O Brasil pode se tornar uma potência agroambiental? Lideranças, marcas e empresas já perceberam que a capacidade da nossa agropecuária tropical de produzir com sustentabilidade é a nossa maior força junto a investidores e consumidores internos e externos. Cabe ao agro não só cumprir o código florestal à risca e bater recorde atrás de recorde de produção, mas a missão de atualizar a leitura das pessoas no Brasil e exterior e mostrar sua sustentabilidade. A agropecuária brasileira sustentável preserva a natureza e diminui o impacto sobre o clima, enquanto produz alimentos a preços competitivos.
O agro tornou-se símbolo do empreendedorismo. Um estudo do Instituto Millenium mostra que, entre 2011 e 2020, o setor apresentou um crescimento de 25,4%; a título de comparação, serviços cresceram 1,5%, a indústria -12,8% e PIB -1,2%. O setor responde por 25% dos empregos gerados no país, 26,6% do PIB e 50% das exportações em 2020. De acordo com o Ministério da Agricultura, o valor bruto da produção (VBP) agropecuária do Brasil (“da porteira para dentro”) deverá somar R$ 1,1 trilhão em 2021. Tudo isso preservando de 20 a 80% de suas propriedades, sendo responsáveis por cuidar, mantendo livre de fogo, caçadores e pescadores 25% de toda vegetação nativa existente no Brasil. São 218 milhões de hectares, que equivalem a R$ 3,1 trilhões.
Durante a crise sanitária que vivemos devido a pandemia, o setor conseguiu abastecer o mercado interno e externo, trazendo segurança alimentar ao nosso país e ao mundo.
A boa notícia é que o trabalho de excelência de pesquisadores e produtores rurais está começando a aparecer nos meios científicos, acadêmicos e também nas exportações do agronegócio para quase 200 países. Um importante relatório do Secretariado da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (United Nations Framework Convention on Climate Change – UNFCCC) cita o sistema integração lavoura pecuária floresta como responsável por contribuir com a segurança alimentar e o desenvolvimento socioeconômico; e a agricultura de precisão e a tecnologia baseada em ciência, que elevaram a produtividade e reduziram em 50% o preço dos alimentos, contribuindo com a segurança alimentar, o desenvolvimento sustentável e a renda dos agricultores.
De acordo com reportagem da Forbes, o Secretariado da UNFCCC destaca no texto que a produtividade brasileira aumentou 386% e a área agrícola apenas 83%, o que significa a preservação de 120 milhões de hectares de floresta. “A chave para isso foi o investimento do Brasil em políticas públicas relevantes e tecnologia de base científica”, diz o texto, ressaltando a promoção da agricultura, baseada na intensificação sustentável, a inovação tecnológica, a adaptação às mudanças climáticas e a conservação dos recursos naturais.
Diferente de Estados Unidos, Europa e China, que utilizam como matriz energética petróleo e carvão, o Brasil utiliza fontes renováveis. Marcos Fava Neves, professor das Faculdades de Administração da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto (FEA-RP USP) e da Fundação Getulio Vargas, destaca vários fatores na sustentabilidade do agro brasileiro. O primeiro é a porcentagem de energia renovável (energia hidráulica, biomassa, eólica e solar) na nossa matriz energética. O Brasil usa em sua matriz energética 45% de energia renovável, enquanto o restante do mundo 14%. Países como China, Rússia e EUA precisam comprar créditos de carbono e teremos a possibilidade de vender nossos créditos a eles.
O segundo fator é a porcentagem de utilização de biocombustíveis. Estamos entre os três maiores países em utilização de combustíveis renováveis, como o biodiesel e bioetanol, sendo 90% da produção de biocombustíveis brasileira certificada, dentro das normas do programa Renovabio. Outro aspecto é nossa cobertura de florestas nativas. Temos números invejáveis: 2/3 do nosso território coberto com vegetação nativa, quando comparamos o Brasil (66%), com a União Europeia (25%), China (17%) e EUA (13%) vemos a razão da ostensiva atenção sobre o nosso país. Não podemos minimizar os desafios na Amazônia, conflitos fundiários, extração ilegal de recursos naturais, insegurança jurídica e principalmente o desmatamento ilegal. É fundamental separar a agropecuária sustentável de práticas criminosas. A maioria esmagadora dos produtores rurais seguem o código florestal brasileiro, preservando de 20% a 80% da área de todas as propriedades, algo ímpar, que não existe em outros países do mundo.
O último fator são as inovações e tecnologias limpas, como ILPF, conversão de áreas degradadas, tratamento de resíduos, plantio direto, bioinsumos, controle biológico, agricultura de precisão, pecuária e agricultura de baixo carbono. O desenvolvimento de tecnologia e inovação resulta na utilização de menos água, maior produtividade em menor área e maior sustentabilidade.
Nossa posição como um dos grandes players mundiais depende de mudanças socioambientais, pois devido a interesses comerciais disfarçados como demandas ambientais internacionais, muitos concorrentes tentam barrar o avanço brasileiro.
A agropecuária brasileira está passando por uma revolução produtiva, é hora de comunicarmos isto para fora da porteira. O Brasil tem tudo para se tornar uma potência agroambiental, pois é capaz de conciliar produção e preservação ambiental.
Helen Jacintho é engenheira de alimentos por formação e trabalha há mais de 15 anos na Fazenda Continental, na Fazenda Regalito e no setor de seleção genética na Brahmânia Continental. Fez Business for Entrepreneurs na Universidade do Colorado e é juíza de morfologia pela ABCZ. Também estudou marketing e carreira no agronegócio. E-mail: [email protected].
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