Talvez você já tenha ouvido alguém falar que deixou de comer carne porque os gases expelidos pelo boi estão acabando com nosso planeta. Também ouvimos falar que o gado pode ser comparado aos veículos na liberação de gases de efeito estufa (GEE) e mudança climática. Proponho explorarmos juntos as razões pelas quais isto não é correto.
É um processo totalmente diferente da queima de combustíveis fósseis, derivados do petróleo e carvão mineral, realizada nos países industrializados, onde o carbono, que estava aprisionado há milhões de anos no subsolo, é jogado na atmosfera pela queima destes combustíveis, não havendo um ciclo natural para reciclagem deste carbono.
É um absurdo que seja repetido como verdade por países industrializados, que queimaram combustíveis fósseis por séculos – e ainda queimam –, que um dos grandes responsáveis pela mudança climática seja a pecuária. A opinião pública não pode ser manipulada e distraída das reais emissões e intenções.
No caso dos animais, o gado converte pasto e outras plantas, que têm pouco ou nenhum nutriente para os humanos, em proteína de alta qualidade e valor nutricional para as pessoas, enquanto aumenta a qualidade do nosso solo.
Ainda segundo o estudo, o balanço de carbono é uma ferramenta que permite apontar o potencial de neutralizar as emissões de gases de efeito estufa, além de prospectar sistemas de produção passíveis de receber créditos de carbono. De acordo com Patrícia, tem sido comum na pecuária registrar as emissões, mas o balanço entre o que a atividade emite e o que ela sequestra de carbono quase nunca é considerado. “Com a ferramenta do balanço, esse aporte de carbono é contabilizado e pode mostrar o diferencial da pecuária realizada a pasto, que além de manter o animal em seu habitat sem contenções, ainda traz o benefício do sequestro de carbono realizado pelo crescimento das pastagens.”
Isto é uma excelente notícia para o Brasil, pois 85% de nosso rebanho é criado a pasto. A adoção de sistemas de produção sustentáveis, com pastos regenerados, favorece a cadeia da pecuária brasileira, pois o mercado interno e principalmente externo, tem valorizado cada vez mais produtos com baixa pegada de carbono.
Para se ter uma ideia da importância econômica da pecuária de corte, dados da ABIEC (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes) mostram que o Brasil possui o maior rebanho bovino do mundo e é também o maior exportador mundial de carne bovina, movimentando R$ 747,05 bilhões, representando 10% do PIB total brasileiro em 2020.
Isto significa renda e empregos em todas as fases de produção: antes da porteira, nas fábricas e revendas de insumos, vacinas, ração; dentro da porteira, vaqueiros, veterinários, zootecnistas, consultores, caminhoneiros; e depois da porteira, no transporte, indústrias de processamento, distribuição, exportação e etc. Além da economia, o que está em jogo é a segurança alimentar do país, já que quase 80% do total da carne produzida no Brasil é consumida no mercado interno.
Nesta semana está acontecendo em Roma a pré-Cúpula dos Sistemas Alimentares das Nações Unidas (ONU), onde o Brasil e outros países da América do Sul tem se posicionado em defesa da produção sustentável de alimentos, principalmente da pecuária, na tentativa de blindar os produtores locais de críticas no âmbito ambiental, principalmente dos europeus.
Helen Jacintho é engenheira de alimentos por formação e trabalha há mais de 15 anos na Fazenda Continental, na Fazenda Regalito e no setor de seleção genética na Brahmânia Continental. Fez Business for Entrepreneurs na Universidade do Colorado e é juíza de morfologia pela ABCZ. Também estudou marketing e carreira no agronegócio. E-mail: helen@fazendacontinental.com.br.
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Siga Forbes Money no Telegram e tenha acesso a notícias do mercado financeiro em primeira mão
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.