A interdependência entre a indústria e a agricultura

17 de janeiro de 2020

gettyimages-LucasNinno

Brasil é o segundo maior exportador mundial de commodities, com 200 milhões de toneladas de grãos

De um país totalmente agrícola a um diversificado centro de progresso industrial e de serviços percorreu-se um longo caminho – muitas vezes com políticas irracionais e não complementares, mas que, ainda assim, resultaram na oitava maior economia mundial.

Se o retrato do Brasil atual ainda mostra as manchas do desperdício dos recursos humanos, materiais e intelectuais causados por tantas iniciativas conflitantes nas áreas governamentais, realça-se nessa fotografia a força extraordinária de reação do brasileiro, de seus empreendedores e da capacidade visionária de alguns líderes que deram novos rumos ao país.

Correta desde os anos de 1900, uma acertada política de imigração recebeu cidadãos de todas as partes do mundo que ajudaram a criar as bases de uma agricultura diversificada e próspera. Nos anos de 1930 em diante, estabeleceu-se uma política de industrialização incipiente e que, durante a Segunda Guerra Mundial, pôde, graças às bases fortes da agricultura e um aguçado sentimento de progresso, mostrar sua relevância ao país. Vem daí a criação da indústria de base e do aço, e os primeiros desenhos para a implantação da indústria automobilística, bem como a certeza de que, sem energia abundante, nenhum progresso permanente seria sustentável. A partir de 1955, há uma estruturada política de ocupação do território nacional, com a abertura dos eixos rodoviários que integraram o país e a semente de ocupação do Centro-Oeste com os alicerces de Brasília.

Criam-se assim as condições básicas para o início da grande evolução industrial com a ampliação da produção de aço, com o advento da indústria automotiva, com a conquista agrícola de novos espaços e um salto importante na importação de capitais. Acima de tudo, porém, a capacidade gerencial trazida por empresas de ponta na esteira de um progresso tecnológico no Brasil. A capacidade brasileira de empreender e a disposição para correr riscos canalizaram esses esforços para que a iniciativa privada ocupasse novos territórios na agricultura, na indústria, nos serviços e na capacitação profissional da mão de obra.

O PND do ministro Reis Velloso (1931-2019) deu um direcionamento aos esforços nacionais em busca de uma política equilibrada de substituição de importações, com abertura suficiente para uma participação internacional estimulante para o desenvolvimento nacional.

Passando aos dias de hoje, exportando 200 milhões de toneladas de grãos, viramos o segundo maior exportador mundial de commodities. E a passos acelerados, com a pesquisa da Embrapa, dos próprios empresários e das escolas agrícolas, como a Esalq, em cinco anos, devemos atingir a meta de 500 milhões de toneladas de grãos.

Isso sem abrir grandes novas áreas de cultivo e sem arranhar a Amazônia, usando apenas cerca de 8% de terras brasileiras, ainda fora das áreas de preservação.

Um milagre da engenhosidade, da força de trabalho e do agronegócio, cujos trabalhadores são assistidos pela seguridade social e amparados por registros em carteira profissional.

“Em 2020, vamos crescer mais de 2,8% e manter o rumo da economia sem invenções ou retrocessos em busca do tempo perdido.”

Ao voltar ao tema deste artigo, gostaria de lembrar um fato histórico. Há 40 anos, a indústria automobilística, o setor sucroalcooleiro e o governo federal concordaram que eu assinasse, pelo setor privado, o acordo que deu origem ao carro a álcool. Na ocasião, a produção de soja no Brasil era de 6 milhões de toneladas. Agora, miramos os 500 milhões. Se tivéssemos tido juízo na condução política de nosso país, o quarto lugar na economia mundial já estaria conquistado. Em 2020, vamos crescer mais de 2,8% e manter o rumo da economia sem invenções ou retrocessos em busca do tempo perdido.

Mario Garnero – Chairman do Grupo Garnero e presidente do Fórum das Américas

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