas para esboçar novos modelos de empresa; e o Ela é CTO, programa que capacita mães para ingressarem na liderança do mercado tecnológico. O mais recente, Ela é Social, é um curso gratuito que ensina a profissão digital para mulheres periféricas de todo o Brasil.
A ponte entre as mães e as empresas é feita por meio de um sistema que armazena os currículos e faz um filtro para os processos seletivos mais adequados. Outra maneira de acessar as oportunidades é pelo grupo B2Manas, no Facebook. Lá, a equipe dispara as vagas disponíveis no mercado family-friend. Para ingressar no projeto basta escolher o segmento mais adequado no site ou clicar em “faça parte”.
“Além das 30 mil mulheres que passaram pelas nossas trilhas, temos 200 startups cadastradas. Nosso último trabalho na periferia ajudou 100 mães, sendo que mais de 20 delas já conseguiram largar o antigo emprego para atuar agora no meio digital, em regime de home office”, explica Dani. E a B2Mamy não trabalha apenas com o sistema remoto. Segundo a fundadora, as mães conseguem se organizar para atuar em qualquer espaço que as respeite. “Maternidade é potência e expansão. Quando uma empresa nos respeita como mãe, como mulher e como profissional – os três em um mesmo ser humano – ela não ganha um time, ganha um exército.”
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Mama Jobs
Mariana Gabrijelcic e Ana Paula Ferraz se conheceram na pré-escola dos filhos, em Porto Alegre (RS). Além das crianças, as duas tinham em comum uma vida profissional que foi deixada de lado assim que a maternidade e os moldes convencionais do mercado de trabalho entraram em conflito. Foi assim que, em 2019, nasceu o Mama Jobs, uma plataforma que ajuda mães a se conectarem a vagas flexíveis.“A gente se perguntava o tempo todo por que deveríamos optar entre a carreira e a maternidade. Foi quando voltamos nosso foco para empresas que respeitam as profissionais que são mães”, explica Mariana. Além do banco de oportunidades, a plataforma também oferece uma série de cursos e workshops, que vão de dicas para criar um currículo a tutoriais sobre como usar o LinkedIn.
Com oportunidades em praticamente todos os setores, o negócio não se restringe mais a vagas remotas. “Cada mulher está numa fase da vida. Algumas precisam ficar em casa, outras já podem passar o dia fora. O que a gente busca é que os empregadores tenham um olhar especial em relação à maternidade.” Uma vez que uma empresa chega na Mama, ela é cobrada pela consultoria e tem o seu feed cultural avaliado. Em seguida, a plataforma busca, em seu banco de currículos, perfis de mães que se aproximam ao máximo da demanda da companhia. “A gente faz esse processo de seleção interna e entrega as candidatas mais assertivas.” No caso das mulheres interessadas, é necessário fazer um cadastro no site, sem custos.
Além da contratação, a plataforma oferece palestras e cursos para o time profissional que irá abraçar essa mãe no dia a dia. Um dos temas mais abordados nessas conversas é a parentalidade, um debate que também envolve o papel do pai na criação do filho. “Acabamos falando com homens também, e explicamos que o papel do pai não é ajudar, mas sim dividir. Eles são figuras tão importantes para os filhos quanto as mães”, explica Ana.
Com o número de mães impactadas chegando perto de 1 mil, entre cursos e recolocações, a Mama Jobs segue com o lema: crianças saudáveis são adultos saudáveis. “50% dos habitantes do mundo são mães e os outros 50% são os filhos delas. E essas crianças serão os profissionais do futuro. Um CEO só vai ser um líder seguro e bom para os funcionários se ele tiver vivido uma infância bem estruturada”.
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