
O engajamento dos profissionais em todo o mundo caiu de 23% para 21% em 2024, segundo o relatório anual State of the Global Workplace, divulgado na quarta-feira (23) pela Gallup, consultoria global especializada em pesquisas sobre o ambiente de trabalho e comportamento organizacional. Essa queda representa uma perda estimada de US$ 438 bilhões (R$ 2,4 trilhões) em produtividade para a economia mundial.
É a segunda vez em 12 anos que os níveis de engajamento global apresentam retração — a primeira ocorreu em 2020, ano marcado pela pandemia de Covid-19. Desta vez, a queda acontece em meio à rápida adoção da inteligência artificial generativa pelas empresas. Embora a tecnologia tenha potencial para impulsionar a produtividade e os resultados das companhias, o estudo aponta que a implementação mal conduzida e sem foco nas pessoas pode fragilizar aspectos essenciais do ambiente corporativo, como o senso de pertencimento, as conexões humanas e a percepção de que as vozes dos colaboradores são ouvidas.
O estudo, que entrevistou mais de 100 mil profissionais em 160 países, também mostra o impacto positivo de ambientes de trabalho engajadores: se todas as empresas oferecessem experiências de alta qualidade nesse quesito, a economia global poderia crescer até US$ 9,6 trilhões (R$ 54,5 trilhões) — o equivalente a 9% do PIB mundial.
Brasil na contramão
Em contraste com a tendência global, o Brasil apresentou números mais otimistas. O índice de engajamento no país alcançou 34% em 2024 — um avanço de 3% em relação ao ano anterior e um desempenho 13% acima da média internacional. Em termos de bem-estar, 54% dos brasileiros declaram estar “prosperando” em suas vidas, frente a apenas 34% da média mundial.
Apesar dos bons indicadores, outros desafios persistem. O estresse continua em níveis elevados: 45% dos profissionais brasileiros disseram ter vivenciado altos níveis de estresse no dia anterior à pesquisa — acima da média global, que ficou em 40%. Além disso, sentimentos como tristeza (20%), raiva (17%) e solidão (12%) ainda fazem parte da rotina de uma parcela significativa da força de trabalho no país.
O papel dos líderes
O relatório aponta um fator-chave por trás do baixo engajamento no trabalho: a liderança. Segundo a Gallup, cerca de 70% do engajamento de uma equipe pode ser atribuído ao gestor.
O grande problema é que boa parte dos líderes não recebeu formação adequada para exercer esse papel. Apenas 44% afirmam ter feito algum tipo de treinamento, e mesmo entre eles, metade continua ativamente desengajada. A leitura é clara: a lacuna entre o cargo de liderança e a habilidade de liderar continua aberta — e custando caro às empresas.
Melhorar a gestão pode ser uma forma simples de aumentar a produtividade dentro das organizações, de acordo com a consultoria. Para reverter esse cenário de falta de engajamento no ambiente profissional, a Gallup propõe três caminhos estratégicos:
- Treinar todos os gestores, mesmo que com formações básicas, pode reduzir pela metade o índice de desengajamento extremo;
- Capacitar líderes com técnicas de mentoria e orientação pode elevar em até 28% o desempenho das equipes;
- Investir no bem-estar e no desenvolvimento contínuo da liderança gera impacto direto no sentimento de sucesso dos gestores, com aumento estimado de 32%.