Preconceito vencido: mulheres na área de bebidas

8 de março de 2018

É cada vez maior o número de mulheres que assumem cargos considerados, até então, exclusividade dos homens. Para comemorar o Dia Internacional da Mulher (8), FORBES Brasil conversou com quatro profissionais do sexo feminino que atuam no mercado de bebidas alcoólicas e que levantam a bandeira de que o gênero não é um fator que deve ser levado em consideração no momento de avaliar – e contratar – um profissional.

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A grande maioria das entrevistadas já passou por situações constrangedoras pelo simples fato de ser mulher, mas há indícios de mudanças no setor, pelo menos no que diz respeito às empresas criadas mais recentemente. O e-commerce Evino, especialista na venda de vinhos pela internet, tem na sua equipe de sommeliers apenas mulheres. No total, 52% das profissionais da empresa são do gênero feminino. Recém-chegada, a Chief Brand Officer Elaine Ishibashi tem histórico no segmento, construído por seis anos de trabalho na inglesa Diageo, proprietária de mais de 200 rótulos. Segundo ela, não apenas os profissionais da área estão mudando, mas também os consumidores. “Temos dados internos que mostram que o consumo, principalmente de vinho, entre as mulheres está crescendo. Quando trabalhei na Diageo, a média do consumo de uísque entre o público feminino era de apenas 30%, contra 70% dos homens. Todas as ações tinham como target o público masculino”, lembra.

Elaine Ishibashi, da Evino (Foto: divulgação)

Isso não quer dizer que Elaine não tenha enfrentado situações desagradáveis. “Acho que, por muito tempo, houve uma concepção geral de que o mercado de bebidas não era para as mulheres. E isso era dito abertamente. Já cheguei a ouvir que uma mulher nunca poderia falar com propriedade sobre bebidas. Só que comigo aconteceu exatamente o contrário, pelo menos nos locais onde trabalhei. Tive muito apoio para me desenvolver e me especializar. Já fui personagem até de uma matéria que falava sobre mulheres que gostam de uísque. Isso há uma década, o que era muito improvável”, lembra.

Também no universo dos vinhos, Gabriela Bigarelli mostra que conquistou seu espaço bem cedo: aos 16 anos mudou-se para a Itália e começou a trabalhar em restaurantes, onde teve seu primeiro contato com a bebida. Na sequência, especializou-se na FISAR (Federazione Italiana Sommelier Albergatori Ristoratori), passou um período na Espanha e voltou ao Brasil, onde se formou em Turismo e Gastronomia. Depois disso, sua carreira deslanchou: Gabriela tornou-se a responsável por todos os restaurantes do Club Med Itaparica, na Bahia. Seu primeiro emprego em São Paulo foi no Terraço Itália, onde atuava ao lado do sommelier Freitas. Desde então, passou pelo Pomodori e Enoteca Fasano, entre outros estabelecimentos de renome na cidade. Atualmente, trabalha como consultora para restaurantes, atendendo mais de 20 estabelecimentos, entre eles o Maní, além de dar cursos e palestras. “Na Itália eu não sofri muito trabalhando na área. Na Espanha foi bem mais difícil e, quando cheguei em São Paulo, era um mercado dominado por homens. Era 2005 e acho que o fato de eu ser muito jovem contribuiu para esse preconceito. Foi difícil conquistar o respeito dos meus colegas”, conta.

Gabriela Bigarelli (Foto: Divulgação)

Mas será que na área dos destilados, tipo de bebida considerado mais forte, o preconceito ainda permanece? Segundo a bartender Duddah Bonatto, brand ambassador da Diageo, o segmento também está vivenciando mudanças. “Miss Gin”, como é conhecida, é especialista na bebida e responsável por marcas globais, como Tanqueray. Algumas vezes também cuida das ações do uísque Johnnie Walker. Ela conta que “não sente tanto o preconceito, principalmente em campeonatos de coquetelaria internacional, onde cada vez mais mulheres estão sendo reconhecidas”.

Já Fernanda Neves, brasileira radicada nos Estados Unidos, atuou por mais de dois anos como embaixadora da vodca Stolichnaya. Seu papel era difundir a marca em escala global. Algumas iniciativas, como a “vodca sem glúten”, que tem um grande apelo junto ao público feminino, ficaram sob sua responsabilidade. Atualmente, a ex-embaixadora segue trabalhando no setor de bebidas alcoólicas, agora na empresa Pernod Ricard, conglomerado francês detentor das marcas de uísque Chivas Regal, do gim Seagram’s e da vodca Absolut. Sinal de que os tempos estão mesmo mudando.

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