Leia mais: Qual é a vocação da sua família?
Afinal, ter acesso às melhores instituições de ensino, oportunidades incontáveis de aprendizagem, acesso à cultura, acesso ao que existe de melhor no cuidado da saúde e com recursos financeiros disponíveis, posso afirmar que as atitudes direcionadas destes jovens podem – e devem – mudar a realidade do nosso país.
Não.
Mas é uma oportunidade de deixar um legado para além dos negócios, devolvendo à sociedade, partilhando conhecimento, doando seu tempo e adotando uma causa que possa fazer sentido e que traga um significado para a família. Então, seria natural dizer que é uma decisão fácil, sempre positiva: escolher a causa, reunir a família, unir forças, dedicar tempo e recursos. Uma agenda positiva quase sem nenhum contraponto. No entanto, não é simples assim.
Esse tema sempre traz alguns desconfortos, pois envolve todo o ecossistema em que a família orbita. Existe nesta decisão uma visão e posicionamento político, muitas vezes uma perspectiva religiosa, uma compreensão do papel do empresariado e sua relação com o Estado. Servirá como base de comparação com outras iniciativas, e muitas vezes enfrentará uma falta de instrumentos de mensuração que comprovem reais resultados do esforço coletivo.
transformar o mundo, este assunto nunca deve sair da mesa. Além do impacto direto à sociedade, tal pauta traz autoconhecimento e uma perspectiva de mundo mais realista – a possibilidade de uma realização pessoal muito significativa.
O “como fazer”, com toda certeza, deve ser um produto das escolhas da família. E, com a mesma certeza, em um mundo de constante debate a respeito de ESG, a necessidade de ampliação da diversidade de atores em todos os setores da sociedade. São tantas formas diretas e indiretas de impactar positivamente o ecossistema que não faz sentido não iniciar uma frente de trabalho na governança e na formação de líderes com o viés de responsabilidade social.
A responsabilidade da elite empresarial brasileira, para além da atuação direta, por meio de suas empresas, na contribuição para a redução de desigualdades, é entregar ao país sua próxima geração, primeiramente autoconsciente – o que é fundamental para qualquer líder. Ela deve ser ciente das suas inúmeras possibilidades e oportunidades; capacitada para agir de forma coletiva, colaborativa e propositiva, conectando os atores e atuando de forma ativa na transformação da realidade desigual do nosso país.
Flávia Camanho é Conselheira, mentora e coach. Especialista em desenvolvimento humano e governança familiar, fundadora do Flux Institute e professora convidada do IBGC para programas de governança e Next G.
Coluna publicada na edição 96, de abril de 2022.