Startups estão fabricando proteína a partir do ar que respiramos

24 de julho de 2019
Reprodução/Divulgação Solar Foods

Empresa finlandesa apresentou método que usa dióxido de carbono na produção

Resumo:

  • Atualmente, o crescimento populacional coloque em xeque a capacidade produtiva mundial de nutrientes para pessoas e animais;
  • Empresa finlandesa está utilizando reações enzimáticas para fermentar gás carbônico e transformá-lo em proteína em pó;
  • Algumas das startups de biotecnologia com iniciativas semelhantes são a Solar Foods, NovoNutrients, Geltor, Perfect Day e Motif Ingredients.

O crescimento populacional está explodindo e deve bater os 10 bilhões de pessoas no planeta até 2050. Com isso, muitos estão preocupados com o fato de estarmos caminhando para uma situação em que não poderemos produzir nutrientes essenciais suficientes para alimentar a população usando a agricultura tradicional. Alguns afirmam que já excedemos o limite de passageiros na Terra (ou o tamanho máximo da população de uma espécie que o ambiente pode sustentar indefinidamente).

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A principal substância para a nutrição humana e animal tem sido a proteína, as cadeias poliméricas de aminoácidos que são os blocos de construção do tecido do corpo e fornecem o combustível necessário para vivermos.

A proteína é consumida em muitas formas, desde a carne de animais terrestres e criaturas marinhas, até plantas como soja e ervilha amarela, que agora sustentam uma enorme mudança no mercado de fontes de proteína para consumo humano. A produção tradicional de proteína, principalmente de origem animal, consome uma grande quantidade de recursos naturais e coloca o nosso meio ambiente em risco à medida que a população mundial cresce.

Até agora, as plantas eram consideradas a melhor fonte de proteínas sustentáveis. Proteína vegetal tem sido considerada uma forma mais eficiente de absorver a energia do sol, os nutrientes no solo e convertê-los em algo que pessoas e animais queiram comer. As plantas também provaram ter uma pegada ambiental menor do que nossas fontes de proteína baseadas em animais.

Recentemente, no entanto, os cientistas vêm desenvolvendo “fábricas” microbianas; até mesmo retirando ingredientes do ar para produzir novas formas de proteína.

No mês passado, a startup finlandesa Solar Foods promoveu sua inovação, uma proteína derivada da fermentação por gás. Ou usando reações enzimáticas para converter dióxido de carbono (com uma quantidade mínima de água, nutrientes e eletricidade) em proteínas comestíveis. A nova forma de proteína, apelidada de Solein, será produzida em pó para ser usada de forma semelhante à farinha na produção de alimentos.

“Desconectar-se da agricultura e dos recursos fósseis na produção de alimentos é o nosso principal valor e diferencial para todas as outras proteínas”, diz o CEO e fundador, Pasi Vainikka. Ele diz que as algas se aproximam do que estão fabricando, mas afirma que “a produção de Solein é a mais ecológica” entre todos os métodos de desenvolvimento de proteínas existentes hoje.

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E a Solar Foods não é a única empresa que usa fermentação para desenvolver proteínas que podem ser consumidas por seres humanos ou animais.

Recentemente, a NovoNutrients também destacou o uso de fermentação com gases para produzir nutrientes para a ração de peixes, uma commodity com custo enorme na produção de peixes criados em cativeiro. Com proteínas derivadas da fermentação, a NovoNutrients espera reduzir o custo e fornecer um produto melhor para um setor de aquicultura, que precisa se adequar à demanda mundial por mais proteínas (e outros nutrientes essenciais) do mar.

Em muitas outras startups, os empreendedores estão trabalhando em métodos para criar proteínas por meio de fermentação que estão mais relacionados à nossa longa história de pães, cerveja e vinho, todos subprodutos do processo natural de usar organismos para converter uma substância em outra. No caso do vinho, as leveduras transformam os açúcares em álcool, resultando no elixir mágico que amamos.

Aproveitando esta ciência antiga, startups como Geltor e Perfect Day desenvolveram proteínas de colágeno e laticínios, respectivamente. E a Motif Ingredients, uma subsidiária bem financiada da Ginko Bioworks, também anunciou que usará a fermentação para “preparar proteínas vitais e nutrientes que alimentam o seu corpo e agradam ao seu paladar”.

Essas startups de biotecnologia arrecadaram dezenas de milhões de dólares para ampliar a produção de seus produtos nos últimos anos. As mercadorias da Geltor e da Perfect Day, usando suas novas proteínas, estão chegando aos mercados ainda este ano.

Rob Rhinehart, o fundador da Soylent e agora investidor de biotecnologia em estágio inicial por meio da Mars Bio VC, destaca por que os investidores estão interessados ​​neste espaço: “Precisamos desenvolver formas de proteína mais seguras e eficientes. A melhor forma de fazer isso é usar ferramentas biológicas como organismos unicelulares que podem ser projetados com muito mais rapidez e precisão do que com uma planta inteira ou animal e produzir o mesmo produto ou melhor”.

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A Solar Foods ainda está em fase inicial de produção e trabalhando com empresas de alimentos para fazer uso de sua “farinha” de proteína em novos produtos alimentícios. Eles vão levantar mais fundos durante o ano de 2019 para aumentar a produção e levar produtos de primeira geração ao mercado.

A fermentação por meio de gás é muito promissora, pois é um método que consome resíduos industriais, como o dióxido de carbono, ajudando a remover esse poluente da atmosfera como um benefício adicional do uso dessa técnica.

À medida que os empresários, investidores e fabricantes de alimentos se empolgam com a fermentação em geral, como um método para criar proteínas, o mundo ganhará mais métodos de aproveitamento de nutrientes que usarão menos de nossos preciosos recursos naturais. Pode ser um ganho triplo: para o lucro, as pessoas e o planeta.

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