Por que “Mario Kart Tour” para celular não é tão legal quanto parece

1 de outubro de 2019
Getty Images

Game da Nintendo tem mais microtransações do que seria razoável

Resumo:

  • O jogo mobile de kart do Mario foi lançado em 25 de setembro para dispositivos iOS e Android;
  • A aposta da Nintendo é repetir o sucesso de “Animal Crossing: Pocket Camp” e “Fire Emblem Heroes” nos smartphones;
  • O game tem progressão lenta que depende de itens conquistados aleatoriamente, mas que podem ser comprados com dinheiro de verdade.

Recentemente, passei bastante tempo jogando “Mario Kart Tour” para iOS, a nova tentativa da Nintendo nos dispositivos móveis. No começo, só queria testar, como faço com vários jogos com os quais não pretendo continuar no longo prazo. Acabei atraído pela jogabilidade simples e viciante. Por um breve momento, o jogo me pegou, graças tentativas agressivas de seduzir os usuários, com progresso fácil (o jogo segue o modelo freemium, grátis para baixar e com itens pagos). Joguei para que ninguém precisasse jogar. E posso dizer que, de fato, ninguém precisa.

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Em um primeiro momento, o jogo é ok. Uma das estratégias da Nintendo com “Mario Kart Tour” é usar o iOS e o Android como plataformas de versões inferiores de seus jogos de console, como é o caso de “Animal Crossing: Pocket Camp”. É o que acontece com esse jogo, que se parece com com uma versão de “Super Mario Kart 8 Deluxe”.

Mas a adaptação perde muito. Usar o dedo para direcionar é uma característica essencial já que estamos falando de smartphones. Porém, perde-se muito tempo correndo aleatoriamente. Além disso, é difícil fazer curvas apertadas e manobras fáceis, o que não aconteceria com um joystick. Os looping e as pistas fantásticas são otimizadas e recicladas e, embora não haja nada de errado com elas, também não há nada de certo. Fora isso, o formato básico está aqui: pegar itens, disputar com os outros corredores e seguir em frente. É um “Mario Kart” reduzido.

Mas esses nem são os maiores problemas. “Mario Kart Tour” é um título free-to-play (grátis para jogar) agressivamente monetizado, o que leva os usuários a gastarem dinheiro real com frequência. Ter pontuação depende menos do desempenho e mais de possuir kart, planador e pneus certos, itens que são conseguidos aleatoriamente.

Há bônus de login diário, desafios que dão poucas moedas, um sistema de progressão que começa devagar e rapidamente se torna incômodo e uma assinatura (paga) que permite acelerar isso. Ou seja, tudo o que faz parte da monetização de games. A série Mario Kart em geral, e particularmente “Super Mario Kart 8 Deluxe”, não tem progressão e faz a corrida ser um grande divertimento. O “Mario Kart Tour” quer que você corra pela alegria de encher barras de progresso e ficar frustrado o suficiente para gastar dinheiro.

É decepcionante ouvir isso, mas os pais devem se afastar desse game, considerando a excelente reputação da Nintendo como desenvolvedora para todas as idades. O problema é que este jogo é amigável e viciante o suficiente suficiente para fazer você pagar pelas microtransações, e elas só ficam mais difíceis de resistir quando você passa do que poderia ser considerado a introdução. É particularmente preocupante aqui na era da Apple Arcade, onde uma assinatura de US$ 4,99 por mês permite o acesso a uma infinidade de jogos projetados para serem atraentes e divertidos, sem microtransações.

“Mario Kart Tour” teve um lançamento massivo e provavelmente vai se sair bem, mesmo com parte do público desistindo por ter que pagar várias coisas. Em termos de números, eu acho que isso será visto como um sucesso dos esforços em mobile da Nintendo. O jogo móvel mais bem-sucedido da empresa japonesa é o “Fire Emblem Heroes”, que também é pesado em microtransações.

A Nintendo é uma desenvolvedora inovadora há décadas, indo muito além do público tradicional de jogos com decisões ousadas, às vezes, desconcertantes. Isso nos levou a um momento que, apesar das recentes falhas, a empresa está no topo com o Switch e com o Switch Lite, que imagino que não vão parar de crescer tão cedo. Há pouca dessa ousadia no celular, onde a empresa parece contente em usar suas licenças populares para obter uma experiência direta e focada em microtransações, do tipo que já vimos milhares de vezes antes.

Mesmo misturados no texto, esses são meus dois avisos. “Mario Kart Tour” é uma experiência viciante pelas razões erradas, e é uma experiência viciante projetada, especificamente, para fazer você abrir sua carteira. É vergonhoso.

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