Cerveja antes do vinho reduz ressaca? Estudo responde

12 de fevereiro de 2019
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Pesquisadores embebedaram 90 pessoas para descobrir a resposta cientificamente

Há uma antiga crença de que, quando se está bebendo, o certo é tomar a cerveja antes do vinho – e nunca o contrário – para evitar uma ressaca desagradável. Com variações, essa ideia aparece em diferentes formas ao redor do mundo. “Uva ou grão, mas nunca os dois”, diz um ditado inglês. Já entre os alemães há a máxima, “Vinho na cerveja não combina, eu aconselho você a beber cerveja no vinho”. E os franceses dizem que “Cerveja no vinho é veneno, vinho na cerveja é linda”. À parte os ditos populares, há pouca pesquisa formal para averiguar se o receio com a mistura é verdade ou apenas mito.

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Um estudo publicado na última semana no “American Journal of Clinical Nutrition” jogou uma luz sobre a questão. “Um resultado que apontasse uma ‘ordem’ específica para as bebidas poderia ajudar a reduzir a ressaca e proporcionar a muita gente um dia melhor depois de uma noitada”, diz Kai Hensel, pesquisador sênior da Universidade de Cambridge e líder do estudo.

O estudo consumiu mais de dois anos entre planejamento e aprovação. Cerca de 300 corajosos se ofereceram para beber em nome da ciência, mas apenas 90 se adequaram aos critérios de seleção. Os participantes foram divididos aleatoriamente em três grupos de estudo: o primeiro grupo bebeu cerveja e, em seguida, vinho; o segundo bebeu vinho antes de cerveja; e o terceiro bebeu exclusivamente vinho ou cerveja, sem misturar. “Queríamos fazer um estudo interessante, que tornasse a ciência mais divertida, mas também que garantisse que somos rigorosos no que fazemos”, comenta Hensel.

Ao final de cada dia de estudo, os pesquisadores pediam às pessoas para relatar o quão bêbadas se sentiam, em uma escala de zero a dez, observando também se alguma delas chegou a vomitar. No dia seguinte, os participantes avaliaram a própria ressaca, usando a Escala de Ressaca Aguda, que é baseada em fatores como sede, fadiga, dor de cabeça, tontura, náusea, dor de estômago, aumento da frequência cardíaca e perda de apetite.

Contrariando os ditados populares, o estudo concluiu que não houve diferença na pontuação de ressaca, independentemente da ordem de consumo do vinho e da cerveja. Mas confirmou que a embriaguez e o vômito estão associados a uma ressaca mais intensa. “A forma mais confiável de prever o quanto você se sentirá infeliz no dia seguinte é verificando seu nível de bebedeira. Todos devemos prestar atenção aos sinais vermelhos.”

Os participantes da pesquisa beberam dois litros e meio de cerveja e quatro copos grandes de vinho, muito mais do que o recomendado pelas diretrizes da maioria dos países — ou o que poderia ser chamado de “bebedeira”.

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“Tivemos o consentimento do comitê de ética, que inicialmente foi bastante cético sobre a quantidade de álcool. Nós não demos mais do que eles beberiam por conta própria, e houve supervisão médica. Todos os voluntários eram saudáveis, jovens e teriam bebido independentemente do estudo”, disse Hensel.

Apesar da característica jovial do objeto de pesquisa, o estudo foi meticulosamente projetado. Todos os participantes beberam os mesmos tipos de cerveja pilsen e vinho branco e, depois, receberam um pouco de água, um volume calculado em relação ao peso corporal de cada participante, antes de dormir no laboratório, sob supervisão médica.

Embora o estudo tenha um espírito de certo modo divertido, Hensel acredita que as ressacas podem, de alguma forma, acontecer para nos ajudar. “Por mais desagradáveis ​​que sejam, devemos nos lembrar que, pelo menos, as ressacas têm um benefício importante. Elas são um sinal de alerta protetor que, certamente, ajudará os seres humanos a mudar de comportamento ao longo do tempo. Em outras palavras, elas podem nos ajudar a aprender com nossos erros”, finaliza Hensel.

A questão é: algum de nós presta atenção ao que nossas ressacas tentam nos dizer?