Segundo Peter A. Levine, PhD em física médica e doutor em psicologia “O trauma não é o que acontece com você, mas o que você guarda dentro de si como resultado do que aconteceu. O processo de cura do trauma é como um renascimento. Precisamos abandonar o que nos machucou e abraçar a vida com uma nova perspectiva“.
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“Qual é o seu maior medo?”
A resposta veio imediatamente, em coro, como se fosse um jogral: “Perder o emprego”.
Como assim? Dentre todos os medos, medo da morte, medo de doença, medo de altura, ou até mesmo de aranha, o maior era de perder o emprego?
Se temos tanto medo de perder um espaço que ocupamos, talvez não tenhamos a certeza de que aquele espaço nos pertence de fato. E, num mundo profissional, ainda dominado e ditado por líderes homens, as mulheres se sentem ainda mais inseguras com relação a seus cargos e conquistas.
Depois do segundo café, agora acompanhado de um tiramisù, aquela resposta fez muito sentido. O medo de perder o emprego está relacionado ao medo da rejeição.
De acordo com o report global sobre liderança feminina produzido no final de 2020 pela consultoria KPMG, 62% das mulheres expressaram preocupação por não serem capazes de atender às expectativas culturais de sua empresa.
A “síndrome da impostora” é aquela voz irritante que nos acompanha, dizendo “é agora que todos vão descobrir que você é uma fraude”. E você se sente como um vilão do Scooby-Doo, prestes a ser desmascarado de forma patética, a qualquer momento.
De acordo com o Instituto de Psicologia, a síndrome da impostora é caracterizada por pensamentos que reforçam a perda de confiança em si, e a sensação de que o sucesso atingido não foi merecido.
Por que nós, mulheres, estamos sempre achando que não somos boas o suficiente?
Nós somos as nossas histórias e devemos usá-las em nossa carreira. E eu não estou falando das histórias de sucesso que postamos no LinkedIn ou no Instagram, mas das histórias de superação. Listei alguns exemplos:
Histórias de medo – por termos que lidar com doenças físicas ou mentais, nossas ou de familiares
Histórias de vergonha – por termos algum familiar alcóolatra ou dependente químico
Histórias de luto – familiares que partiram cedo ou pais que nunca estiveram lá
Histórias de fragilidade – por todos os relacionamentos abusivos ou tóxicos
Cada história é única e deve ser respeitada.
As histórias mais difíceis que vivi foram as que mais me ensinaram.
Recentemente, cinco meses após minha cirurgia de câncer de mama, olhei no espelho e enxerguei, com orgulho, minhas (muitas) cicatrizes. Elas são fruto de um processo de medo e sofrimento, mas de imenso aprendizado e provas de amor e força. Hoje, meu SUPERPODER é viver com mais intenção, estar presente em tudo o que faço. E sei que isso me faz uma líder melhor, com mais empatia, coragem e resiliência, olhando mais as necessidades e demandas do outro.
São nossas marcas e cicatrizes (físicas e psicológicas), que nos transformaram no que somos. E, mesmo assim, passamos muito tempo e gastamos muita energia, tentando escondê-las.
Uma vida não se mede por títulos e conquistas, mas pela jornada percorrida. E não existem dois caminhos iguais. Por isso, comparações são sempre vazias e injustas: cada um tem sua história, sua bagagem, seu lugar e seu propósito. E TODOS são importantes.
A comparação destrói nossa essência.
Talvez eu fosse diferente se não tivesse passado por um câncer, se não tivesse sofrido múltiplos abortos, se não vivesse a dor de perder um irmão para as drogas, ou mesmo se não tivesse a infeliz responsabilidade de ter que demitir quase metade dos colaboradores três meses após ter assumido a posição mais importante da minha carreira.
Não sei se esta é “a minha melhor versão”. Talvez não seja, mas não importa.
Finalizo este artigo com um convite. Na verdade, sinto-me bastante confortável para trocar o convite por uma convocação. Você tem uma missão. Transforme suas dores, seus medos, seus traumas, seus lutos, suas fragilidades no seu SUPERPODER.
A sua coragem vai transmutar sua vida (pessoal e profissional) e inspirar outras mulheres a seguirem impactando gerações de mulheres a se apropriarem de suas histórias.
Honre a sua história.
Luciana Rodrigues é executiva C-level do setor de comunicação, mentora e conselheira.
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