Resumo:
- Animais de estimação podem desempenhar um papel importante em um crescente problema entre adultos: a solidão;
- Dois em cada cinco norte-americanos relatam que, ocasionalmente, sentem que suas relações sociais não são significativas;
- Para a maioria das pessoas, sentir-se solitário pode desencadear uma série de consequências que podem ser graves para a saúde.
Eles não são bons em enviar mensagens quando estão atrasados. Não dá para esperar uma carona deles. Talvez façam cocô enquanto você estiver discutindo algo sério. Não, eles não são um substituto para o contato humano. No entanto, animais de estimação podem desempenhar um papel importante no crescente problema entre adultos: a solidão.
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Uma recente pesquisa da CIGNA com mais de 20 mil norte-americanos descobriu que 46% deles se sentem sozinhos às vezes ou sempre; 47% apresentam um sentimento de não pertencimento; 27% raramente ou nunca têm a sensação de poder contar com pessoas que os entendam; 43% alegam que seus relacionamentos não são significativos; e 43% têm a impressão de estarem isolados das outras pessoas. Segundo o site da U.S. Health Resources and Services Administration, “dois em cada cinco norte-americanos relatam que ocasionalmente sentem que suas relações sociais não são significativas, e um em cada cinco afirma se sentir solitário ou socialmente isolado”. Com base no censo dos Estados Unidos, mais de um quarto dos adultos vive sozinho atualmente.
A solidão pode ajudar a compor o próximo hit pop, mas, para a maioria das pessoas, a consequência passa por graves problemas de saúde. Vivek Murthy, o 19º Cirurgião Geral dos EUA, que serviu de 2014 a 2017 nas forças armadas de seu país, enfatizou que “a solidão está ligada a preocupações com saúde mental e física”. “Nas minhas visitas às comunidades, as pessoas me contavam como lidavam com diferentes problemas de saúde, como o vício, doenças crônicas, obesidade, ansiedade e depressão. Muitas vezes, depois de um pouco de conversa, elas acabavam desabafando sobre suas lutas contra a solidão”, conta. Embora passar por determinados tratamentos possa levar a um quadro de isolamento, a questão é o quanto a solidão pode estar provocando problemas de saúde. Se as sociedades querem realmente combater os principais transtornos de saúde pública, como a epidemia da obesidade em alguns países e a crise de opióides, é preciso abordar a solidão.
E como os animais de estimação podem ajudar com esse problema, que Murthy chama de epidemia da solidão? No mês passado, o Human Animal Bond Research Institute (HABRI) e a Mars Petcare, que atende às necessidades nutricionais dos animais, convocaram uma conferência sobre a relação entre o isolamento social e os pets para abordar essa questão em particular. A cúpula incluiu uma discussão com Murthy e com as palestras de Layla Esposito, diretora de programa do Instituto Nacional Eunice Kennedy Shriver de Saúde Infantil e Desenvolvimento Humano (NICHD), e Nancy Gee, professora de psicologia da Universidade do Estado de Nova York, para resumir o que estudos científicos têm revelado sobre os benefícios para a saúde das interações homem-animal.
Faz sentido que os animais de estimação possam ajudar a combater a solidão. Afinal de contas, a menos que eles violem seus toques de recolher e fiquem fora de casa durante toda a noite, podem fornecer companhia estável. Eles também podem exibir uma série de comportamentos semelhantes aos humanos. Um cão, por exemplo, pode demonstrar gratidão e afeição ao pular em seus braços.
Além disso, os pets normalmente levam as pessoas a participarem de atividades saudáveis, capazes de diminuir o sentimento de isolamento social, como passear ao ar livre e fazer exercícios. Eles também podem facilitar interações com outros seres humanos. Pelo menos foi isso que um ex-colega da universidade tinha em mente quando adotou um cachorro para ajudá-lo a conhecer as mulheres…
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Os estudos mostraram que a posse de animais pode estar associada a níveis mais baixos de solidão. Uma análise de dados do BMC Geriatrics, feita com 5.210 idosos que eram parte de um estudo de envelhecimento, descobriu que aqueles que possuíam animais de estimação eram menos propensos a relatar a solidão. A pesquisa também constatou que as pessoas que não se declararam solitárias eram mais propensas a ter animais de estimação.
Um estudo publicado na revista “Aging and Mental Health” analisou os dados da pesquisa de uma amostra de 830 pacientes de cuidados primários com 60 anos ou mais. A análise revelou que os donos de pets eram 36% menos propensos a relatar solidão. Estes estudos não provam, necessariamente, que os animais, de forma isolada, podem aliviar o problema, uma vez que demonstram associações e não uma causa. Alguém que tenha mais chances de ter um companheiro animal também pode ter mais propensão de gerenciar outros aspectos de sua vida que poderiam aliviar a solidão.
Murthy adverte, no entanto, que “animais de estimação não substituem a interação humana, mas podem ajudar quando alguém luta para estabelecer relações humanas significativas”. De fato, não pense que não será mais necessário o contato humano porque acha que cachorros ou gatos são mais agradáveis e não o contestam (pelo menos não de uma maneira que você possa entender). Você ainda precisará de alguém para desafiá-lo, questioná-lo se for fazer algo estúpido e trazer outros pontos de vista para fazê-lo crescer. E os pets não podem fazer isso da mesma maneira que as pessoas.
Além disso, como qualquer ser humano, um animal não pode ser tudo para você. Assim como uma pessoa não pode substituir toda uma rede social, o bichinho ficará limitado a aquilo que ele pode fazer. Um animal não pode, por exemplo, participar de todas as atividades que você quiser. Uma tartaruga pode ser uma péssima parceira de corrida. Gatos são terríveis no karaokê. Em vez disso, você precisa de um sistema social que ofereça coisas diferentes em momentos diferentes. É por isso que solucionar o problema da solidão exigirá, também, a correção dos sistemas que o levam ao isolamento social.
Animais de estimação não podem resolver os problemas da solidão, mas eles podem ajudar. Contudo, um pet vem com responsabilidades e não é para todos. Você não deve simplesmente adotar um cachorro porque está se sentindo sozinho. É preciso estar preparado para cuidar do novo amigo. Além disso, nem todos eles, mesmo sendo da mesma espécie, são iguais. Uma lesma não é o mesmo que um coelho, hamster, pássaro, cachorro ou gato. Há uma tremenda diversidade em seus comportamentos, ,embora tudo o que você possa ouvir seja um latido ou um miado. Pesquise se o animal escolhido corresponde a sua personalidade e, principalmente, ao seu estilo de vida.
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