Diretora comercial de um dos maiores grupos empresariais do Maranhão – que reúne construção, infraestrutura e logística, indústria e distribuição de aço, indústria de PVC e prestação de serviço – Val afirma não existir emoção maior em seu trabalho do que apertar a mão dos que adquirem um imóvel pela primeira vez. Por isso sua área de ação preferida são os empreendimentos de moradia popular, a chamada faixa “super econômica” do mercado imobiliário. “Poder sair do aluguel ou de uma situação habitacional precária é uma enorme conquista”, ressalta.
Val se lembra então de seus 19 anos, quando realizou o sonho da casa própria – financiado pela Caixa Econômica Federal. “Eu tinha chegado em São Luís havia dois anos, morava na casa de uma prima, trabalhava em uma concessionária de carros durante o dia e estudava a noite”, conta. Antes disso, porém, existe toda uma trajetória de superação.
Nascida em 1970, na pequena cidade de Lago do Junco – cerca de 300 quilômetros da capital e hoje com pouco mais de 10 mil habitantes – Val Paulino trabalhou dos oito aos 15 anos de idade como quebradora do coco babaçu. “Meu pai era pedreiro, éramos dez filhos e dormíamos todos os irmãos em um quarto só, em uma casa com chão de terra batida”, diz.
Extraído de uma palmeira nativa, o coco babaçu é utilizado na culinária, na produção de cosméticos, medicamentos e biocombustíveis. Apesar desse amplo aproveitamento, a colheita e a quebra do fruto é atividade de baixa remuneração que representa a base da renda de cerca de 300 mil pessoas no Maranhão – sendo 90% mulheres.
Através de um cliente da concessionária onde trabalhava, foi contratada pelo antigo Banco Mercantil de São Paulo, onde fez carreira como executiva, inclusive depois da instituição ser comprada pelo Bradesco.
A experiência no mercado financeiro foi fundamental depois que ela se casou e foi trabalhar na empresa da família. E o resto, como se diz, é história. De sucesso.
Val, no entanto, não se deslumbra com a prosperidade alcançada: “No escritório, em cima da minha mesa de trabalho, eu tenho um coco babaçu que é para não esquecer de onde eu vim. E para não deixar o Ter ficar maior do que o Ser”, arremata.
Brasil profundo
“A desigualdade social no meu estado é enorme. Para se ter uma ideia de como as coisas ainda são, eu só fui conhecer o saneamento básico – banheiro equipado com descarga – quando fui morar em São Luís. Televisão eu vi pela primeira vez aos 14 anos. Eu chegava a quebrar 20 quilos de coco babaçu por dia, mas recebia apenas dez. O resto ficava com o dono da propriedade.”
Agenda concorrida
A modelo descalça
“Sempre gostei muito de moda. Quando quebrava cocos, guardava um pouco de dinheiro para comprar tecido e fazer roupas novas. Agora, meus irmãos encontraram fotos dessa época e eu sempre apareço com roupas diferentes, mas sempre descalça. Não sei por que eu não usava sapatos. O engraçado é que hoje o que mais tenho no closet são sapatos.”
Educação acima de tudo
Retratos da vida
“Estou muito contente porque agora sou colunista de viagens na ‘Revista Cidade Jardim’. Adoro viajar! E também comecei a escrever meu livro de memórias, para lançar no ano que vem. Com isso estou recuperando várias histórias da minha vida. Como quando era criança, acordei com febre e vi entrar a luz do Sol por uma fresta no telhado, junto com um monte de poeira. Pensei: ‘Esse é o pozinho que Deus está jogando em mim para eu poder ir onde eu quiser’.”
Amém!
“Não sei se alcancei o sucesso… Minha vida é step by step, um degrau a cada dia. O que eu faço é orar muito, meditar muito… e agradecer a Deus por tantas oportunidades recebidas.”
Donata Meirelles é consultora de estilo e atua há 30 anos no mundo da moda e do lifestyle.
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Siga Forbes Money no Telegram e tenha acesso a notícias do mercado financeiro em primeira mão
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.