Quanto custam os tratamentos de reprodução assistida

27 de maio de 2019

Atualmente, há diversas alternativas para quem encontra problemas na hora de aumentar a família

Resumo:

  • As taxas brasileiras de natalidade estão atingindo o nível mais baixo de todos os tempos e a gestação, atualmente, é cada vez mais tardia;
  • De todos os casais na idade reprodutiva que buscam a gravidez, 20% têm algum problema. Destes, em torno de 25% precisam recorrer aos tratamentos de fertilização;
  • Hoje, há diversas opções para casais com dificuldades de engravidar;
  • Os custos variam de acordo com o método escolhido, a medicação e outras despesas.

Em 1978, nasceu Louise Brown, o primeiro “bebê de proveta” do mundo, na Inglaterra, resultado de uma fertilização in vitro. Ainda hoje, esse é o método de tratamento mais indicado – e com maiores taxas de sucesso – para a infertilidade. “Do total de casais em idade reprodutiva que querem engravidar, 20% têm algum problema. Deste grupo, cerca de 25% acaba tendo que recorrer a um tratamento de reprodução assistida para conseguir gerar uma criança”, diz a Dra. Nilka Donadio, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH).

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Um recente estudo demográfico mostrou que as taxas de natalidade estão atingindo o nível mais baixo de todos os tempos no Brasil. A média que era de 6,15 filhos por mulher em 1960 está, atualmente, em 1,7. A gravidez é cada vez mais tardia, graças ao maior nível de escolaridade, ao ingresso feminino no mercado de trabalho e a mais opções de métodos contraceptivos. Nos dias de hoje, a gestação ocorre, na maioria dos casos, depois que as mulheres completam 30 anos.

Mas, ao mesmo tempo que estão decidindo por famílias menores, os casais que encontram dificuldades para engravidar ganharam, graças aos avanços da ciência, um leque de alternativas para concretizar seu sonho. No Brasil, o número de tratamentos de fertilização cresceu exponencialmente nas últimas décadas. De quatro anos para cá, no entanto, estabilizou: são realizados entre 35 mil e 36 mil ciclos anualmente. Os motivos para essa estabilidade passam pela ameaça do Zika Vírus e por aspectos econômicos – o contexto geral do país ajuda a explicar a constância.

Atualmente, há diversas alternativas para quem encontra problemas na hora de aumentar a família. O que ainda não é legalizado é a escolha do sexo do bebê. “Pode se abrir exceção apenas quando há uma doença ligada a um cromossomo sexual”, explica a especialista.

O valor cobrado por um tratamento do tipo pode representar um entrave. Normalmente, depende da clínica de reprodução assistida escolhida e varia muito, podendo ultrapassar R$ 70 mil. Fatores isolados também interferem nos preços dos procedimentos. “A idade da mulher e a causa da infertilidade influenciam na quantidade de medicações e, consequentemente, no valor”, explica o Dr. Alfonso Massaguer, ginecologista e obstetra, especialista em reprodução humana e diretor clínico da Clínica MÃE, em São Paulo.

“Durante um período, o Brasil passou por uma carência na doação de óvulos (ovodoação). Por isso, alguns casais recorriam à técnica no exterior”, comenta a presidente da SBRH. Desde então, o turismo com objetivos médicos tem crescido. A Conceptions Florida, localizada em Miami, tornou-se um refúgio para casais do Caribe e da América do Sul em busca de tratamentos para a infertilidade. Os brasileiros representam cerca de 32% da clientela internacional do centro médico.

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“Nosso processo para que pacientes de fora do país tenham acesso aos tratamentos é muito simples”, diz o Dr. Armando Hernandez-Rey, diretor clínico do local. Todos os ciclos são planejados com antecedência e um calendário detalhado é fornecido para que as providências de trabalho e viagem possam ser tomadas. A fertilização in vitro, por exemplo, leva no máximo 15 dias.

Para acomodar os pacientes brasileiros, os testes prévios necessários são pré-estabelecidos com o médico locado no Brasil e, em seguida, revistos pelos especialistas da clínica. Assim, o tempo gasto nos Estados Unidos é limitado apenas ao tratamento de infertilidade em si.

Ao contrário do que muita gente pensa, o método para alcançar a gravidez não é escolhido pela paciente – é uma indicação médica. “As taxas de sucesso dependem de uma boa recomendação e, ainda assim, variam muito”, diz a Dra. Nilka. O tratamento, segundo a médica, depende muito do histórico dos pacientes e do motivo pelo qual a gestação não ocorre de maneira natural.

O Dr. Roberto de Azevedo Antunes, diretor médico do Centro de Reprodução Humana FERTIPRAXIS e da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), observa que, muitas vezes, pacientes jovens e com bons marcadores de reserva ovariana podem recorrer a tratamentos mais simples, menos invasivos e mais baratos – com boas chances de sucesso

Inseminação artificial (ou intrauterina), fertilização in vitro, microinjecção intracitoplasmática (ICSI), congelamento de óvulos ou embriões e indução da ovulação são alguns dos tratamentos mais comuns encontrados nas clínicas especializadas. Além deles, há a possibilidade de recorrer a um banco de sêmen e a cessão temporária do útero. O primeiro é sugerido quando o homem não possui bom volume de espermatozóides. O segundo, conhecido também como “útero de aluguel”, é indicado quando a paciente não tem o órgão. Uma parente poderá realizar a cessão temporária.

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As contraindicações dependem de cada método e diversos fatores são considerados caso a caso. Do ponto de vista de idade mínima, a paciente deve estar na idade fértil. No caso das muito jovens, é preciso haver uma causa específica para a infertilidade – como uma doença. Uma paciente com câncer que não possa passar pela gestação, por exemplo, tem a opção de congelar os óvulos para o futuro.

“As taxas de sucesso são as mesmas em todo o mundo, desde que a indicação do procedimento seja correta e realizada por um profissional experiente. Se alguns desses fatores não estiverem adequados, elas diminuem”, explica a Dra. Karina Tafner, ginecologista e obstetra, especialista em reprodução assistida.

O FUTURO

Para a presidente da SBRH, a tendência é que o número de tratamentos para fertilização aumente. “A quantidade de casais que necessitam de fertilização in vitro vem crescendo. Eles estão deixando a gravidez para mais tarde e isso faz com que uma parcela maior de pessoas necessite da reprodução assistida. Hoje, entre 10% e 12% dos ciclos é justamente do método de congelamento de óvulos”, comenta a médica. O Dr. Hernandez-Rey, da Conceptions Florida, concorda, e ressalta que, nos últimos dois anos, planejamento familiar e saúde reprodutiva da mulher são discussões comuns na vida dos casais. “Se esta tendência continuar, a busca de tratamentos pode, em breve, tornar-se parte do projeto de vida das pessoas e não apenas uma necessidade.”

Veja, na galeria de fotos abaixo, a diferença entre 5 tratamentos de reprodução assistida e seus custos:

1. Inseminação artificial ou Inseminação Intrauterina (IIU) Como funciona: O método consiste na introdução de espermatozóides, processados e selecionados, diretamente na cavidade uterina da mulher no momento da ovulação, que pode ocorrer após estímulo ovariano prévio ou em ciclo natural (precisa-se de poucos óvulos: dois ou, no máximo, três). O resto acontece naturalmente no corpo. A técnica é classificada como “tratamento de baixa complexidade”, já que a fecundação acontece no interior do organismo feminino. A IIU teve seu primeiro ciclo descrito em meados do século 18 e, segundo relatos, era indicada para casais impossibilitados de realizar o coito por disfunção masculina ou feminina. “As taxas de sucesso da IIU são inferiores às taxas da FIV, pois não há certeza de encontro dos gametas [espermatozóide e óvulo] e formação do embrião, a não ser que a mulher engravide. Como esse encontro acontece nas trompas, um dos fatores determinantes para a indicação desse tratamento é o perfeito funcionamento das mesmas”, explica a Dra. Karina Tafner. “A IIU tem seu lugar estabelecido dentro da reprodução assistida por ser um tratamento simples, que não requer internação ou sedação e que pode ser feito no consultório médico, praticamente sem riscos (os maiores seriam as gestações múltiplas). Seus custos são muito inferiores ao da fertilização in vitro, sendo, assim, uma escolha mais simples e acessível”, completa. Custos: - Centro de Reprodução Humana FERTIPRAXIS: de R$ 4 mil a R$ 5 mil (os valores incluem medicação e realização de análises genéticas, por isso podem variar); - Conceptions Florida: a partir de US$ 2.915 (cerca de R$ 15 mil), mais medicamentos, com custo total estimado em US$ 2,4 mil (cerca de R$ 13 mil); - Clínica MÃE: cerca de R$ 6 mil; - Fertility Medical Group: de R$ 2,5 mil a R$ 3,5 mil (o preço não inclui a medicação). Preços sugeridos em fevereiro de 2021 more
2. Fertilização in vitro (FIV) Como funciona: A fertilização in vitro é o método mais indicado e com maior taxa de sucesso. No tratamento, o ovário é ainda mais estimulado para produzir uma maior quantidade de óvulos, que são retirados e levados para o laboratório. O sêmen é coletado e os espermatozóides são preparados. Por fim, há a junção dos dois materiais, feminino e masculino, para que um espermatozóide por vez, sozinho, penetre em cada óvulo. Do total de óvulos disponíveis, cerca de 70% fertilizam. Depois desse processo, o óvulo fertilizado pode se tornar um embrião ou não. Em média, 95% deles conseguem. Os melhores embriões são, então, transferidos para o útero. O Brasil segue a seguinte regra: - Mulheres até 35 anos: dois embriões por vez; - Mulheres entre 36 e 39 anos: três embriões por vez; - Mulheres acima de 40 anos: quatro embriões por vez. Depois de 12 dias, o teste de gravidez é feito para saber se o procedimento foi bem-sucedido. “As taxas de gravidez podem atingir 60% por tentativa se tivermos bons embriões”, diz o Dr. Alfonso Massaguer, da Clínica MÃE. Custos: - Centro de Reprodução Humana FERTIPRAXIS: entre R$ 22 mil e R$ 25 mil (sem exame genético), e de R$ 28 mil a R$ 32 mil (com o exame); - Clínica MÃE: de R$ 16 mil a R$ 22 mil, dependendo da quantidade de embriões; - Conceptions Florida: a partir de US$ 15.163 (cerca de R$ 82.389), mais medicamentos (entre US$ 5 mil e US$ 6,6 mil, ou R$ 27.167 e R$ 35.860, respectivamente, por ciclo); - Fertility Medical Group: cerca de R$ 15 mil, mais medicamentos (cerca de R$ 7 mil). Preços sugeridos em fevereiro de 2021more
3. Microinjecção intracitoplasmática de espermatozóides (ICSI) Como funciona: Trata-se de uma indução mecânica da entrada do espermatozóide no óvulo. Com uma agulha específica, há a injeção do material. O método é indicado principalmente quando o homem tem poucos espermatozóides. Muitas vezes, eles têm que ser colhidos dos testículos. Segundo o Dr. Assumpto Iaconelli Jr., do Fertility Medical Group, em São Paulo, a ICSI é o tratamento com maior taxa de sucesso na clínica. “O índice é de, aproximadamente, 50% em pacientes com até 35 anos”, revela. Custos: - Centro de Reprodução Humana FERTIPRAXIS: entre R$ 22 mil e R$ 25 mil (sem exame genético); de R$ 28 mil a R$ 32 mil (com o exame); - Clínica MÃE: de R$ 16 mil a R$ 22 mil; - Conceptions Florida: a partir de US$ 1,2 mil (cerca de R$ 6.520 mil); - Fertility Medical Group: cerca de R$ 15 mil. Preços sugeridos em fevereiro de 2021more
4. Congelamento de óvulos e embriões Como funciona: As pacientes podem optar pelo congelamento para engravidar posteriormente. “Antigamente era mais difícil por causa do tamanho dessas células. Elas não sobreviviam após o congelamento. Hoje, com a vitrificação, isso é possível”, observa a Dra. Nilka. Os óvulos congelados são fertilizados com o sêmen do parceiro e, então, inseridos no útero. O material poderá ser conservado durante o período que a paciente desejar ou necessitar, sem uma limitação de tempo. Custos: - Centro de Reprodução Humana FERTIPRAXIS: entre R$ 18 mil e 22 mil (com as medicações); - Clínica MÃE: cerca de R$ 11 mil; - Conceptions Florida: a partir de US$ 12.688 (cerca de R$ 68.938), mais medicamentos (custo estimado entre U$ 3,8 mil, cerca de R$ 20.646, e US$ 5 mil, ou R$ 27.167 por ciclo); - Fertility Medical Group: R$ 13 mil. Preços sugeridos em fevereiro de 2021more
5. Fertilização in vitro (FIV) com óvulos doados Como funciona: Uma mulher que já passou da idade reprodutiva pode utilizar óvulos doados. A doadora deve ser anônima. No Brasil, a ovodoação compartilhada é permitida. Os óvulos coletados podem ser utilizados na fertilização in vitro. Custos: - Centro de Reprodução Humana FERTIPRAXIS: entre R$ 30 mil e R$ 35 mil; - Clínica MÃE: de R$ 30 mil a R$ 38 mil; - Conceptions Florida: a partir de US$ 20.218 (cerca de R$ 109.852), mais medicamentos (com custo estimado entre US$ 5 mil, cerca de R$ 27.167, e US$ 7 mil, ao redor de R$ 38 mil por ciclo). Há, ainda, os custos de ovodoação pagos a agência, que custam cerca de US$ 15 mil (cerca de R$ 81.500 mil); - Fertility Medical Group: R$ 22 mil. Preços sugeridos em fevereiro de 2021more

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