O outro sentido da autenticidade é o da existência única, singular e que nos permite tocar o mundo de uma forma específica. Aqui, então, um paradoxo: ser um autêntico membro da sua família pode impedir sua originalidade?
Quando você faz parte de uma família empresária que possui um grande histórico de feitos, seu caminho na busca para a autenticidade é mais complexo. É como se muitas das trilhas já tivessem sido percorridas e existisse uma receita que já foi testada e pode ser replicada. Muitas pessoas levam isso ao ponto de considerar que a possibilidade de seguir os negócios da família seja um ato de abdicar da própria oportunidade de criar um caminho único e autoral.
Muitas vezes a autenticidade e a originalidade estão em novas formas de fazer, somando novas visões às bases já existentes. Trago um exemplo. Conheci de perto uma família que tinha grande tradição como ourives. O avô fazia anéis, colares e brincos sempre com referências clássicas. Os filhos seguiram o ofício do pai e juntos tornaram o ofício um grande negócio. Em conversa com a terceira geração da família, que é muito mais numerosa e diversa, muitos dos jovens consideravam que seguir o negócio família seria se privar de construir sua própria história. Um deles mencionou: quão autêntico eu seria se me tornasse um designer de joias. Qual o mérito?
A conversa foi muito proveitosa porque pudemos abordar o que seria construir um caminho autêntico mesmo seguindo o legado da família.
Minha fala aqui é propor a jovens acionistas que sempre é possível utilizar a tradição familiar como um ponto de partida, e não como uma norma imutável. Poderia sim ser um designer de joias, inovando nas formas, na composição das criações, buscando novas inspirações e fazendo a releitura das peças clássicas. Deixo aqui, então, a reflexão e a pergunta: como você pode dar continuidade ao legado dos negócios familiares atuando de forma original e autêntica? Uma pista: não se prenda ao “o quê” – reflita sobre o “como”.
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Coluna publicada na edição 101, de setembro de 2022.