Maiores empresas dos EUA terão número recorde de CEOs negros

6 de março de 2023
Jamel Toppin/Forbes

Em maio, Chris Womack assumirá como CEO da Southern Co., se juntando a outros sete CEOs negros de empresas do S&P 500

O executivo Calvin Butler não segurou o sorriso quando soube em janeiro que Chris Womack, seu amigo e colega de indústria, foi nomeado o próximo CEO da gigante de serviços públicos dos EUA Southern Co.

Butler se viu naquela situação, já que não apenas os dois homens são negros, mas apenas alguns dias antes, ele se tornou CEO da Exelon, outra grande empresa de serviços públicos de capital aberto. “No dia em que aconteceu, enviei uma mensagem para Chris e disse: ‘Estou orgulhoso de você e feliz por nós’”, disse Butler à Forbes. “Nós”, segundo ele, se refere a todos os negros dos EUA.

Jamel Toppin/Forbes

Calvin Butler, CEO da Exelon

Butler e Womack juntam-se a Lloyd Yates, que se tornou CEO da empresa americana NiSource no ano passado, como membros de dois grupos históricos. Quando Womack iniciar seu novo trabalho na Southern Co. em maio, ele será o oitavo CEO negro entre as empresas do índice S&P 500, que reúne as maiores companhias de capital aberto dos EUA.

Eles também são CEOs negros de 3 das 30 empresas de serviços públicos listadas no S&P 500, o que é inédito – e uma surpresa, já que essa indústria não é conhecida por seus esforços de diversidade na liderança e nenhum outro setor do S&P 500 tem mais de um CEO negro.

“Acho que é uma coincidência”, disse Yates à Forbes. “Acho que foi apenas um momento em que houve muita transição de CEOs no setor e sei que nós três estávamos preparados.”

Mais CEOs negros

Não é sempre que executivos negros têm a oportunidade de liderar as maiores corporações dos Estados Unidos. Entre 2000 e 2020, houve 16 novas nomeações de CEOs negros, de acordo com Richie Zweigenhaft, professor emérito de psicologia do Guilford College, na Carolina do Norte, que estuda diversidade executiva. Desde 2020, no entanto, houve pelo menos cinco novas nomeações de CEOs negros no S&P 500, um ritmo acelerado.

Os outros CEOs negros das empresas do índice são Rosalind “Roz” Brewer da Walgreens Boots Alliance, Marvin Ellison da Lowe’s LOW, René Jones do M&T Bank, Craig Arnold da empresa industrial Eaton, e Frank Clyburn da companhia de materiais International Flavors & Fragrances IFF.

Veteranos da indústria de serviços públicos, analistas de empresas e os três mais novos altos executivos só conseguiram pensar em outro CEO negro de uma empresa de serviços públicos antes da última onda de promoções. Erroll Davis Jr. liderou a Alliant Energy, com sede em Madison, Wisconsin, e uma outra empresa antes disso entre 1990 e 2005.

O caminho até as cadeiras de CEOs

Womack, Butler e Yates, cada um com mais de 20 anos de experiência no setor, disseram que não viram muitos executivos negros à medida que avançavam em suas carreiras. Ainda assim, eles foram capazes de trilhar seus caminhos para o topo, adquirindo experiência em várias funções e sendo guiados por pessoas em cargos mais altos.

Martei Korley/Forbes

Lloyd Yates, CEO da NiSource

“Todo mundo consegue uma boa educação e experiência”, disse Yates. “Mas acho que o verdadeiro diferencial é um mentor que vai te vender e falar de você quando você não estiver na sala. Isso faz uma grande diferença.”

Para Yates, 62 anos, o caminho para se tornar CEO parecia quase fechado alguns anos atrás, quando dirigia uma divisão da Duke Energy, em 2019.

Ele deixou a empresa naquele ano para ajudar a lançar um fundo de private equity focado em empreendedores negros e se envolver mais em conselhos corporativos. Um desses conselhos era o da NiSource, e ele acabou assumindo o cargo de CEO em 2022, depois que Joseph Hamrock deixou a cadeira. A NiSource, com sede em Merrillville, Indiana, atende 4 milhões de clientes no meio-oeste e na costa leste dos EUA.

“Ninguém chega com tudo perfeito, mas acho que tive muitas experiências diferentes ao longo de um período de 30 anos”, disse Yates. “Então, quando o conselho analisou isso, todas essas características me ajudaram.”

Womack, 65 anos, começou sua carreira na década de 1980 como assessor legislativo do então congressista e posteriormente secretário de Defesa dos Estados Unidos, Leon Panetta. Em 1988, ele assinou contrato com a Southern Co., onde fez carreira e chegou a cargos de alto escalão em vários departamentos, incluindo assuntos externos, produção de energia e recursos humanos.

Jamel Toppin/Forbes

Womack será CEO da Southern Co a partir de maio

A Southern Co., com sede em Atlanta, é a maior das três empresas de serviços públicos, com US$ 29,3 bilhões (R$ 152 bilhões) em receita em 2022 e 9 milhões de clientes. Womack disse que nunca buscou ser CEO. “Meu foco sempre foi fazer um bom trabalho.”

Butler, 53, é formado em direito e começou a trabalhar como lobista interno de serviços públicos. Depois, ele assumiu assuntos externos, recursos humanos e responsabilidades de lucros e perdas na Exelon, com sede em Chicago, com 10 milhões de clientes e receita de US$ 17,9 bilhões (R$ 93,13 bilhões) em 2022.

Segundo ele, houve dois marcos que foram fundamentais na sua jornada até o topo. O primeiro foi estabelecer um relacionamento com o ex-CEO de serviços públicos Robert Viets.

O segundo foi aceitar uma oferta para administrar uma das fábricas de uma gráfica de Illinois no início dos anos 2000. “Foi fundamental para mim sair da equipe corporativa para administrar um negócio”, disse Butler. Ele está na Exelon desde 2008 e foi CEO de duas subsidiárias da empresa antes de ser nomeado diretor de operações no ano passado.

CEOs negros ainda estão à frente de menos de 2% das empresas do S&P 500. Mesmo assim, as três promoções em um período tão próximo mostram que o mercado corporativo dos EUA está mudando, disse JT Saunders, diretor de diversidade da empresa de consultoria de gestão Korn Ferry.

“Acho que estamos indo na direção certa, e muito disso, infelizmente, veio depois do assassinato de George Floyd”, disse ele. “A questão é: como podemos manter esse ritmo e garantir que estamos realmente criando equidade na liderança, dando a pessoas de todas as formações e experiências uma oportunidade de maximizar sua contribuição para as organizações?”

(traduzido por Fernanda de Almeida)