Em 1939, o neurologista alemão Ludwig Guttmann reuniu ex-soldados com sequelas físicas causadas pelos combates na Segunda Guerra Mundial em uma competição esportiva que incentivava a recuperação dos militares. Mais de 20 anos depois, o evento culminaria na estreia dos Jogos Paralímpicos, que hoje (24) chegam à sua 16ª edição em Tóquio, no Japão. Desde a sua primeira participação, em 1972, o Brasil já ganhou 301 medalhas na competição, incluindo 87 ouros. Fora das quadras e dentro dos escritórios, no entanto, o caminho rumo à equidade de condições e oportunidades ainda é longo.
Com 45 milhões de habitantes portadores de algum tipo de deficiência, cerca de 25% da população, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Brasil conta, atualmente, com apenas 1% das vagas de emprego formais ocupadas por esse grupo de profissionais.
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Um dos principais entraves para a expansão do número de PcDs (pessoas com deficiência) no mercado de trabalho está ligado aos vieses inconscientes. Uma pesquisa feita pelo Grupo Croma mostrou que 71% dos portadores de deficiências atribuem a recusa das empresas ao preconceito, enquanto 32% confirmam que já foram vítimas de alguma situação de discriminação. Outro levantamento, desta vez do portal de vagas Catho, revelou que 34% dos portadores de deficiência empregados se sentem isolados nas empresas onde atuam.
Do ponto de vista legal, a Lei 8213/91, apelidada de Lei de Cotas, determina que empresas com 100 ou mais colaboradores devem ter de 2% a 5% do seu quadro de funcionários composto por PcDs. A medida, no entanto, além de não dar conta de reduzir os níveis de desemprego entre esse grupo de profissionais, também não garante que eles sejam incluídos de maneira adequada na equipe, como explica Cíntia Santos, coordenadora de projetos do IEA (Instituto Ester Assumpção), organização que busca a inserção de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. “É preciso promover uma cultura que valorize as diferenças individuais. E, para isso, é importante tratar o tema de maneira estratégica, promovendo ações que estimulem a acessibilidade e a inclusão. Isso demanda engajamento e uma mudança profunda de atitude por parte das empresas, iniciativas que culminam na valorização do potencial produtivo do trabalhador com deficiência e de seu papel no alcance dos resultados da organização”, afirma.
Assim como o IEA, que atua na inclusão de pessoas com deficiência nos mais diversos ambientes, incluindo no trabalho, outros grupos especializados também tentam mudar a realidade do mercado brasileiro. É o caso da Talento Incluir, consultoria que treina, seleciona e retém PcDs para empresas parceiras, como Mercado Livre, Gol e Bradesco, entre outras; da Egalitê, HRtech que facilita a conexão entre os contratantes e os profissionais com deficiência; e da Specialisterne, que atua na capacitação e na contratação de colaboradores com TEA (Transtornos do Espectro Autista).
Embora o caminho ainda seja longo em direção a uma realidade mais justa para esses profissionais, já existem companhias empenhadas em mudar essa realidade no país. Veja, na galeria de fotos abaixo, 5 exemplos de empresas que estimulam a contratação de profissionais com deficiência e trabalham para tornar seus ambientes mais inclusivos:
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Westend61/Getty Images Unisys
Segundo a ferramenta Disability Equality Index, usada para medir a inclusão de pessoas com deficiência no local de trabalho, a empresa de tecnologia Unisys é nota 10 nesse quesito. Entre os critérios para a pontuação estão vários indicativos de desempenho, incluindo cultura, liderança e acessibilidade da companhia; as práticas de emprego; o envolvimento da comunidade; a acessibilidade digital; e as opções de trabalho flexíveis – os dois últimos critérios adicionados recentemente.
De acordo com o relatório de diversidade, equidade e inclusão da empresa, os esforços recentes em prol do bem-estar de colaboradores com algum tipo de deficiência incluem a criação de grupos focais, o treinamento da equipe, a expansão dos benefícios do plano de saúde (incluindo aparelhos auditivos) e a adoção de legendas nas chamadas via Zoom.
Para a líder global de DEI (diversidade, equidade e inclusão) da companhia, Wendy Reynolds-Dobbs, existe um longo trabalho de bastidores no desenvolvimento de uma cultura empresarial inclusiva e inovadora. Ela também reforça a necessidade de continuar expandindo as iniciativas. “Estamos orgulhosos de nossos esforços para atrair diferentes perspectivas e diversidade de pensamento. No entanto, também reconhecemos que esta classificação, embora de muito prestígio, não significa que o nosso trabalho esteja concluído. A DEI deve ser uma jornada em evolução para todas as organizações, assim é possível que continuemos a nutrir ambientes inclusivos e que estimulem novas formas de promover o sucesso de todos.”
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MoMo Productions/Getty Images IBM
“Se você quer uma empresa inovadora, é preciso implementar a diversidade em todos os seus aspectos”, afirma Luciano Faustinoni, CIO (chief information officer) da IBM para América Latina. O executivo é o “padrinho” de uma das iniciativas de inclusão da empresa de tecnologia – o Grupo de Afinidade de Neurodiversidade, criado em abril para consolidar a presença de colaboradores portadores de TEA (Transtorno do Espectro Autista).
A ação, entretanto, só surgiu porque a companhia já tinha dado os primeiros passos para contratar PcDs de todos os tipos. No caso dos neurodiversos, a IBM apostou em um processo seletivo diferenciado, com direito a aulas de TI e imersão na empresa. Além disso, todo o time precisou passar por um treinamento para receber os novos colegas.
Por fim, o próprio espaço da companhia passou por alterações – incluindo equipamentos e reformas nas salas. Isso porque os portadores do espectro costumam ser sensíveis à luz, barulhos e muito contato humano.
Neste mês, a IBM também abriu 400 vagas para pessoas com deficiência. Entre as carreiras disponíveis estão a de programador, engenheiro, assistente administrativo, arquiteto de soluções técnicas, desenvolvedor de software, entre outros. Para se candidatar basta confirmar o interesse no site da empresa.
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People Images/Getty Images Dell Technologies
No Brasil, 20% dos colaboradores da fábrica da Dell Technologies são portadores de algum tipo de deficiência. Estimulada pelo tema, a empresa foi responsável por desenvolver três soluções tecnológicas que melhoram a inclusão e o desempenho dos PcDs. Juntas, as iniciativas formaram o Projeto de Inclusão Global de Pessoas com Deficiência, que em junho recebeu o prêmio “Power of the Profession People Breakthrough” da consultoria Gartner na categoria inovação.
Entre as soluções está o STEVE, um exoesqueleto que funciona como uma cadeira de rodas motorizada, capaz de guiar as pessoas que não conseguem movimentar os membros inferiores. Com ele, os colaboradores podem ir e voltar com segurança até sua estação na linha de montagem. Outra invenção é a Augmented Reality Training Arcade, uma plataforma que usa a realidade aumentada para ensinar a montagem de dispositivos para funcionários com algum grau de perda auditiva. Já o Mobile Aware Intermodal Assistant é um aplicativo que converte os sons do notebook em imagens, também voltado para profissionais surdos.
“Com projetos como esse, estamos fornecendo acessibilidade para os membros de nossa equipe por meio da eliminação de barreiras físicas, sociais, culturais e sistêmicas. Nosso foco é garantir que pessoas com deficiência tenham as mesmas condições e oportunidades de trabalho que todas as outras”, afirma Diego Puerta, líder da Dell Technologies no Brasil.
Fora as invenções, a Dell ainda incluiu o braile, sistema de escrita tátil voltada para deficientes visuais, em todas as sinalizações da fábrica, além de implementar treinamentos voltados à inclusão dos profissionais com necessidades especiais e oferecer um curso de linguagem de sinais.
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Sarah Mason/Getty Images Carrefour
A rede de hipermercados Carrefour promove, ao longo do ano, diversas edições das semanas ou dias D, datas voltadas para a contratação de pessoas com deficiência em todo o Brasil. Nessas ocasiões, além de ser um PcD, a única exigência é que os candidatos se identifiquem com a cultura da empresa. Normalmente, as vagas abrangem cargos como recepcionista, atendente, agente de fiscalização e auxiliar, entre outros. A próxima ação vai acontecer entre os dias 23 e 27 de agosto. Para se inscrever, basta acessar o site da empresa.
Em abril, a companhia também anunciou a criação do Programa IDE (Inclusão, Diversidade e Equidade), uma iniciativa voltada para a aceleração e o desenvolvimento dos planos de carreira de colaboradores que pertencem a algum grupo sub-representado, incluindo PcDs. Nela, os funcionários passarão por uma capacitação técnica e uma trilha de conhecimento baseada nas suas soft skills.
Outras ações da empresa incluem a produção de vídeos educacionais sobre o tema que são exibidos para o todo o time de liderança e de colaboradores, além da confecção de coletes com a identificação dos funcionários surdos nas lojas. O mês de setembro, quando se comemora o Dia Nacional da Pessoa com Deficiência, também é marcado por movimentos específicos nos supermercados.
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MoMo Productions/Getty Images Bradesco
O Bradesco aposta sistematicamente na capacitação e na inclusão como estratégias para a equidade. Em 2019, aderiu ao “The Valuable 500”, um movimento global para garantir que o bem-estar dos PcDs esteja na agenda das lideranças.
Entre as iniciativas da instituição está o Programa Bradesco de Capacitação à Pessoa com Deficiência, que, até 2019, formou 39 profissionais, todos contratados como funcionários do banco. Depois da contratação, eles também receberam um curso de seis meses de gestão bancária na Unibrad. Enquanto isso acontecia, os demais colaboradores passavam por uma série de treinamentos e palestras para receber os novos colegas de maneira mais empática.
Outro programa da companhia é a ferramenta Bradesco Digital Libras, que permite que colaboradores e clientes com deficiência auditiva interajam a partir de vídeos, animações 3Ds e uma assistente de libras. Além disso, a empresa também conta com um Grupo de Afinidade de Acessibilidade, formado por funcionários que se dedicam voluntariamente ao tema.
Por fim, o Bradesco firmou em seu conjunto de metas do Relatório Integrado que pretende, até 2030, reduzir os níveis de disparidade educacional entre os profissionais PcDS, além de promover maior inclusão social, econômica e política do grupo.
Unisys
Segundo a ferramenta Disability Equality Index, usada para medir a inclusão de pessoas com deficiência no local de trabalho, a empresa de tecnologia Unisys é nota 10 nesse quesito. Entre os critérios para a pontuação estão vários indicativos de desempenho, incluindo cultura, liderança e acessibilidade da companhia; as práticas de emprego; o envolvimento da comunidade; a acessibilidade digital; e as opções de trabalho flexíveis – os dois últimos critérios adicionados recentemente.
De acordo com o relatório de diversidade, equidade e inclusão da empresa, os esforços recentes em prol do bem-estar de colaboradores com algum tipo de deficiência incluem a criação de grupos focais, o treinamento da equipe, a expansão dos benefícios do plano de saúde (incluindo aparelhos auditivos) e a adoção de legendas nas chamadas via Zoom.
Para a líder global de DEI (diversidade, equidade e inclusão) da companhia, Wendy Reynolds-Dobbs, existe um longo trabalho de bastidores no desenvolvimento de uma cultura empresarial inclusiva e inovadora. Ela também reforça a necessidade de continuar expandindo as iniciativas. “Estamos orgulhosos de nossos esforços para atrair diferentes perspectivas e diversidade de pensamento. No entanto, também reconhecemos que esta classificação, embora de muito prestígio, não significa que o nosso trabalho esteja concluído. A DEI deve ser uma jornada em evolução para todas as organizações, assim é possível que continuemos a nutrir ambientes inclusivos e que estimulem novas formas de promover o sucesso de todos.”
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