Crianças podem ser alvo de publicidade de apostas no Facebook

16 de outubro de 2019
GettyImages/TowfiquPhotography

A possibilidade de menores serem influenciados por anúncios de cassinos online está sendo investigada

Resumo:

  • A influência do Facebook é conhecida. A rede social supostamente já influenciou resultado de eleições, produtos, sexualidade e até senso de identidade;
  • Empresas especializadas em influenciar pessoas por meio de anúncios na rede social já existem e são procuradas por diversos públicos;
  • O conteúdo entregue por esse tipo de atividade consiste de artigos para dar mais credibilidade e a influência ser mais efetiva.

O Facebook é a maior ferramenta de manipulação cognitiva e comportamental que o mundo já viu. Ao longo dos anos, a rede social supostamente já influenciou resultado de eleições, produtos que consumimos, nossa sexualidade e valores sexuais e até nosso senso de identidade. Não deveria ser uma surpresa a informação de que o Facebook foi usado para promover apostas ou, colocado de outra maneira, para manipular a maioria de nós a apostar.

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Mas o que surpreende mesmo é que as casas de apostas não usam o Facebook somente como uma forma de propaganda. Uma pequena porção dessas empresas também utilizou a rede social para manipular apostadores a visitar cassinos online e sites de apostas de maneira mais indireta. A The Spinner, uma startup britânica secreta, tem sido utilizada para fazer marcações específicas, ou seja, mostrar certos tipos de publicações para cada tipo de público-alvo, a fim de influenciar em decisões.

Até agora, a The Spinner tem auxiliado pessoas que gostariam de fazer uma “lavagem cerebral” em suas esposas para que elas tenham mais vontade de ter relações sexuais com eles ou convencer parentes a parar de fumar, por exemplo. Para realizar o trabalho, a empresa manda programas para os indivíduos-alvo. Quando a pessoa realiza o download, geralmente por um link de e-mail, o código trabalha para que mais artigos no Facebook e outras redes sociais sobre o assunto em questão sejam lidos. Títulos como “Razões pelas quais você deveria fazer mais sexo com seu marido” ou “Entenda por que parar de fumar pode ser a melhor decisão que você já tomou” são alguns exemplos.

Mas agora, segundo o porta-voz da empresa Elliot Shefler empresas de apostas também têm entrado em contato buscando manipular sorrateiramente alguns de seus clientes.

“Em 2019, algumas operadoras de cassino começaram a usar esse método para influenciar seus jogadores, em geral de caça-níqueis, a jogar com mais frequência”, afirma. “Essas pessoas estão sendo expostas a milhares de artigos com títulos como ‘Homem em Wisconsin tira a sorte grande e fatura US$ 1,3 milhão no Flamingo’ ou ‘Cidadão comum ganha mais de US$ 150 mil em cassino de Las Vegas’ em suas linhas do tempo nas redes sociais”.

Shefler explica que as publicações consistem em artigos editoriais publicados em grandes portais e não propagandas descaradamente pagas para promover um serviço, produto ou empresa em particular. Ele não comenta os problemas éticos óbvios desse tipo de ação, mas é claro que a falta de transparência é moralmente questionável, já que apostadores são levados a acreditar que os artigos estão lá por serem assuntos interessantes.

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Mas o elemento moralmente questionável desse tipo de prática não para aí, porque diversas notícias recentes sugerem que adolescentes podem estar entre as pessoas afetadas por casas de aposta usando os serviços da The Spinner. Diversos estudos revelam que o número de crianças apostando na internet aumentou significantemente nos últimos anos, com o número de crianças apostadoras no Reino Unido quadruplicando entre 2016 e 2018. Voltando um pouco no tempo, um estudo feito no Canadá em 2016 descobriu que 10% de pessoas entre 13 e 19 anos fez apostas online nos últimos três anos.

Perguntado se menores de 18 anos estavam entre os apostadores na internet visados pelos clientes, Shefler não deu nenhuma informação específica. Ele afirmou: “Não escolhemos os jogadores, o cassino é quem faz isso”.

Apesar de não haver certezas, há evidências de que menores já foram alvos de uma variedade de propagandas de apostas online, de maneiras diretas e convencionais. Por exemplo, a British Advertising Standards Authority, autoridade que controla a publicidade britânica, recentemente conduziu um experimento no qual criava e utilizava sete perfis representando crianças com idade entre 6 e 18 anos. Descobriu-se que eles foram expostos a mais de 150 propagandas diferentes de apostas. Um estudo similar conduzido pela Ipsos Mori neste ano chegou a praticamente às mesmas conclusões, com o perfil de uma criança de menos de 13 anos recebendo mais propagandas de apostas do que o de um adulto.

Dado que mais crianças estão apostando na internet de diversos jeitos, é possível que algumas delas possam ter entrado no público-alvo de cassinos online usando os serviços da The Spinner. De acordo com Shefler, aproximadamente cem mil pessoas foram influenciadas usando o The Spinner em 2019, então mesmo que a maioria tenha sido de maiores de idade, uma quantidade de 0,1% ainda representaria cem crianças e adolescentes expostos.

Outro ponto preocupante é que a The Spinner afirma ter recebido notícias positivas das casas de apostas. Houve um aumento no comprometimento dos clientes (ou vítimas) em comparação a jogadores que não foram expostos ao conteúdo além de melhorias em acessos, receita média por usuário e valor em geral.

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Shefler não compartilhou nenhum número exato para detalhar esse aumento de engajamento, então, a dúvida sobre a efetividade desse tipo de plataforma ainda persiste. Mesmo assim, apenas o fato de as casas de aposta estarem tentando manipular jogadores usando esse método já é ruim o suficiente.

Tudo isso mostra a razão de o Facebook ser visto como uma ferramenta poderosa para que pessoas façam o que algumas empresas (ou partidos políticos) querem. Se ele é realmente tão poderoso como seu clientes (anunciantes) acreditam, é outra questão. Mesmo assim, deveríamos parar e entender que essa reputação é o que faz a rede social conseguir fazer bilhões.

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