O que Hollywood deveria aprender com Stan Lee

14 de novembro de 2018
Getty

Cocriador da Marvel, Stan Lee morre aos 95 anos

Ontem (13), o mundo foi impactado por uma perda irreparavelmente triste: Stan Lee, lendário criador do Homem-Aranha, Hulk e de, basicamente, qualquer personagem da Marvel que alguém já amou, faleceu aos 95 anos.

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Enquanto as mídias sociais estão em chamas com lembranças e homenagens sinceras, o trabalho de Stan Lee teve um impacto pessoal na minha vida. Enquanto crescia, eu enxergava em seus personagens o potencial que os párias, solitários e perdidos tinham de encontrar um propósito maior em suas vidas. As obras de Lee ensinavam como encontrar nossa força e usá-la para um bem maior, – duas lições de importância incrível nos dias de hoje.

O impacto de Stan Lee

Durante o desenvolvimento da Marvel, Lee fez parcerias com ícones como Steve Ditko e Jack Kirby para desenvolver personagens com personalidades fortes, que se tornaram mais do que aquilo que eram, e que com esses novos poderes e desafios encontraram seu novo eu. Ken Paulson resume bem: “A abordagem de Stan Lee foi revolucionária. Seus super-heróis eram pessoas reais com problemas reais que, por acaso, estavam salvando o universo. Peter Parker era um estudante de ciências, um adolescente angustiado quando foi picado por uma aranha radioativa. Depois disso, ele poderia escalar paredes, mas os problemas de intimidação e com as meninas não poderiam ser resolvidos com uma super força… Acima de tudo, lemos sobre pessoas decentes tentando mudar o mundo para melhor. Claro, esse é o tema da ficção mais heróica, mas, de alguma forma, nas mãos de Stan Lee, foi muito mais compreensível”.

As obras de Stan Lee ensinaram a autodescoberta e a responsabilidade e, muitas vezes, refletiram a diversidade tão necessária até hoje. Os X-Men, por exemplo, foram notoriamente usados como uma alegoria para a luta pelos direitos civis (juntamente com a angústia em torno disso). Lee fez o que todos os grandes autores do gênero fizeram: adaptou as convenções de ficção científica/ fantasia para abordar as questões do dia de maneira atemporal. E, para Lee, como deveria ser para todos nós, a opressão é, foi e será, para sempre, completamente errada.

Stan Lee presenciou isso durante toda a sua vida e reiterou, pouco mais de um ano atrás, em uma forte declaração, que a Marvel representa toda a igualdade (e a oposição ao ódio) desde o primeiro dia até hoje:

https://www.youtube.com/watch?v=sjobevGAYHQ

Seu legado é apropriadamente honrado em todos os lugares, mas o que eu quero dizer é mais amplo do que isso. Eu quero discutir o que o esse legado nos mostra – e a Hollywood – sobre o papel da arte na mudança social.

Grandes poderes trazem grandes responsabilidades

Lee usou sua plataforma para defender a igualdade de várias maneiras. Ele criou personagens e situações que, às vezes, serviam como metáforas para lutas por igualdade, como no caso do X-Men. Outras vezes, ele e seus co-autores criaram personagens – como o Pantera Negra – como fontes diretas de empoderamento e representação. O importante é que isso não é uma tentativa cínica de maximizar a representação superficial para fins de marketing, mas que esses personagens abordam problemas reais de pontos de vista críticos e que permanecem consistentes e evoluem com o tempo. Os X-Men começaram como uma metáfora dos direitos civis, como já disse, mas certamente também refletiram questões de igualdade com a comunidade LGBT à medida que a série evoluiu.

Hollywood pode aprender com este exemplo. Devem ser desenvolvidos personagens que reflitam e capacitem as comunidades que mais precisam. Eles podem dar às crianças e jovens adultos das comunidades mais carentes modelos que quebram estereótipos e destacam força, honra, justiça, bravura, empatia e inteligência. Eles podem abordar questões reais que essas comunidades enfrentam, tanto diretamente quanto por meio de metáforas.

Resumindo: Hollywood pode aprender com Stan Lee como desenvolver personagens fortes e diversificados que possam desafiar e, ao mesmo tempo, nos capacitar. E usar ficção de gênero para lidar com essas questões e expandir a representação em formas de empoderamento pode ser um empreendimento lucrativo – certamente não a consideração mais importante, mas a evidência de que as empresas não devem evitar personagens fortes que sirvam a um bem maior. Há muitas maneiras pelas quais a arte pode servir aos objetivos da justiça social, mas Lee nos mostra como o desenvolvimento do caráter é uma técnica essencial para o empoderamento das comunidades que precisam dele.

Então, para Stan Lee, eu digo “Excelsior”! Muito obrigado por tudo que você nos mostrou e por tornar minha vida muito mais brilhante. Pode ter certeza que aprendemos muito com o exemplo que você estabeleceu.

Veja, na galeria abaixo, alguns dos super-heróis criados por Lee e suas características:

X-Men O grupo liderado por Charles Xavier luta contra o preconceito e a intolerância. Movidos por um bordão de “salvar o mundo do ódio e se auto-salvar”, os mutantes são alvos de diversos comentários por parte dos humanos que os temem. Um de seus inimigos, Magneto, defende que a superioridade dos mutantes deve subjugar os humanos comuns, e os personagens principais lutam a todo instante contra essa premissa. more
Hulk Robert Bruce Banner, o famoso Hulk, é um físico nuclear prestes a desvendar uma bomba muito mais potente que a atômica. Seu pai, Brian, era alcoólatra e espancava o filho quando criança, que, como consequência, desenvolveu problemas de transtorno de personalidade, estresse, instabilidade emocional e paranóia. Um pouco antes do teste subterrâneo da bomba inventada por ele, um civil invadiu a área. Bruce tentou evitar a desgraça, mas não conseguiu escapar a tempo da detonação, o que fez com que seu corpo absorvesse as partículas gama, que modificaram o DNA do cientista, transformando-o em uma criatura verde cada vez que tinha acessos de raiva.more
Homem-Aranha Peter Parker, nome original do famoso Homem-Aranha, é um estudante adolescente de ensino médio, um pouco deslocado socialmente e que se esforça para ajudar a tia nas tarefas de casa. Preocupado com situações mundanas, o menino que se tornou órfão ainda bebê tem grande interesse em temas relacionados à ciência. Tímido, sofria bullying na escola e tinha problema em relacionar-se amorosamente. more
Pantera Negra Fenômeno cinematográfico que bateu a marca de US$ 1 bilhão de arrecadação nos cinemas, o super-herói representa a luta pelo fim do racismo. A história aborda a experiência dos negros nos Estados Unidos, na África e no mundo todo. Em uma terra onde a maioria dos heróis era formada por brancos, ainda que sem conotação política explícita, T’Challa, nome verdadeiro do Pantera Negra, já nasceu radical justamente por ser apresentado como um rei africano. more