Telecine desafia as Big Techs: "Somos Golias"

4 de novembro de 2019
Kiko Cabral

Eldes Mattiuzzo conta que a empresa brasileira investe em tecnologia e conteúdo especializado em cinema para vencer a competição no streaming

O diretor-geral do Telecine, Eldes Mattiuzzo, está confiante que conseguirá conquistar um fatia da disputada carteira de streaming do consumidor brasileiro, mesmo com a competição à espreita.

A empresa da Globosat busca se posicionar de forma diferente da Netflix e da Amazon, que tem investido pesado no Brasil em serviços que incluem o Prime Vídeo. Segundo Mattiuzzo, a Telecine tem vantagens distintas em relação às Big Techs, que começam pelo conteúdo.

“Todas as outras plataformas focam muito em seriados e competem nessa arena, que tem um apelo muito bacana de recorrência, mas, quando o assunto é cinema, todas ficam em grande desvantagem, pois ninguém tem o que oferecemos”, aponta, em referência ao conteúdo exclusivo da MGM, Universal, Fox e Paramount, além de parcerias com outros estúdios como Sony, Warner e Lionsgate e curadoria com dicas de cinéfilos.

A empresa também tem investido pesado em tecnologia para melhorar para a experiência do usuário. Um evento recente é um algoritmo de recomendações baseado em deep learning, lançado há cerca de um mês, que “aprende” o perfil de utilização a medida em que o usuário consume vídeos na plataforma.

“Temos investido muito em tecnologia, deixando a experiência do usuário cada vez melhor em termos de produto. [O algoritmo de recomendação] foi um golaço e trouxe um diferencial muito grande”, aponta.

Além disso, a Telecine revisou seu modelo de negócio, criando pacotes mais básicos e baratos, com ofertas como compra de ingressos de cinema com desconto, e planeja produtos futuros, como aluguel de filmes.

Segundo Mattiuzzo, o foco da empresa em entregar uma oferta dedicada a cinéfilos traz uma perspectiva diferente em relação à competição entre a brasileira e as grandes plataformas de streaming, que pode ser vista como uma luta entre Davi e Golias.

“Obviamente, essas grandes empresas têm mais dinheiro que nós. Mas no que se refere à expertise em filmes e no público brasileiro, temos melhores condições e até mais armas para competir”, aponta. “Estamos muito bem posicionados. Quando o assunto é cinema, somos Golias.”

***

Mesmo assim, existem riscos e desafios relacionados à estratégia do Telecine. Uma delas é a competição pela “share of wallet”, ou seja, pelos reais que usuários alocam pra gastar em serviços online. “Sabemos que existe o usuário de TV a cabo, que estava disposto a pagar pelo menos R$ 150 por mês, mas não sabemos quanto vai ser para esse novo usuário [de streaming]. Competimos pelo mesmo dinheiro.”

Também há o problema de uma “competição irracional de preços” entre os players de streaming, diz Mattiuzzo. “Todo mundo quer fazer parte dessa carteira do consumidor, então, isso é uma grande ameaça.”

A possibilidade de alguma das Big Techs construir parcerias com estúdios comparáveis ao que a Telecine tem hoje não é algo que preocupa o executivo, que enxerga um movimento contrário.

“Acho difícil grandes estúdios toparem ficar reféns da Amazon e da Netflix. Acabou acontecendo o contrário, estúdios tiraram seu conteúdo desses [serviços de streaming] para lançar suas próprias plataformas”, aponta. “Isso trará uma grande fragmentação e, como o Telecine concentra conteúdo de grandes estúdios, temos uma grande vantagem de mercado.”

***

As atuais preocupações da sociedade sobre os riscos que a inteligência artificial (IA) oferece são “paroquiais”, segundo o cofundador do Skype, Jaan Tallinn. Temas como os riscos advindos da integração não-cuidadosa de decisões tomadas por máquinas com processos de governança e uso indevido por humanos de tais processos automatizados, bem como o debate sobre desemprego em massa e vieses em machine learning são relevantes no curto prazo, diz Tallinn, mas são assuntos que só arranham a superfície do debate.

Segundo Tallinn, um dos colaboradores em “Possible Minds: 25 Ways of Looking at AI”, da Penguin Press, a discussão deveria focar em como sistemas de IA superinteligentes podem “ser impedidos de tornar o meio ambiente inabitável para formas de vida biológicas.” O empreendedor considera que grandes corporações são, de certa forma, “máquinas não-humanas que buscam atender seus próprios interesses, que não se alinham aos interesses de nenhum humano em particular que trabalhe para elas”.

Tallinn aponta que inteligência técnica sobre segurança em IA desenvolvida por Big Techs como Google já estão chegando até as elites mundiais da política e negócios. Considerando tal cenário, o empreendedor argumenta que um debate mais sofisticado sobre o risco da inteligência artificial “pode salvar a humanidade da extinção”.

Depois de ter se tornado um multimilionário, Tallinn dedica sua fortuna a conscientizar a sociedade sobre os perigos da IA. O empreendedor cofundou o Future of Life Institute e o Centro de Estudos de Riscos Existenciais na Universidade de Cambridge para estudar o tema. Além disso, também doou mais de US$ 600.000 para o Machine Intelligence Research Institute, que estuda o tema do alinhamento da IA com os interesses da sociedade, e mais de US$ 300.000 para o Future of Humanity Institute, da Universidade de Oxford.

***

A Pitzi, startup especializada em seguro de celulares, fechou uma rodada que levou o valor de mercado da empresa para US$ 100 milhões. O valor do novo aporte, liderado pela QED Investors, que inclui investimentos dos apoiadores existentes Thrive Capital e Valiant Partners, não foi divulgado.

***

A edtech brasileira Quero Educação investiu R$ 20 milhões no buscador Melhor Escola, que conecta escolas da rede privada a alunos. O motor de busca da Melhor Escola, que oferece vagas com descontos em instituições educacionais, será integrado ao marketplace da startup, o Quero Bolsa, que terá um aumento em sua rede de 3 mil escolas e 12 mil cursos de nível infantil, fundamental e médio. Com a aquisição, a Quero espera triplicar o número de instituições parceiras no próximo ano.

***

O líder da banda de rock Foo Fighters, Dave Grohl, e o cineasta M. Night Shyamalan e outros convidados falam sobre suas carreiras, inspirações e processos criativos na conferência de criatividade Adobe MAX, que acontece entre hoje (4) e amanhã (5) em Los Angeles, Califórnia. Desde o meio dia de hoje, a empresa realiza gratuitamente o primeiro streaming do evento no Mirante 9 de Julho, em São Paulo.

***

 

Angelica Mari é jornalista especializada em inovação há 18 anos, com uma década de experiência em redações no Reino Unido e Estados Unidos. Colabora em inglês e português para publicações incluindo a FORBES (Estados Unidos e Brasil), BBC, The Guardian e outros.

 

Siga FORBES Brasil nas redes sociais:

Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn

Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.

Tenha também a Forbes no Google Notícias.