Cor e coragem: Valentino pink & black
Rosa Valentino é o nome do tom exclusivo criado pela marca em parceria com a Pantone – a produtora de cores para a indústria gráfica. O rosa chocante se espalhou por todo o desfile: no convite, no cenário, nos assentos e em 40 dos 82 looks apresentados. Os outros 42 eram pretos, pretíssimos. Pierpaolo Piccioli, o diretor criativo, optou pela coleção bicromática para destacar seu repertório de estilo: alfaiataria afiada, decotes sinuosos, crinolinas cônicas, transparências, rendas, aplicações e plumas sublimes. Tudo sobre tênis sólidos e plataformas maciças. No início da apresentação, a voz do estilista ecoou: “Resistimos do jeito que sabemos, trabalhando”, em referência à Guerra da Ucrânia.
Espartilho é poder: Christian Dior
Maria Grazia Chiuri subverteu um antigo símbolo de opressão feminina, o espartilho. Para a diretora criativa da maison Dior, ele agora não marca apenas cintura e quadris – a silhueta chave da grife desde seu nascimento no século passado – mas sinaliza proteção e força. Hi-tech e maleável, ele empodera o trench-coat, aparece como cinto e celebra a icônica jaqueta Bar. Em uma camiseta, Maria Grazia estampou “The Next Era” e declarou que sua coleção é a “renúncia e ressignificação da mulher objetificada pelos velhos mestres da moda”.
O esporte como segunda pele: Hermès
O tweed nosso de todo dia: Chanel
Tweed, tweed e mais tweed. O material fetiche de Mademoiselle produzido na Escócia foi a base e referência da nova coleção da marca para a temporada. Tanto na alfaiataria clássica quanto em maxi-jaquetas e maxi-casacos para lembrar as apropriações do guarda-roupa masculino que Chanel fazia desde sempre. A coleção foi inspirada no período em que Mademoiselle vivia um romance com o Duque de Westminster e frequentava a propriedade escocesa dele, em Lochmore. Fotos da época mostram a estilista feliz da vida, usando os mantôs de tweed e as botas de borracha – outro highlight da coleção – do namorado milionário. A estilista Virginie Viard temperou tudo com acessórios vibrantes em um colorido pop porque, segundo ela, a ideia são roupas para caminhar nas ruas, ir para o trabalho e se divertir em boa companhia. Uma viagem meio ladylike e meio influenciadora digital.
A juventude no museu: Louis Vuitton
Apenas a melhor locação da temporada. Nicolas Ghesquière mostrou pela primeira vez um desfile entre as obras de arte do Museu D’Orsay. O imponente relógio da antiga estação de trem deu o tom da apresentação: jovens de ontem – grunges– e de hoje – a geração Tik-Toker – reunidos para celebrar e misturar a jovialidade fashion. Gravatas clássicas desmontadas, silhueta oversize, malhas amarradas na cintura, peças agênero, cartela de cores vivas e tênis, muitos tênis. O tempo não pára, nem a moda.
O superpoder da Balmain
Olivier Rousteing é sempre um acontecimento. Astro absoluto das redes sociais, ele se pronunciou contra a Guerra da Ucrânia antes da sua apresentação para a maison Balmain, se posicionando pela “união, solidariedade, o poder da esperança e da verdade”, e contra “o ódio, as mentiras e a agressão”. Na sequência, mostrou um desfile com mis-en-scene tribal, cheio de referências de proteção e segurança, para todas as cores, todos os gêneros e todos os corpos. Como se estivesse vestindo um filme da Marvel. Sem esquecer o que sabe fazer melhor: atual, sedutor e totalmente luxuoso. Para cima e avante!
Cor local, consciência global: Chloé
Gatas de botas: Isabel Marant
Botas foram estrelas na temporada Inverno 2022. Mas nenhuma tão naturalmente sexy como as das garotas na passarela de Isabel Marant. Cano longuíssimo – acima dos joelhos – para o dia e para a noite, combinadas com vestidos suéteres e maxi casacos. Sempre de olho no que vem por aí, Isabel também apostou nos jeans baggy – alô, anos 1980 – e nas calças cargo, amplas e confortáveis. Utilitárias, mas sem perder o estilo jamais.
Brilho inabalável: Elie Saab
O estilista libanês – que em breve chega ao mercado brasileiro – declarou ter enfrentado a pandemia, uma explosão catastrófica que destruiu boa parte de sua cidade, Beirute, e agora vê uma nova guerra no mundo. Mesmo assim, não abre mão de estilo maximalista pronto para qualquer festa. A ideia é fazer as mulheres brilharem sob as mais diversas condições de temperatura e pressão. No momento, isso significa bomber jackets e trench coats coruscantes. Com uma pitada minimalista nos vestidos coloridos com decotes e recortes amebas… emoldurados em dourado. O moral está sempre elevado chez Saab.
O foulard rebelde: Giambattista Valli
Também estreando no Brasil, o estilista italiano elegeu a rebeldia das parisienses – pense nas manifestações estudantis de maio de 1968 – como tema do inverno 2022. Os vestidos são mini e o trench coat é o melhor abrigo, como ensinava Saint Laurent na época. Há peças estruturadas, como dos futuristas André Courrèges e Pierre Cardin. E a provocação dos espartilhos cortados como um decote em V. A assinatura da época, entretanto, fica por conta do foulard amarrado no pescoço, que Valli diz ter visto na modelo de uma foto feita pelo icônico Henri Cartier-Bresson em plenos anos 1960. Mais parisiense, impossível.
Donata Meirelles é consultora de estilo e atua há 30 anos no mundo da moda e do lifestyle.
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