O lado obscuro dos crimes de colarinho branco

22 de janeiro de 2018
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Investigações de fraudes corporativas podem resultar em atos de violência imprevisíveis que estão sendo chamados de “crimes de colarinho vermelho”. (iStock)

Em 11 de janeiro de 2013, Aaron Schwartz, programador que ficou conhecido pela coautoria na criação do RSS, tirou a própria vida em seu apartamento no Brooklyn, Nova York. No momento da tragédia, Schwartz enfrentava uma acusação federal no distrito de Massachusetts por hackear uma base de dados de artigos acadêmicos gratuitos do Massachusetts Institute of Technology (MIT). Ainda que nada tenha sido “roubado”, suas artimanhas no computador podem ter causado atrasos para pessoas que precisavam pesquisar o conteúdo disponível.

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A operação chamou a atenção da promotora pública Carmen Ortiz, que trabalhou muito para conseguir oferecer a Schwartz um acordo que previa seis meses de prisão. Schwartz recusou e escolheu o seu próprio remédio para a dor que sentiu. Sobre o incidente, a magistrada diz que “desejaria ter tido a oportunidade de salvá-lo”.

“Desejar”, no entanto, não trará Aaron Schwartz ou outros que tomaram decisões semelhantes de volta. Porém, algumas pesquisas estão fazendo com que as pessoas tomem consciência do problema, que recentemente passou a ser chamado de “crime de colarinho vermelho”.

Rich Brody, professor da Anderson School of Management da Universidade do Novo México, é um dos pesquisadores do tema. Para exemplificar o crime de colarinho vermelho, Brody relembra um caso de Tampa, na Flórida, no qual Darrin Campbell, um executivo da Anchor-Glass sob suspeita de envolvimento em fraudes de segurança, matou sua esposa e dois filhos antes de colocar fogo em sua casa e atirar contra si mesmo. Uma tragédia que ninguém previu.

“Em casos de assassinato seguido de suicídio, há fatores de risco que incluem traços de personalidade como a necessidade de controlar situações e/ou pessoas. O assassinato é a maior forma de controle sobre os outros, e ser capaz de controlar o destino de alguém, ainda que resulte em morte, parece preferível”, explica.

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Pesquisas nessa linha poderiam ser utilizadas para treinar os responsáveis pela aplicação da lei. Os advogados, por exemplo, normalmente trabalham com pessoas completamente estranhas quando um caso de colarinho branco começa. O que é rotina para o advogado – apenas outro interessante caso criminal – é uma tragédia para a pessoa que senta à sua frente. Pressões familiares, abuso de álcool e drogas, sensação de fracasso e falta de entendimento do processo podem sobrecarregar qualquer um.

“Advogados não são conselheiros, mas há coisas das quais eles devem estar cientes quando o cliente entrar pela porta. A propensão para violência ou suicídio é uma delas. Só porque alguém é acusado de um crime de colarinho branco não significa que não seja capaz de cometer um ato de violência contra outra pessoa ou si mesmo”, disse Brody.

No artigo “Fraud Detection Suicide: The Dark Side of White-Collar Crime”, Brody avalia diversos casos para tentar entender por que esses eventos acontecem.

Há lições importantes para os que trabalham com a aplicação da lei. “Nós queremos informar a essas pessoas que há um lado obscuro em alguns criminosos de colarinho branco e que a consideração de outros motivos, como o impacto do desfecho de um crime desse tipo, pode ser o suficiente para eles tirarem uma vida”, explica o especialista.

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Para advogados em casos de colarinho branco, Brody tem alguns conselhos. “Eles precisam saber que as pessoas podem se tornar irracionais quando estão sob as pressões de uma investigação e que podem ser capazes de cometer um ato violento. Os advogados conhecem o cliente provavelmente mais do que qualquer outra pessoa ao longo do caso, até mais do que o seu parceiro.”

A pesquisa de Brody destaca outros fatores que existiam antes do crime e que poderiam ser um indicador de violência futura contra outras pessoas ou até de suicídio. No entanto, é evidente que a acusação de uma pessoa que está sob suspeita representa um momento crítico para os réus tomarem atitudes, às vezes, violentas.

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