“O futuro parece bastante incerto. Trabalhadores em todo mundo têm se deparado com um ambiente turbulento como resultado de um contexto mundial que inclui recessão global, conflitos geopolíticos e a experiência recente com a pandemia”, diz Mariane Guerra, vice-presidente de recursos humanos para a América Latina na ADP, uma das maiores empresas globais em soluções de folha de pagamento e gestão de capital humano.
Insegurança da geração Z
A pesquisa ainda mostra que os homens estão mais inseguros que as mulheres (38% ante 32%) e que esse sentimento está presente em metade dos profissionais da geração Z – jovens entre 18 e 24 anos. Os profissionais recém-chegados no mercado de trabalho questionam esse ambiente e buscam flexibilidade, liderando movimentos como o “quiet quitting”, que sugere fazer apenas o necessário no trabalho, ou o “act your wage”, colocar um esforço proporcional ao salário.
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Segundo o Workmonitor, pesquisa da multinacional de recursos humanos Randstad, 38% da geração Z já deixou um cargo que não estava em consonância com seus objetivos e aspirações pessoais. “Mas olhando o mercado em 2023, com muitos indicadores econômicos negativos e a retomada do presencial por parte de muitas empresas, a insegurança aumentou porque as empresas estão seguindo um caminho contrário ao que querem os profissionais”, explica Wladimir Parada, diretor de vendas da Randstad Brasil.
Carolina*, trainee de uma multinacional de bens de consumo, se encaixa nesse perfil. Aos 23 anos, fica até 12 horas no escritório, onde tem que estar quatro dias por semana, segundo a política da sua chefe. “Ela me deixa totalmente insegura”, diz a jovem, que passa horas no trânsito de São Paulo e aproveita os dias em que pode trabalhar de casa para ir à academia e desenvolver projetos pessoais.
Estagiária de direito, Bruna* equilibra o último ano da faculdade com o TCC, as tarefas do escritório e a pressão pela efetivação e aprovação na OAB. “Não sei se estou atendendo às expectativas, minhas e dos outros. É isso que eu quero para mim? E é isso que eles querem de mim?”, questiona ela sobre o trabalho 100% presencial e a carreira de advogada, que já não tem mais tanto prestígio quanto antes.
Quem está preparado para o futuro do trabalho?
Para Guerra, da ADP, o sentimento de insegurança está relacionado a diversos fatores, mas especialmente às transformações no mundo do trabalho, com o impacto dos avanços tecnológicos e da inteligência artificial.
Ao todo, 23% das ocupações devem se modificar até 2027, segundo o estudo Futuro do Trabalho 2023, elaborado pelo Fórum Econômico Mundial com o apoio da Fundação Dom Cabral. E executivos acreditam que quase metade (49%) das competências da força de trabalho hoje não serão relevantes daqui a dois anos, graças à inteligência artificial, segundo pesquisa da edX, uma plataforma americana de educação on-line fundada pelas universidades Harvard e MIT. “Mais de 20% dos trabalhadores ouvidos disseram não terem as habilidades que serão necessárias para avançar em suas carreiras nos próximos três anos”, diz Guerra.
O curto prazo preocupa os profissionais, que também reconhecem que seus empregadores talvez não estejam investindo o suficiente em sua capacitação e desenvolvimento. De acordo com a pesquisa, mais de 40% dos profissionais brasileiros afirmam que seus empregadores não falam com eles sobre desenvolvimento de carreira e sobre treinamento e habilidades requeridas para seu trabalho atual.
A culpa é do dinheiro
O executivo ainda cita os layoffs em empresas de tecnologia e startups, que tiveram início em 2022 e seguiram durante este ano. Segundo a pesquisa Workmonitor, da Randstad, quase 60% dos brasileiros declararam ter medo de perder o emprego e mais de 60% se mostraram preocupados com o impacto da incerteza econômica na estabilidade profissional. O mesmo estudo mostrou que ter estabilidade no emprego é importante para 96% dos entrevistados. Nesse sentido, “elementos como flexibilidade, um ambiente seguro e acolhedor, comunicação clara e liderança empática são vitais”, afirma o executivo.
Papel das empresas
A insegurança pode afetar os profissionais de diversas maneiras, tanto no dia a dia das suas funções quanto em relação à saúde mental e levar a quadros de:
- procrastinação
- síndrome do impostor
- depressão
- burnout
“É necessário criar ambientes que equilibram o pertencimento, propósito e bem-estar junto ao desenvolvimento profissional e a inclusão como pilares fundamentais”, diz Parada sobre o papel das empresas nesse cenário.
- ouvir os colaboradores
- reparar as lideranças para administrar as metas e objetivos de forma empática
- promover relações mais humanas dentro da companhia
- incentivar a prática de exercícios físicos
- estabelecer uma rede de apoio
- disponibilizar um canal de atendimento psicológico por teleatendimento ou de forma presencial
- promover momentos de descontração, rodas de conversa e ambientes para descompressão
- incentivar a convivência entre os profissionais