Eu nunca pensei que iria associar uma aula de laboratório de psicologia com o mundo da remuneração, mas tenho percebido esse condicionamento cada vez mais presente na nova geração de profissionais que passa a integrar o mundo corporativo.
Esta associação me veio mais fortemente esta semana, quando estava lendo sobre mais um fenômeno entre os jovens (além da Great Resignation e do Quiet Quitting), que vem sendo chamado de “job hopping”. Estamos vivendo uma fase em que as pessoas não permanecem nem 1 ano na empresa e já saem em busca de mais reconhecimento, maiores salários, atribuições “mais adequadas ao seu potencial” ou mais qualidade de vida. E aí descobrem que um novo emprego continua não saciando sua inquietude.
Eu bati na barrinha! Então onde está minha água?!
Este contexto também me lembrou das competições de esporte infantis, quando no final todos os participantes recebem medalhas.
Parabéns! Você participou! Aqui está sua medalha!
Este estado de insatisfação se intensifica quando as pessoas olham para a grama do vizinho e enxergam um ambiente em que aportes financeiros de investidores acontecem, promoções são concedidas e premiações são pagas mesmo que os resultados não venham e mesmo que os planos não se cumpram. Nesse olhar de espreita por trás da cortina não dá para ver quando os cortes acontecem e as promessas não se concretizam… Só se vê o resultado dos que têm sucesso!
Eu não acredito que planos de remuneração variável e premiações por resultado estejam nesta mesma categoria de “condicionamento” de ratinhos de laboratório. Para mim, estas são mecânicas que ajudam as pessoas a entenderem a relação entre suas entregas e a performance efetiva da empresa. Mas se este resultado não vem e as empresas se sentem obrigadas a pagar para não ferirem as expectativas das pessoas, tudo isto perde a razão de ser. Assim como não faz sentido aplicar reforços positivos e pagar prêmios por cada tarefa bem executada.
Leia também: Como fica a remuneração na era da Gig Economy?
Fernanda Abilel é professora na FGV e sócia-fundadora da How2Pay, consultoria focada no desenho de estratégias de remuneração.
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.