Como a educação pode apresentar o agro para a nova geração

3 de setembro de 2021
SolStock/Getty Images

Precisamos mostrar à sociedade o que acontece antes e depois da porteira do agro com o objetivo de gerar oportunidade

Nossos alunos estão atualizados sobre o que acontece no campo? O agro tem caminhado a passos largos e devido a esta evolução tão dinâmica, apesar do esforço de educadores, tem sido difícil atualizar nossas crianças e jovens sobre as oportunidades, importância e real dimensão do setor. A cidade e o campo se distanciaram e os questionamentos da sociedade em relação à produção vêm deste processo de desconexão, que gera desconhecimento. O problema desta desconexão é fechar a porta para o setor, dínamo da nossa economia atualmente, a toda uma geração. Mas eu não venho aqui lamentar. Ouso propor que abramos juntos esta porta para aproximar nossos educadores e jovens do agro de verdade.

Todo mundo gosta de ser bom em algo e a agropecuária brasileira é referência, uma das melhores do mundo na produção sustentável de alimentos, fibras e biocombustíveis. Nosso agro é modelo de empreendedorismo, respeitado dentro e fora do país, exportando não só alimentos, mas também tecnologia e técnicas de cultivo sustentáveis.

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Nos últimos 40 anos, nosso país saiu de importador de alimentos básicos para ocupar o posto de um dos maiores produtores e exportadores de alimentos do mundo. De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a balança comercial das exportações brasileiras do agronegócio somou US $100,81 bilhões em 2020, representando 30% do PIB e empregando 20% da força de trabalho nacional. De acordo com Mariane Crespolini, diretora de Produção Sustentável do Ministério, a agropecuária brasileira assumiu um compromisso voluntário no enfrentamento à mudança do clima e os produtores contribuíram para mitigar 170 milhões de toneladas de CO2, 115% da meta estabelecida originalmente. O agro brasileiro é responsável por 1/4 de toda a área preservada no Brasil enquanto produz safras recordes. A produção agropecuária ocupa 30% do território nacional, área pequena quando comparada aos países europeus que utilizam de 45% a 65% de seus territórios.

Esta é a porta que podemos abrir para nossas crianças e jovens. Os alunos de hoje serão a próxima geração no mercado de trabalho. Conhecer e entender este setor pode lhes abrir um leque imenso de possibilidades profissionais.

Participei, neste último mês, de uma viagem ao coração pulsante do agro brasileiro no Mato Grosso com analistas educacionais do Sesi (Serviço Social da Indústria) e profissionais de uma das maiores editoras do Brasil, juntamente com a associação DOME (De Olho no Material Escolar) e Instituto Farmun. O objetivo era apresentar como funciona o agro de verdade.

O agro brasileiro é profundamente estratificado. Desta maneira, vivenciamos na prática múltiplas experiências: conhecer uma pequena produtora em um assentamento, que tira seu sustento da produção artesanal de queijos; visitar a produção de soja sustentável certificada, assim como áreas de integração lavoura e pecuária, agricultura de precisão e áreas de reflorestamento; e conhecer a maior usina produtora de etanol de milho da América Latina até chegar ao outro extremo da cadeia, visitando um dos maiores grupos agropecuários do mundo, uma operação que inclui algodão, soja, milho, biomassa, gado, armazenagem e logística.

Também tivemos a oportunidade de conhecer o trabalho de instituições como o CAT (Associação Amigos da Terra), Famato (Federação de Agricultura do Mato Grosso), IMEA (Instituto Mato Grossense de Economia Agropecuária), Senar (Serviço de Aprendizado Rural), AgriHub, UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso) e a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).

Pudemos observar nesta viagem que há espaço para quem gosta de exatas, humanas ou biológicas, infinitas oportunidades podem ser encontradas antes, dentro e depois da porteira.

Antes da porteira, as possibilidades se abrem desde o primeiro parafuso, na indústria de implementos, maquinários, passando por desenvolvimento de softwares e tecnologia de alta precisão – a digitalização do agro já é uma realidade. Toda a indústria antes da porteira de pesquisa, genética, sementes, adubos, bioinsumos, defensivos, medicamentos e a logística envolvendo estes insumos.

Dentro da porteira, as oportunidades são igualmente amplas: administradores, agrônomos, veterinários, zootecnistas, vaqueiros, pesquisadores, técnicos de segurança do trabalho, RH, compras, vendas, operadores de implementos, drones e por aí vai.

Depois da porteira, o agro ainda se estende por todo o setor de armazenamento, distribuição até o processamento, indústria, logística de distribuição ao consumidor nacional ou internacional, supermercados, restaurantes, caminhões, ferrovias, portos, tudo é agro!

De toda a cadeia, sabe o que mais chamou a atenção dos educadores? Que a todo momento, a rentabilidade das empresas caminhe junto com os bens mais preciosos: as pessoas, o meio ambiente e ligação com a terra.

Não se nega que existam problemas, o Brasil tem desafios ambientais e sociais, tanto no cenário rural como urbano. Por outro lado, é preciso esclarecer que a agropecuária responsável não é a vilã do meio ambiente. Produtores de excelência, que investem em mão de obra, tecnologia e sustentabilidade, não querem ilegalidades como incêndios e desmatamento ilegal em sua propriedade. Os jovens são o futuro desta agropecuária responsável, que é parte da solução do problema, promovendo sustentabilidade, inclusão de pessoas e geração de renda.

Proponho que as empresas incluam a educação como um de seus projetos, que possam alocar orçamento para isto e tragam os alunos para visitar ou levando profissionais às escolas. Precisamos mostrar à sociedade os dois lados da história com o objetivo de gerar oportunidade para as pessoas poderem trabalhar, criar suas famílias, se sustentar e trazer, com isso, o desenvolvimento do Brasil. Somente uma parte da história está sendo apresentada aos nossos jovens e o agro sustentável não se sente representado nela.

O Brasil é uma potência agroambiental, mas para gostar, é preciso conhecer.

Agradeço ao Sesi, Fiesp, Farmun, Agroligadas, CAT, Famato, Imea, AgriHub, Senar, Fazenda Nossa Sra da Amazônia, Fazenda Santana, Grupo Bom Futuro, Sítio Vila Láctea, INPASA, UFMT, EMBRAPA e a associação De Olho No Material Escolar pela oportunidade de vivenciar com vocês o agro de verdade.

Helen Jacintho é engenheira de alimentos por formação e trabalha há mais de 15 anos na Fazenda Continental, na Fazenda Regalito e no setor de seleção genética na Brahmânia Continental. Fez Business for Entrepreneurs na Universidade do Colorado e é juíza de morfologia pela ABCZ. Também estudou marketing e carreira no agronegócio. E-mail: helen@fazendacontinental.com.br.

Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.

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