Outros países também já embarcaram no movimento. Na Islândia, segundo um relatório do thinktank Autonomy, 85% dos trabalhadores já podem trabalhar apenas quatro dias por semana. A tendência também se espalha para o Reino Unido, onde a medida está sendo estudada por universidades e contando com a adoção de diversas pequenas empresas. No Brasil, são poucas as empresas que já reduziram a jornada de trabalho semanal de seus funcionários. Entre os exemplos estão a empresa de serviços para animais Zee.Dog, que adotou o modelo em março de 2020, e a startup mineira especializada em análise de dados, Crawly, que opera com três dias de folga para seus funcionários desde sua fundação, em 2018. Em ambos os casos, o formato e tem como objetivos maximizar o interesse dos profissionais pela empresa e aumentar a produtividade das equipes.
Segunda a especialista em direito empresarial internacional, Gabriela Diehl, não existem impedimentos na legislação brasileira que proíbam as empresas de adotar tal iniciativa. “Atualmente, a legislação estabelece uma carga horária semanal de até 44 horas, mas não diz nada sobre menos que isso.” Entretanto, não podem haver reduções no salário de funcionários já contratados que adotarem a medida. A única exceção seria em caso de acordo coletivo, aprovado pelas entidades representantes das categorias.
- Maior produtividade. Já existem estudos que indicam que uma jornada semanal menor traz benefícios para a produtividade das equipes. Entre os motivos para isso estão o maior tempo de descanso dos funcionários e o sentimento de gratidão com a empresa, que gera engajamento.
- Redução de despesas. Ao realizar um teste em 2019, a Microsoft Japão teve a mesma constatação que Daniel Alves: gastos administrativos, como o uso de papel e energia, reduziram drasticamente quando os funcionários tinham três dias de folga.
- Bem-estar do colaborador. O bem-estar do funcionário é essencial para garantir sua felicidade no emprego, reduzir taxas de turnover e combater o risco de doenças como o burnout. Com a jornada reduzida, os profissionais podem passar mais tempo com sua família, amigos e se dedicar à hobbies.
- Reduzir absenteísmo. Com um dia que pode ser utilizado para a realização de exames, para sanar pendências pessoais e descansar, trabalhadores tendem a ter menos períodos de ausência durante sua semana de trabalho.
Confira como a semana de quatro dias está sendo adotada por diferentes países.
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Japão
Uma pesquisa realizada em 2020, pelo Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-estar, revelou que 8% das empresas no país já oferecem mais de dois dias de folga por semana. Entre os nomes dos negócios que aderiram ao movimento está o Yahoo Japan e a empresa de seguros de vida Sompo Himawari Life Insurance. Ambas começaram a oferecer um terceiro dia de folga em 2017 para funcionários que cuidam de crianças ou parentes idosos.
Em 2019, a Microsoft Japão também embarcou na ideia, realizando um teste de um mês para avaliar a viabilidade de uma semana de trabalho de quatro dias. Os resultados apontam um aumento significativo na produtividade dos funcionários, bem como uma redução nos custos de eletricidade e na impressão de páginas de papel.
Reino Unido
Entre as empresas que já adotaram a medida no Reino Unido está o thinktank Autonomy, a consultoria de engenharia Earth Science Partnership e a fintech Payflo. O país também está avançando no campo acadêmico, com diversos estudos já sendo realizados para analisar a viabilidade de uma semana de trabalho de quatro dias.
Um deles, realizado pela Autonomy, aponta que, no pior cenário, é possível continuar sendo lucrativo com uma semana de trabalho de 4 dias, mesmo sem a diminuição de salários. Já no melhor cenário, o relatório que analisou as estatísticas de produtividade de mais de 50 mil empresas britânicas aponta que mais dias de folga podem impulsionar a produtividade das equipes.
Islândia
A Islândia é um dos países que mais avançou na pauta. Em 2021, segundo dados levantados pela Autonomy, cerca de 85% dos trabalhadores do país possuem a opção de trabalhar quatro dias por semana em vez de cinco. E, mesmo que eles estejam gastando menos tempo em seus empregos, seus salários não diminuíram.
A tendência começou com uma série de testes que ocorreram entre os anos de 2015 e 2019, impulsionados pela Câmara Municipal de Reykjavík, capital do país. Entre os negócios participantes estavam pré-escolas, escritórios, prestadores de serviços sociais e hospitais. Muitos deles passaram de uma semana de 40 horas para uma semana de 35 ou 36 horas.
Os trabalhadores das empresas participantes relataram sentir-se menos estressados e melhorias no equilíbrio entre vida profissional e pessoal. Outros pontos positivos são a possibilidade de ter mais tempo para passar com a família, fazer hobbies e realizar as tarefas domésticas.
Nova Zelândia
A consultoria Perpetual Guardian também adotou a medida em 2021. A empresa implementou a semana de quatro dias, em que os funcionários recebem o mesmo valor por trabalharem menos dias, depois que um teste de seis semanas descobriu que a produtividade havia melhorado em 20%.
Estados Unidos
Também há exemplos norte-americanos de empresas adotando o modelo de quatro dias. Uma delas é a Dockwa, startup que desenvolveu uma plataforma de aluguéis para barcos. Em vez da esperada folga de sexta-feira, o CEO da Dockwa, Mike Melillo, optou por incluir a segunda-feira em seu fim de semana de três dias. Esse dia de folga tampouco afeta negativamente a remuneração dos funcionários ou as horas que eles precisam trabalhar.
Com um fim de semana de três dias, alguns de seus funcionários conseguiram obter uma licença de piloto, ser voluntário em um clube de vela sem fins lucrativos e participar de esportes, peças de teatro e outros eventos com seus filhos. Os funcionários da Dockwa relatam que o dia extra faz toda a diferença para a saúde mental de uma pessoa, bem-estar emocional e a capacidade de perseguir hobbies, passar tempo de qualidade com a família e amigos e retribuir à comunidade.